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I Encontro dos Antigos Alunos da Escola Industrial e Comercial Fernando Caldeira

1946 - 1971

 

Repercussões na Imprensa da época


- "Primeiro de Janeiro" 02/08/1971
-
"Século" – 04/08/1971
-
Lutador” – 27/08/1971
-Correio do Vouga” – 27/08/1971
- Comércio do Porto” – 04/09/1971
- "Comércio do Porto” — 07/09/1971

- “Comércio do Porto” – 08/09/1971
-
O Primeiro de Janeiro” – 08/09/1971
- “O Primeiro de Janeiro” — 08/09/1971
- “Jornal de Notícias" –
10/09/1971
-
Lutador” – Aveiro, 10/9/1971
- Correio do Vouga" – Aveiro, 10/9/1971
- "Litoral"
11/09/1971

“Jornal de Notícias ” — 10/09/1971

 

AVEIRO

CONFRATERNIZARAM ANTIGOS ALUNOS DA ESCOLA FERNANDO CALDEIRA

 

Cento e setenta antigos alunos e professores que frequentaram a Escola Industrial e Comercial Fernando Caldeira, em Aveiro, desde a sua fundação até ao ano de 1946, portanto 25 anos depois, reuniram-se anteontem nesta cidade, numa jornada de confraternização e companheirismo, o que aconteceu pela primeira vez.

O programa comemorativo começou com a concentração no Largo de José Estêvão, seguida de recepção de boas-vindas aos antigos professores e alunos. No salão dos Serviços Culturais da Câmara Municipal, realizou-se uma curta sessão, presidida pelo Sr. Dr. Artur Alves Moreira, ladeado pelos Srs. Dr. Júlio Augusto Cardoso, último director daquela escola; Dr. Manuel Marques Damas, como professor que mais tempo lá leccionou — 35 anos; e pelos alunos (o mais antigo e o mais novo) que a frequentaram, respectivamente, srs, tenente Leonardo Campos de Almeida e José Lourinho Ferreira.

Com a sua palavra eloquente e objectiva, o Sr. Dr. David Cristo, na sua qualidade de antigo aluno — também seria professor — recordou a vida daquele estabelecimento, professores ilustres que o serviram e tantos e tantos alunos que o frequentaram, muitos dos quais já desapareceram do nosso convívio. Os professores Romão Júnior, Fernando Caldeira, Silva Rocha, Agostinho da Silva, José Pereira Tavares, Marques da Silva e Manuel Marques Damas mereceram do orador, seguidamente, referências especiais, vivamente aplaudidas.

O presidente do Município, convidado pela organização para se associar àquela confraternização, teve palavras de júbilo e de saudação pela jornada altamente expressiva levada a efeito.

Finda a cerimónia de cumprimentos e de boas-vindas, no átrio da antiga escola o Dr. Manuel Marques Damas, no seu jeito gracioso, deu uma aula simbólica. No quadro estava escrito o significativo sumário da lição «O bom filho à casa torna». O Sr. Dr. Damas aproveitou para recordar os mortos e saudar os vivos. A chamada pela sua estimada caderneta, ilustrada com fotografias, foi feita ali mesmo. Muitos dos alunos já não puderam responder.

 

Exortação à mocidade

De recordação em recordação, com uma lágrima a bailar neste naquele rosto, o professor foi recordando aos seus alunos facetas de toda uma vida dedicada ao ensino. A dado trecho, pediu ao professor Hernâni Moreira da Silva para ler a seguinte mensagem de exortação à mocidade: «Lembrai-vos, mais tarde, de que a maior riqueza que ganhastes na vida, a adquiristes nesta casa. As coisas — todas as coisas, notai-o bem — que, dia a dia, aqui ides aprendendo, são obra de muitas gerações que vos antecede, obra por sinal trabalhada em muitos países do Mundo (os chamados civilizados), e à custa de muitos sacrifícios e entusiasmos, uns e outros regados, tantas vezes, de lágrimas dolorosas!...».

«Tudo se deposita nas vossas mãos, e à vossa guarda fica como herança sagrada que tendes o dever de transmitir aos vossos filhos, tão aperfeiçoada quanto o tempo vo-lo permitir e o espaço vo-lo consentir, pois tudo é obra criada em comum, e quase tudo o que é criado em comum tem direito, se não à eternidade, que nada no mundo é eterno, pelo menos a uma posteridade longa e quase sem limites...

«Se fixardes isto mesmo na vossa memória, é porque encontrastes algum sentido na vida e um rumo que vos conduzirá a porto seguro... Se não, o mal será todo vosso, porque vós tendes criado uma vida sem rumo; e as vidas sem rumo nem se projectam no futuro nem se casam no presente!...

«Depois... sede justos e bons: bons filhos, bons irmãos, bons amigos, para que possais vir a ser bons cidadãos.

Quando por qualquer motivo vos sentirdes tentados a trilhar má senda, arrepiai caminho, e trilhai o da dignidade, da honra de do trabalho!...

«Finalmente, sede alegres, mas ordeiros, alegres mas de uma alegria sã e digna, e acima de tudo, e em tudo... sede Homens!

Em seguida foi colocada uma fita no estandarte da antiga escola pela Sr.ª D. Maria João Salgado Henriques.

As cerimónias prosseguiram com a celebração de uma missa de sufrágio pelos professores e alunos falecidos, presidida pelo ver. padre António de Oliveira e, depois, com uma romagem ao Cemitério Central. Aí foi guardado um minuto de silêncio e a Sr.ª D. Marília Matias aproveitou para colocar no obelisco existente a meio do cemitério um ramo de flores, em homenagem a todos quantos repousam em paz.

Na Escola lndustrial e Comercial de Aveiro, efectuou-se, posteriormente, uma cerimónia de cumprimentos ao actual director, Sr. Dr, Amadeu Cachim, seguida de uma visita às instalações. AIi falaram, o Sr. Artur Casimiro, pela comissão organizadora da reunião e o Sr. Dr. Amadeu Cachim, que agradeceu a honrosa visita de tão nóbil representação. Associou-se a estas cerimónias a Banda do Internato Distrital, que lhe emprestou ainda um maior ambiente festivo, tocando algumas marchas do seu vasto reportório.

Nova etapa no programa. Professores e alunos tomaram lugar em autocarros da Auto-Viação Aveirense, postos graciosamente à disposição pelo gerente daquela conceituada empresa, o nosso bom amigo e colaborador assíduo, Sr. Gilberto Nunes.

 

Pedida uma secção da Faculdade de Economia

A jornada festiva terminou com um almoço no Hotel Imperial. Novas manifestações de saudade e de companheirismo se registaram. Aos brindes, muitos foram os oradores que fizeram ouvir a sua voz. O Sr. João Maria dos Santos Batel, começou por ler o expediente recebido, quer da Metrópole, quer das mais longínquas parcelas do território português espalhadas pelo Mundo. Numa das mensagens recebidas, o antigo professor da Escola Fernando Caldeira, Sr. Dr. Agostinho de Sousa, sugeria que em Aveiro fosse dado a um dos seus arruamentos o nome do professor Silva Rocha, que fora insigne director daquele estabelecimento na primeira metade do século.

Falaram em seguida o Sr. José Soares, da comissão promotora; e os antigos alunos, Srs. Tiago Ribeiro, D. Maria da Conceição Gamelas, Carlos Mendes, Dr. David Cristo, eng.º Sigesmundo Pereira de Lima, antigo director da Escola Comercial de Braga; José Pinheiro Palpista; Dr. Marques da Silva, antigo professor; os Srs. Carlos Manuel Gamelas, Álvaro de Melo Albino e José Bilelo Rodrigues, como antigos alunos; o Sr. Dr. Júlio Meira Coelho, antigo professor e actual director da Escola Industrial e Comercial da Figueira da Foz; os srs. Adeneu Rigueira e Sr. Sebastião Dias Marques, antigos alunos; os srs. Drs. Manuel Marques Damas e Amadeu Cachim e, por último, o presidente da Câmara Municipal de Aveiro.

Ao usar tia palavra, o Sr. Carlos Gamelas sugeriu que fosse enviado um telegrama ao ministro da Educação a agradecer a oficialização do Instituto Médio do Comércio de Aveiro e, simultaneamente, a pedir a criação de uma secção da Faculdade de Economia, sugestão que mereceu os melhores aplausos.

O Sr. Dr. Amadeu Cachim pediu para que o actual presidente da Câmara Municipal fosse considerado aluno honorário da Escola Industrial e Comercial de Aveiro, pelo seu alto contributo dado à causa do ensino.

O Sr. Dr. Sebastião Marques lembrando também a necessidade de se dar a Aveiro uma secção da Faculdade de Economia, elemento básico e continuador do Instituto Médio do Comércio, sugeriu que seja levada para a frente a criação da Associação dos Antigos Alunos.

Ao encerrar a sessão, o Sr. Dr. Artur Alves Moreira, congratulando-se uma vez mais pela efectivação da jornada de confraternização levada a cabo por antigos alunos da Escola Fernando Caldeira disse, a finalizar, estar nos propósitos camarários dar à cidade nomes de figuras Ilustres que devotamente a serviram e engrandeceram.

 

Duas petições da comissão organizadora

A comissão promotora do encontro elaborou um escrito com duas petições: a primeira visa a colocação da bandeira da antiga escola nas instalações onde funcionou como repositório de arte barrística aveirense de seiscentos e setecentos, logo, no lugar ideal e a que tem direito como baluarte de viárias gerações.

A segunda petição é dirigida à mesa da Santa Casa da Misericórdia para que retome, sem demora, os trabalhos de restauro dos preciosos edifícios, para que a cidade possa vir a ter um núcleo de estética e de estudo (para o qual já se registam generosas promessas de gratuitas e estimáveis contribuições).

 


“Lutador” - Aveiro, 10 de Setembro de 1971

 

Encontro dos Antigos Alunos da Escola Fernando Caldeira

 

A família escolar — alunos e professores — que estiveram ligados à velha Escola Industrial e Comercial de Fernando Caldeira, de Aveiro, no período de 1914 a 1946, reuniram-se no último domingo em jornada de confraternização.

Foram cerca de 200 os participantes no I Encontro, iniciado com uma sessão solene no salão cultural da Câmara Municipal, durante a qual o Dr. David Cristo, antigo aluno e professor da Escola proferiu uma magistral conferência para evocar os principais passos da já longa existência daquele estabelecimento de formação técnica e profissional. Nas suas primeiras palavras o orador afirmou que os presentes se reuniam por um impulso de alegria, mas a recordação de acontecimentos vividos não podiam impedir que furtivas lágrimas bailassem nos olhos de quantos aqui vieram.

A região muito deve à velha Escola, em vésperas de completar os 78 anos, pois a ela recorreram industriais e comerciantes, organismos e entidades, carecidas de estruturarem os seus quadros ou preencherem vagas com elementos válidos. O desenvolvimento e o progresso de Aveiro não seria hoje uma realidade sem essa colaboração.

A estatura moral e intelectual do patrono da Escola — Fernando Caldeira — foi recordado em toda a sua dimensão, como exemplo que importa apontar à meditação da juventude escolar.

A terminar, o conferencista envolveu na mesma saudação os velhos professores e mestres, alguns dos quais se associaram a este convívio, bem como o Presidente da Câmara, pelo seu contributo na valorização da terra em que vivemos.

Encerrou a sessão o Dr. Artur Alves Moreira, que havia presidido à mesma, para manifestar o seu apreço pela jornada, tão altamente expressiva, a que gostosamente assistia. A Comissão Organizadora e os antigos e actuais professores mereceram do Presidente da Câmara os mais vivos encómios. Nas suas últimas palavras foi distinguido elogiosamente o trabalho do orador Dr. David Cristo.

No átrio da antiga Escola, agora restaurado pela Misericórdia, o professor jubilado, Dr. Manuel Marques Damas, apresentou uma entusiástica lição, escutada com o maior interesse. Algumas publicações da sua autoria foram distribuídas aos antigos alunos.

A bandeira da Escola foi distinguida com uma fita pela antiga aluna, D. Maria João Henriques.

A Santa Missa, celebrada na Igreja da Misericórdia pelo professor Padre António de Oliveira, bem como a romagem ao Cemitério Central, constituíram comoventes actos de homenagens aos alunos e mestres falecidos.

A manhã terminou com uma visita ao novo edifício da Escola, que serviu de pretexto para o antigo aluno, Artur Casimiro, saudar o Director daquele estabelecimento (Continua na página 3). O Dr. Amadeu Cachim agradeceu esta romagem de saudade, que para ele tem particular significado. Recordou a «Escola» da primeira metade do século, em que o professor se integrava numa família, de que era o chefe e através da qual se cuidava da formação moral e tecnológica.

A seguir, os antigos alunos visitaram as instalações escolares, tendo-se feito ouvir no decorrer da visita a Banda de Música do Internato Distrital, cujos executantes são, em grande parte, alunos da Escola em festa.

O programa do «encontro» terminou com um almoço, durante o qual se pronunciaram afirmações da maior confiança e fé no futuro.

Algumas cartas e telegramas foram lidos, quer de professores, quer de alunos, que radicados nas mais distantes parcelas da Metrópole e do Ultramar não esqueceram os seus camaradas reunidos. Numa das missivas foi sugerido o nome do antigo professar Dr. Agostinho de Sousa, para patrono de uma das artérias citadinas.

O Presidente da Comissão Organizadora, José Fernando Rodrigues Soares, leu um escrito, através do qual foram formuladas duas petições, do maior interesse, e que noutro local damos à estampa.

Parafraseando o dito de um famoso cabo-de-guerra, o orador referiu que «nunca tão poucos foram tantos», dado o calor e o entusiasmo das duas centenas de antigos alunos que tão bem representam todos quantos, ao longo dos anos, se formaram na escola comum.

Outro antigo aluno, Tiago Ribeiro, recordou a obra docente dos irmãos Aleluia, enquanto a D. Maria da Conceição Gamelas leu algumas poesias, alusivas a actos da vida escolar do Dr. Marques Damas.

Carlos Mendes e o Dr. David Cristo evocaram figuras que ao ensino da Escola deram o melhor do seu saber e entusiasmo, quer os que regeram as diversas disciplinas, quer mesmo os mais modestos funcionários, todos eles irmanados no mesmo desejo: servir devotadamente. O Dr. Alberto Souto, Armando Madail, irmãos Aleluia e Franciscoda Silva Rocha, entre os primeiros, e João Mota, José Pinheiro e Aurora, entre os últimos.

O eng.º Lima Segismundo, antigo director da Escola Industrial e Comercial de Braga trouxe também o abraço da sua terra natal, à gémea Aveiro.

E muitos outros oradores que estiveram ligados à Escola trouxeram o testemunho da saudade e da gratidão. Foram eles o funcionário José Pinheiro, os alunos Carlos Gamelas, Álvaro de Melo Albino, José Bilelo Rodrigues, Edneu Rigueira, Dr. Sebastião Marques, e os professores Dr. Mira Coelho e Dr. Marques Damas.

O Presidente da Câmara Municipal afirmou não estar ali como um adventício, mas sim como um aveirense que se associa à alegria de quantos comungam nesta festa de família, quer ainda como representante do município e natural desta terra.

Os nomes aqui memorados serão oportunamente recordados em artérias aveirenses.

Congratulo-me com a oficialização do Instituto Comercial, por cuja criação tanto pugnei na tribuna da Assembleia Nacional, e pela qual a edilidade lutou e sustentou até, na fase

final, o estabelecimento particular que durante alguns anos formou técnicos e profissionais aptos.

É mais um estímulo para mim a direcção desta comunidade que, embora constitua árdua tarefa, contribui para a valorização desta terra.

O Dr. Amadeu Cachim, Director da Escola, referiu-se ao prestígio desta no panorama citadino e regional, exaltando a acção do Presidente da Câmara na valorização do Ensino Técnico, pelo que propunha aos presentes fosse considerado membro honorário da família escolar, gesto que foi entusiasticamente aplaudido.

Nas suas intervenções o Dr. Sebastião Marques e Carlos Gamelas sugeriram que se envidassem esforços pela urgente criação em Aveiro do Instituto Politécnico, e num futuro próximo uma Faculdade de Economia, prolongamento do actual Instituto Comercial.

A aprovação dos estatutos da Associação dos Antigos Alunos, e a sua entrada em vigor,

como remate desta magnífica jornada de camaradagem, foram votos que traduziram o sentir de todos os presentes.

Foi ainda sugerido o envio de telegramas ao Ministro da Educação Nacional e ao Chefe do Distrito, que passamos a reproduzir:

 

Para o Ministro da Educação Nacional:

«Centenas alunos frequentaram Escola Industrial Comercial Fernando Caldeira Aveiro

desde fundação até há um quarto de século reunidos último domingo nesta cidade saúdam respeitosamente Vossa Excelência e agradecem empenho já posto definitiva criação Instituto Comercial Aveiro esperando confiadamente diligências oportuna criação ansiado Instituto Politécnico utilíssimo região aveirense presentemente franco progresso económico».

Para o Governador Civil:

«Antigos alunos Escola Industrial e Comercial Fernando Caldeira reunidos último domingo cumprimentam respeitosamente Chefe Distrito e Aveirense Doutor Vale Guimarães esperando confiadamente continuidade empenho junto Ilustre Ministro Educação Nacional a quem acabam telegrafar criação ansiado Instituto Politécnico.»

 

A tarde, que fora escaldante começava já a apagar-se quando os últimos convivas retiraram desta inolvidável jornada de confraternização, marco alto na vida escolar e citadina.

 


“Correio do Vouga” — 10/09/1971

 

Escola de Fernando Caldeira

REUNIÃO DE ANTIGOS ALUNOS E PROFESSORES

 

Foi uma jornada memorável a que, no último domingo, congregou nesta cidade cerca de duas centenas de alunos e professores da antiga Escola Industrial e Comercial de Fernando Caldeira — muitos dos que a frequentaram e alguns dos que nela foram professores e mestres desde a fundação, em 1914, até 1946. Horas alegres, felizes, de intensa saudade, a recordar nomes e factos; ensejo para se darem sugestões e lançarem iniciativas; abraços de fraternal amizade, manifestações de gratidão — mil coisas que vieram à flor dos olhos e da alma, com sua legenda de palavras sentidas e eloquentes, com sua expressão para o futuro.

O primeiro acto foi a concentração na Praça da República, mesmo ao lado do antigo e principal edifício da Rua da Costeira e à volta da estátua de José Estêvão. Logo a seguir, sessão de boas-vindas no Salão Cultural da Câmara Municipal. Na presidência, o Dr. Artur Alves Moreira, Presidente do Município, ladeado pelo Prof. Júlio Augusto Cardoso, último Director da Escola de Fernando Caldeira; Dr. Manuel Marques Damas, professor com mais tempo de serviço; e Tenente Leonardo Campos de Almeida e José Lourinho, respectivamente: o aluno mais antigo e o aluno mais novo.

Foi do Dr. David Cristo a palavra de saudação. Como antigo aluno e professor, fez a história do estabelecimento ao longo, dos anos; traçou a biografia de Fernando Caldeira, seu patrono, e evocou nomes de muitos que ficaram indelevelmente ligados à vida da velha escola.

O Presidente da Câmara, ao encerrar a sessão, disse breves palavras: de congratulação pelo encontro, altamente expressivo; de felicitações aos seus organizadores; de saudação aos antigos e actuais professores e alunos e ainda ao orador.

 

UMA AULA SIMBÓLICA PELO DR. MARQUES DAMAS

No átrio do edifício contíguo à igreja da Misericórdia, onde se realizam importantes obras de restauro e integração na traça primitiva, o Dr. Manuel Marques Damas deu uma aula simbólica. Mesmo ao saudar a todos, não esqueceu o seu conhecido e tradicional humorismo; contou episódios passados com alguns dos presentes, aos quais ofereceu exemplares de obras suas; e, principalmente, deixou-lhes um veemente apelo: «Sede alegres, mas ordeiros; alegres, mas de uma alegria sã e digna e, acima de tudo e em tudo, SEDE HOMENS». Só para ouvir esta palavra e, mais ainda, para procurar pô-la em prática, valia a pena ter promovido o feliz encontro.

 

MISSA DE SUFRÁGIO

Terminada a aula ao toque da sineta, como principiara, o antigo e actual professor, Padre António Augusto de Oliveira, celebrou missa na igreja da Misericórdia, em sufrágio das almas de professores e alunos. Após as leituras, feitas pelo antigo aluno Herculano de Almeida e Silva e pelo actual Director, Dr. Amadeu Cachim, aquele sacerdote proferiu homilia adequada sobre o sentido da simpática reunião e deixando também um apelo para que todos fossem fiéis ao que de bom aprenderam nas aulas durante o tempo de estudantes.

Depois da celebração da Eucaristia, professores e alunos, já com a presença da Banda do Internato Distrital, foram em romagem ao Cemitério Central e apresentaram cumprimentos ao Director da Escola, Dr. Amadeu Cachim, no actual edifício.

 

A BANDEIRA DA VELHA ESCOLA

O almoço de convívio decorreu no Hotel Imperial, em ambiente de franca e saudável camaradagem. O antigo aluno João Batel deu conta de numerosas mensagens recebidas. Em nome da Comissão Executiva, José Soares apresentou um expressivo texto com a formulação de dois pedidos de grande significado. Refere-se o primeiro à bandeira da antiga Escola. Pelo que foi e pelo que é como símbolo unificador e inspirador, deveria ficar, como perene evocação, nesse edifício. «Ficaria bem ali, naquele ímpar conjunto arquitectónico, escrupulosamente restituído estética e historicamente à sua traça inicial /.../ Ficaria bem ali, no ambiente, que se preconiza, da vasta mostra da obra inconfundível dos barristas aveirenses de seiscentos e setecentos, e junto dos mimos de arte que nos legou a fé dos nossos avós. Ficaria bem, ali, a nossa bandeira vivendo precisamente onde nasceu».

 

DE ESCOLA A MUSEU

A comissão do encontro fez ainda outro pedido. Nestes termos: «A mais, porém, nos atrevemos: solicitar à digna Mesa da Santa Casa de Aveiro — à qual, desde já, endereçamos os nossos agradecimentos pela gentil cedência do pátio da Misericórdia para a lição evocativa desta inolvidável manhã — que retome sem mais demoras, os trabalhos de restauro dos preciosos edifícios. E fazemos este pedido na plena certeza de interpretar os sentimentos e desejos de todos os aveirenses que anseiam por ver ali, em pleno coração da cidade, um núcIeo de estética e de estudo (para o qual já se registam generosas promessas de gratuitas e inestimáveis contribuições); aveirenses que, por outro lado (a não serem rápidas as diligências da Santa Casa na preservação e defesa do que, sendo seu, poderá aproveitar a todos), justificadamente receiam que tão auspiciosas esperanças de Aveiro se escoem e se deteriorem ingloriamente, como coisa fútil atirada às águas da nossa Ria, para irremediavelmente se perderem no mar — onde, por vezes, naufragaram tantas negligenciadas riquezas...».

 

OUTRAS LEMBRANÇAS, OUTRAS INICIATIVAS

Depois falaram: Tiago Ribeiro, D. Maria da Conceição Gamelas (que recitou versos de homenagem ao Dr. Marques Damas), o Presidente do Grémio do Comércio de Aveiro, Dr. David Cristo, José Pinheiro Palpista e o antigo Director da Escola Industrial de Braga.

O industrial Carlos Manuel GameIas pôs em relevo o valor económico do distrito de Aveiro no conjunto nacional, agradeceu ao Presidente da Câmara todo o carinho que tem consagrado ao sector do ensino técnico e pediu que se continuem os esforços para que sejam criados estudos técnicos superiores, alvitrando mesmo a criação de uma Faculdade de Economia.

Outros oradores se seguirem: Álvaro de Melo Albino, José BileIo, Dr. Júlio de Mira Coelho e Edmeu Rigueira (a lembrar que já em tempos se pensou fundar no Porto uma Casa de Aveiro, visto serem muitos os aveirenses ali radicados).

Secundando as afirmações de Carlos Gamelas, o Dr. Sebastião Dias Marques apelou para que o Presidente da Câmara prossiga os seus trabalhos para que do ensino técnico se passe para o ensino superior e lembrou também a Faculdade de Economia. Sugeriu depois que se crie a Associação dos Antigos Alunos da Escola Fernando Caldeira.

Voltaram ainda a usar da palavra os Drs. Marques Damas e David Cristo e José Soares.

Respondendo aos apelos formulados, o Presidente da Câmara anunciou que foi criada, em Aveiro, por portaria a publicar em breve, uma secção do Instituto Comercial, dependente, por enquanto, do Porto. E prosseguem as diligências — disse — para que seja também criado o Instituto Industrial, sem esquecer a Faculdade de Economia.

Falou, por fim, o actual Director da Escola Técnica, propondo que fosse enviado telegrama ao Ministro da Educação Nacional e que o Dr. Alves Moreira fosse nomeado sócio honorário da Escola.

 

TELEGRAMAS

Ao Ministro da Educação Nacional: Centenas alunos frequentaram Escolas Industrial Comercial Fernando Caldeira Aveiro desde fundação até há um quarto de século reunidas último domingo nesta cidade saúdam respeitosamente Vossa Excelência e agradecem empenho já posto definitiva criação Instituto Comercial Aveiro esperando confiadamente diligências oportunas criação ansiado Instituto Politécnico utilíssimo região aveirense presentemente franco progresso económico.

Ao Governador Civil de Aveiro: Antigos alunos Escola Industrial e Comercial Fernando Caldeira reunidos último domingo cumprimentam respeitosamente Chefe Distrito e Aveirense Doutor Vale Guimarães esperando confiadamente continuidade empenho junto Ilustre Ministro Educação Nacional a quem acabam telegrafar, criação ansiado Instituto Politécnico.

 

COMISSÃO ORGANIZADORA

A comissão organizadora deste encontro foi composta por Artur Casimiro da Silva, João dos Santos Batel, António Barreto Martins e José Soares.

 

 

- "Primeiro de Janeiro" 02/08/1971
-
"Século" – 04/08/1971
-
Lutador” – 27/08/1971
-Correio do Vouga” – 27/08/1971
- Comércio do Porto” – 04/09/1971
- "Comércio do Porto” — 07/09/1971

- “Comércio do Porto” – 08/09/1971
-
O Primeiro de Janeiro” – 08/09/1971
- “O Primeiro de Janeiro” — 08/09/1971
- “Jornal de Notícias" –
10/09/1971
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Lutador” – Aveiro, 10/9/1971
- Correio do Vouga" – Aveiro, 10/9/1971
- "Litoral"
11/09/1971
 

Colaboração
Artur Casimiro da Silva

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19-06-2018