“Jornal de Notícias ” — 10/09/1971
AVEIRO
CONFRATERNIZARAM ANTIGOS ALUNOS DA ESCOLA FERNANDO CALDEIRA
Cento e setenta antigos alunos e
professores que frequentaram a Escola Industrial e Comercial Fernando
Caldeira, em Aveiro, desde a sua fundação até ao ano de 1946, portanto
25 anos depois, reuniram-se anteontem nesta cidade, numa jornada de
confraternização e companheirismo, o que aconteceu pela primeira vez.
O programa comemorativo começou com a
concentração no Largo de José Estêvão, seguida de recepção de
boas-vindas aos antigos professores e alunos. No salão dos Serviços
Culturais da Câmara Municipal, realizou-se uma curta sessão, presidida
pelo Sr. Dr. Artur Alves Moreira, ladeado pelos Srs. Dr. Júlio Augusto
Cardoso, último director daquela escola; Dr. Manuel Marques Damas, como
professor que mais tempo lá leccionou — 35 anos; e pelos alunos (o mais
antigo e o mais novo) que a frequentaram, respectivamente, srs, tenente
Leonardo Campos de Almeida e José Lourinho Ferreira.
Com a sua palavra eloquente e objectiva,
o Sr. Dr. David Cristo, na sua qualidade de antigo aluno — também seria
professor — recordou a vida daquele estabelecimento, professores
ilustres que o serviram e tantos e tantos alunos que o frequentaram,
muitos dos quais já desapareceram do nosso convívio. Os professores
Romão Júnior, Fernando Caldeira, Silva Rocha, Agostinho da Silva, José
Pereira Tavares, Marques da Silva e Manuel Marques Damas mereceram do
orador, seguidamente, referências especiais, vivamente aplaudidas.
O presidente do Município, convidado
pela organização para se associar àquela confraternização, teve palavras
de júbilo e de saudação pela jornada altamente expressiva levada a
efeito.
Finda a cerimónia de cumprimentos e de
boas-vindas, no átrio da antiga escola o Dr. Manuel Marques Damas, no
seu jeito gracioso, deu uma aula simbólica. No quadro estava escrito o
significativo sumário da lição «O bom filho à casa torna». O Sr. Dr.
Damas aproveitou para recordar os mortos e saudar os vivos. A chamada
pela sua estimada caderneta, ilustrada com fotografias, foi feita ali
mesmo. Muitos dos alunos já não puderam responder.
Exortação à mocidade
De recordação em recordação, com uma
lágrima a bailar neste naquele rosto, o professor foi recordando aos
seus alunos facetas de toda uma vida dedicada ao ensino. A dado trecho,
pediu ao professor Hernâni Moreira da Silva para ler a seguinte mensagem
de exortação à mocidade: «Lembrai-vos, mais tarde, de que a maior
riqueza que ganhastes na vida, a adquiristes nesta casa. As coisas —
todas as coisas, notai-o bem — que, dia a dia, aqui ides aprendendo, são
obra de muitas gerações que vos antecede, obra por sinal trabalhada em
muitos países do Mundo (os chamados civilizados), e à custa de muitos
sacrifícios e entusiasmos, uns e outros regados, tantas vezes, de
lágrimas dolorosas!...».
«Tudo se deposita nas vossas mãos, e à
vossa guarda fica como herança sagrada que tendes o dever de transmitir
aos vossos filhos, tão aperfeiçoada quanto o tempo vo-lo permitir e o
espaço vo-lo consentir, pois tudo é obra criada em comum, e quase tudo o
que é criado em comum tem direito, se não à eternidade, que nada no
mundo é eterno, pelo menos a uma posteridade longa e quase sem
limites...
«Se fixardes isto mesmo na vossa
memória, é porque encontrastes algum sentido na vida e um rumo que vos
conduzirá a porto seguro... Se não, o mal será todo vosso, porque vós
tendes criado uma vida sem rumo; e as vidas sem rumo nem se projectam no
futuro nem se casam no presente!...
«Depois... sede justos e bons: bons
filhos, bons irmãos, bons amigos, para que possais vir a ser bons
cidadãos.
Quando por qualquer motivo vos sentirdes
tentados a trilhar má senda, arrepiai caminho, e trilhai o da dignidade,
da honra de do trabalho!...
«Finalmente, sede alegres,
mas ordeiros, alegres mas de uma alegria sã e digna, e acima de tudo, e
em tudo... sede Homens!
Em seguida foi colocada uma fita no
estandarte da antiga escola pela Sr.ª D. Maria João Salgado Henriques.
As cerimónias prosseguiram com a
celebração de uma missa de sufrágio pelos professores e alunos
falecidos, presidida pelo ver. padre António de Oliveira e, depois, com
uma romagem ao Cemitério Central. Aí foi guardado um minuto de silêncio
e a Sr.ª D. Marília Matias aproveitou para colocar no obelisco existente
a meio do cemitério um ramo de flores, em homenagem a todos quantos
repousam em paz.
Na Escola lndustrial e Comercial de
Aveiro, efectuou-se, posteriormente, uma cerimónia de cumprimentos ao
actual director, Sr. Dr, Amadeu Cachim, seguida de uma visita às
instalações. AIi falaram, o Sr. Artur Casimiro, pela comissão
organizadora da reunião e o Sr. Dr. Amadeu Cachim, que agradeceu a
honrosa visita de tão nóbil representação. Associou-se a estas
cerimónias a Banda do Internato Distrital, que lhe emprestou ainda um
maior ambiente festivo, tocando algumas marchas do seu vasto reportório.
Nova etapa no programa. Professores e
alunos tomaram lugar em autocarros da Auto-Viação Aveirense, postos
graciosamente à disposição pelo gerente daquela conceituada empresa, o
nosso bom amigo e colaborador assíduo, Sr. Gilberto Nunes.
Pedida uma secção da
Faculdade de Economia
A jornada festiva terminou com um almoço
no Hotel Imperial. Novas manifestações de saudade e de companheirismo se
registaram. Aos brindes, muitos foram os oradores que fizeram ouvir a
sua voz. O Sr. João Maria dos Santos Batel, começou por ler o expediente
recebido, quer da Metrópole, quer das mais longínquas parcelas do
território português espalhadas pelo Mundo. Numa das mensagens
recebidas, o antigo professor da Escola Fernando Caldeira, Sr. Dr.
Agostinho de Sousa, sugeria que em Aveiro fosse dado a um dos seus
arruamentos o nome do professor Silva Rocha, que fora insigne director
daquele estabelecimento na primeira metade do século.
Falaram em seguida o Sr. José Soares, da
comissão promotora; e os antigos alunos, Srs. Tiago Ribeiro, D. Maria da
Conceição Gamelas, Carlos Mendes, Dr. David Cristo, eng.º Sigesmundo
Pereira de Lima, antigo director da Escola Comercial de Braga; José
Pinheiro Palpista; Dr. Marques da Silva, antigo professor; os Srs.
Carlos Manuel Gamelas, Álvaro de Melo Albino e José Bilelo Rodrigues,
como antigos alunos; o Sr. Dr. Júlio Meira Coelho, antigo professor e
actual director da Escola Industrial e Comercial da Figueira da Foz; os
srs. Adeneu Rigueira e Sr. Sebastião Dias Marques, antigos alunos; os
srs. Drs. Manuel Marques Damas e Amadeu Cachim e, por último, o
presidente da Câmara Municipal de Aveiro.
Ao usar tia palavra, o Sr. Carlos
Gamelas sugeriu que fosse enviado um telegrama ao ministro da Educação a
agradecer a oficialização do Instituto Médio do Comércio de Aveiro e,
simultaneamente, a pedir a criação de uma secção da Faculdade de
Economia, sugestão que mereceu os melhores aplausos.
O Sr. Dr. Amadeu Cachim pediu para que o
actual presidente da Câmara Municipal fosse considerado aluno honorário
da Escola Industrial e Comercial de Aveiro, pelo seu alto contributo
dado à causa do ensino.
O Sr. Dr. Sebastião Marques lembrando
também a necessidade de se dar a Aveiro uma secção da Faculdade de
Economia, elemento básico e continuador do Instituto Médio do Comércio,
sugeriu que seja levada para a frente a criação da Associação dos
Antigos Alunos.
Ao encerrar a sessão, o Sr. Dr. Artur
Alves Moreira, congratulando-se uma vez mais pela efectivação da jornada
de confraternização levada a cabo por antigos alunos da Escola Fernando
Caldeira disse, a finalizar, estar nos propósitos camarários dar à
cidade nomes de figuras Ilustres que devotamente a serviram e
engrandeceram.
Duas petições da
comissão organizadora
A comissão promotora do encontro
elaborou um escrito com duas petições: a primeira visa a colocação da
bandeira da antiga escola nas instalações onde funcionou como
repositório de arte barrística aveirense de seiscentos e setecentos,
logo, no lugar ideal e a que tem direito como baluarte de viárias
gerações.
A segunda petição é dirigida à mesa da
Santa Casa da Misericórdia para que retome, sem demora, os trabalhos de
restauro dos preciosos edifícios, para que a cidade possa vir a ter um
núcleo de estética e de estudo (para o qual já se registam generosas
promessas de gratuitas e estimáveis contribuições).
“Lutador” - Aveiro, 10 de Setembro de 1971
Encontro dos Antigos Alunos da Escola Fernando Caldeira
A família escolar — alunos e professores
— que estiveram ligados à velha Escola Industrial e Comercial de
Fernando Caldeira, de Aveiro, no período de 1914 a 1946, reuniram-se no
último domingo em jornada de confraternização.
Foram cerca de 200 os participantes no I
Encontro, iniciado com uma sessão solene no salão cultural da Câmara
Municipal, durante a qual o Dr. David Cristo, antigo aluno e professor
da Escola proferiu uma magistral conferência para evocar os principais
passos da já longa existência daquele estabelecimento de formação
técnica e profissional. Nas suas primeiras palavras o orador afirmou que
os presentes se reuniam por um impulso de alegria, mas a recordação de
acontecimentos vividos não podiam impedir que furtivas lágrimas
bailassem nos olhos de quantos aqui vieram.
A região muito deve à velha Escola, em
vésperas de completar os 78 anos, pois a ela recorreram industriais e
comerciantes, organismos e entidades, carecidas de estruturarem os seus
quadros ou preencherem vagas com elementos válidos. O desenvolvimento e
o progresso de Aveiro não seria hoje uma realidade sem essa colaboração.
A estatura moral e intelectual do
patrono da Escola — Fernando Caldeira — foi recordado em toda a sua
dimensão, como exemplo que importa apontar à meditação da juventude
escolar.
A terminar, o conferencista envolveu na
mesma saudação os velhos professores e mestres, alguns dos quais se
associaram a este convívio, bem como o Presidente da Câmara, pelo seu
contributo na valorização da terra em que vivemos.
Encerrou a sessão o Dr. Artur Alves
Moreira, que havia presidido à mesma, para manifestar o seu apreço pela
jornada, tão altamente expressiva, a que gostosamente assistia. A
Comissão Organizadora e os antigos e actuais professores mereceram do
Presidente da Câmara os mais vivos encómios. Nas suas últimas palavras
foi distinguido elogiosamente o trabalho do orador Dr. David Cristo.
No átrio da antiga Escola, agora
restaurado pela Misericórdia, o professor jubilado, Dr. Manuel Marques
Damas, apresentou uma entusiástica lição, escutada com o maior
interesse. Algumas publicações da sua autoria foram distribuídas aos
antigos alunos.
A bandeira da Escola foi distinguida com
uma fita pela antiga aluna, D. Maria João Henriques.
A Santa Missa, celebrada na Igreja da
Misericórdia pelo professor Padre António de Oliveira, bem como a
romagem ao Cemitério Central, constituíram comoventes actos de
homenagens aos alunos e mestres falecidos.
A manhã terminou com uma visita ao novo
edifício da Escola, que serviu de pretexto para o antigo aluno, Artur
Casimiro, saudar o Director daquele estabelecimento (Continua na página
3). O Dr. Amadeu Cachim agradeceu esta romagem de saudade, que para ele
tem particular significado. Recordou a «Escola» da primeira metade do
século, em que o professor se integrava numa família, de que era o chefe
e através da qual se cuidava da formação moral e tecnológica.
A seguir, os antigos alunos visitaram as
instalações escolares, tendo-se feito ouvir no decorrer da visita a
Banda de Música do Internato Distrital, cujos executantes são, em grande
parte, alunos da Escola em festa.
O programa do «encontro» terminou com um
almoço, durante o qual se pronunciaram afirmações da maior confiança e
fé no futuro.
Algumas cartas e telegramas foram lidos,
quer de professores, quer de alunos, que radicados nas mais distantes
parcelas da Metrópole e do Ultramar não esqueceram os seus camaradas
reunidos. Numa das missivas foi sugerido o nome do antigo professar Dr.
Agostinho de Sousa, para patrono de uma das artérias citadinas.
O Presidente da Comissão Organizadora,
José Fernando Rodrigues Soares, leu um escrito, através do qual foram
formuladas duas petições, do maior interesse, e que noutro local damos à
estampa.
Parafraseando o dito de um famoso
cabo-de-guerra, o orador referiu que «nunca tão poucos foram tantos»,
dado o calor e o entusiasmo das duas centenas de antigos alunos que tão
bem representam todos quantos, ao longo dos anos, se formaram na escola
comum.
Outro antigo aluno, Tiago Ribeiro,
recordou a obra docente dos irmãos Aleluia, enquanto a D. Maria da
Conceição Gamelas leu algumas poesias, alusivas a actos da vida escolar
do Dr. Marques Damas.
Carlos Mendes e o Dr. David Cristo
evocaram figuras que ao ensino da Escola deram o melhor do seu saber e
entusiasmo, quer os que regeram as diversas disciplinas, quer mesmo os
mais modestos funcionários, todos eles irmanados no mesmo desejo: servir
devotadamente. O Dr. Alberto Souto, Armando Madail, irmãos Aleluia e
Franciscoda Silva Rocha, entre os primeiros, e João Mota, José Pinheiro
e Aurora, entre os últimos.
O eng.º Lima Segismundo, antigo director
da Escola Industrial e Comercial de Braga trouxe também o abraço da sua
terra natal, à gémea Aveiro.
E muitos outros oradores que estiveram
ligados à Escola trouxeram o testemunho da saudade e da gratidão. Foram
eles o funcionário José Pinheiro, os alunos Carlos Gamelas, Álvaro de
Melo Albino, José Bilelo Rodrigues, Edneu Rigueira, Dr. Sebastião
Marques, e os professores Dr. Mira Coelho e Dr. Marques Damas.
O Presidente da Câmara Municipal afirmou
não estar ali como um adventício, mas sim como um aveirense que se
associa à alegria de quantos comungam nesta festa de família, quer ainda
como representante do município e natural desta terra.
Os nomes aqui memorados serão
oportunamente recordados em artérias aveirenses.
Congratulo-me com a oficialização do
Instituto Comercial, por cuja criação tanto pugnei na tribuna da
Assembleia Nacional, e pela qual a edilidade lutou e sustentou até, na
fase
final, o estabelecimento particular que
durante alguns anos formou técnicos e profissionais aptos.
É mais um estímulo para mim a direcção
desta comunidade que, embora constitua árdua tarefa, contribui para a
valorização desta terra.
O Dr. Amadeu Cachim, Director da Escola,
referiu-se ao prestígio desta no panorama citadino e regional, exaltando
a acção do Presidente da Câmara na valorização do Ensino Técnico, pelo
que propunha aos presentes fosse considerado membro honorário da família
escolar, gesto que foi entusiasticamente aplaudido.
Nas suas intervenções o Dr. Sebastião
Marques e Carlos Gamelas sugeriram que se envidassem esforços pela
urgente criação em Aveiro do Instituto Politécnico, e num futuro próximo
uma Faculdade de Economia, prolongamento do actual Instituto Comercial.
A aprovação dos estatutos da Associação
dos Antigos Alunos, e a sua entrada em vigor,
como remate desta magnífica jornada de
camaradagem, foram votos que traduziram o sentir de todos os presentes.
Foi ainda sugerido o envio de telegramas
ao Ministro da Educação Nacional e ao Chefe do Distrito, que passamos a
reproduzir:
Para o Ministro da Educação Nacional:
«Centenas alunos frequentaram Escola
Industrial Comercial Fernando Caldeira Aveiro
desde fundação até há um quarto de
século reunidos último domingo nesta cidade saúdam respeitosamente Vossa
Excelência e agradecem empenho já posto definitiva criação Instituto
Comercial Aveiro esperando confiadamente diligências oportuna criação
ansiado Instituto Politécnico utilíssimo região aveirense presentemente
franco progresso económico».
Para o Governador Civil:
«Antigos alunos Escola Industrial e
Comercial Fernando Caldeira reunidos último domingo cumprimentam
respeitosamente Chefe Distrito e Aveirense Doutor Vale Guimarães
esperando confiadamente continuidade empenho junto Ilustre Ministro
Educação Nacional a quem acabam telegrafar criação ansiado Instituto
Politécnico.»
A tarde, que fora escaldante começava já
a apagar-se quando os últimos convivas retiraram desta inolvidável
jornada de confraternização, marco alto na vida escolar e citadina.
“Correio
do Vouga” — 10/09/1971
Escola
de Fernando Caldeira
REUNIÃO DE ANTIGOS
ALUNOS E PROFESSORES
Foi uma jornada memorável a que, no
último domingo, congregou nesta cidade cerca de duas centenas de alunos
e professores da antiga Escola Industrial e Comercial de Fernando
Caldeira — muitos dos que a frequentaram e alguns dos que nela foram
professores e mestres desde a fundação, em 1914, até 1946. Horas
alegres, felizes, de intensa saudade, a recordar nomes e factos; ensejo
para se darem sugestões e lançarem iniciativas; abraços de fraternal
amizade, manifestações de gratidão — mil coisas que vieram à flor dos
olhos e da alma, com sua legenda de palavras sentidas e eloquentes, com
sua expressão para o futuro.
O primeiro acto foi a concentração na
Praça da República, mesmo ao lado do antigo e principal edifício da Rua
da Costeira e à volta da estátua de José Estêvão. Logo a seguir, sessão
de boas-vindas no Salão Cultural da Câmara Municipal. Na presidência, o
Dr. Artur Alves Moreira, Presidente do Município, ladeado pelo Prof.
Júlio Augusto Cardoso, último Director da Escola de Fernando Caldeira;
Dr. Manuel Marques Damas, professor com mais tempo de serviço; e Tenente
Leonardo Campos de Almeida e José Lourinho, respectivamente: o aluno
mais antigo e o aluno mais novo.
Foi do Dr. David Cristo a palavra de
saudação. Como antigo aluno e professor, fez a história do
estabelecimento ao longo, dos anos; traçou a biografia de Fernando
Caldeira, seu patrono, e evocou nomes de muitos que ficaram
indelevelmente ligados à vida da velha escola.
O Presidente da Câmara, ao encerrar a
sessão, disse breves palavras: de congratulação pelo encontro, altamente
expressivo; de felicitações aos seus organizadores; de saudação aos
antigos e actuais professores e alunos e ainda ao orador.
UMA AULA SIMBÓLICA
PELO DR. MARQUES DAMAS
No átrio do edifício contíguo à igreja
da Misericórdia, onde se realizam importantes obras de restauro e
integração na traça primitiva, o Dr. Manuel Marques Damas deu uma aula
simbólica. Mesmo ao saudar a todos, não esqueceu o seu conhecido e
tradicional humorismo; contou episódios passados com alguns dos
presentes, aos quais ofereceu exemplares de obras suas; e,
principalmente, deixou-lhes um veemente apelo: «Sede alegres, mas
ordeiros; alegres, mas de uma alegria sã e digna e, acima de tudo e em
tudo, SEDE HOMENS». Só para ouvir esta palavra e, mais ainda, para
procurar pô-la em prática, valia a pena ter promovido o feliz encontro.
MISSA DE SUFRÁGIO
Terminada a aula ao toque da sineta,
como principiara, o antigo e actual professor, Padre António Augusto de
Oliveira, celebrou missa na igreja da Misericórdia, em sufrágio das
almas de professores e alunos. Após as leituras, feitas pelo antigo
aluno Herculano de Almeida e Silva e pelo actual Director, Dr. Amadeu
Cachim, aquele sacerdote proferiu homilia adequada sobre o sentido da
simpática reunião e deixando também um apelo para que todos fossem fiéis
ao que de bom aprenderam nas aulas durante o tempo de estudantes.
Depois da celebração da Eucaristia,
professores e alunos, já com a presença da Banda do Internato Distrital,
foram em romagem ao Cemitério Central e apresentaram cumprimentos ao
Director da Escola, Dr. Amadeu Cachim, no actual edifício.
A BANDEIRA DA VELHA
ESCOLA
O almoço de convívio decorreu no Hotel
Imperial, em ambiente de franca e saudável camaradagem. O antigo aluno
João Batel deu conta de numerosas mensagens recebidas. Em nome da
Comissão Executiva, José Soares apresentou um expressivo texto com a
formulação de dois pedidos de grande significado. Refere-se o primeiro à
bandeira da antiga Escola. Pelo que foi e pelo que é como símbolo
unificador e inspirador, deveria ficar, como perene evocação, nesse
edifício. «Ficaria bem ali, naquele ímpar conjunto arquitectónico,
escrupulosamente restituído estética e historicamente à sua traça
inicial /.../ Ficaria bem ali, no ambiente, que se preconiza, da vasta
mostra da obra inconfundível dos barristas aveirenses de seiscentos e
setecentos, e junto dos mimos de arte que nos legou a fé dos nossos
avós. Ficaria bem, ali, a nossa bandeira vivendo precisamente onde
nasceu».
DE ESCOLA A MUSEU
A comissão do encontro fez ainda outro
pedido. Nestes termos: «A mais, porém, nos atrevemos: solicitar à digna
Mesa da Santa Casa de Aveiro — à qual, desde já, endereçamos os nossos
agradecimentos pela gentil cedência do pátio da Misericórdia para a
lição evocativa desta inolvidável manhã — que retome sem mais demoras,
os trabalhos de restauro dos preciosos edifícios. E fazemos este pedido
na plena certeza de interpretar os sentimentos e desejos de todos os
aveirenses que anseiam por ver ali, em pleno coração da cidade, um
núcIeo de estética e de estudo (para o qual já se registam generosas
promessas de gratuitas e inestimáveis contribuições); aveirenses que,
por outro lado (a não serem rápidas as diligências da Santa Casa na
preservação e defesa do que, sendo seu, poderá aproveitar a todos),
justificadamente receiam que tão auspiciosas esperanças de Aveiro se
escoem e se deteriorem ingloriamente, como coisa fútil atirada às águas
da nossa Ria, para irremediavelmente se perderem no mar — onde, por
vezes, naufragaram tantas negligenciadas riquezas...».
OUTRAS
LEMBRANÇAS, OUTRAS INICIATIVAS
Depois falaram: Tiago Ribeiro, D. Maria
da Conceição Gamelas (que recitou versos de homenagem ao Dr. Marques
Damas), o Presidente do Grémio do Comércio de Aveiro, Dr. David Cristo,
José Pinheiro Palpista e o antigo Director da Escola Industrial de
Braga.
O industrial Carlos Manuel GameIas pôs
em relevo o valor económico do distrito de Aveiro no conjunto nacional,
agradeceu ao Presidente da Câmara todo o carinho que tem consagrado ao
sector do ensino técnico e pediu que se continuem os esforços para que
sejam criados estudos técnicos superiores, alvitrando mesmo a criação de
uma Faculdade de Economia.
Outros oradores se seguirem: Álvaro de
Melo Albino, José BileIo, Dr. Júlio de Mira Coelho e Edmeu Rigueira (a
lembrar que já em tempos se pensou fundar no Porto uma Casa de Aveiro,
visto serem muitos os aveirenses ali radicados).
Secundando as afirmações de Carlos
Gamelas, o Dr. Sebastião Dias Marques apelou para que o Presidente da
Câmara prossiga os seus trabalhos para que do ensino técnico se passe
para o ensino superior e lembrou também a Faculdade de Economia. Sugeriu
depois que se crie a Associação dos Antigos Alunos da Escola Fernando
Caldeira.
Voltaram ainda a usar da palavra os Drs.
Marques Damas e David Cristo e José Soares.
Respondendo aos apelos formulados, o
Presidente da Câmara anunciou que foi criada, em Aveiro, por portaria a
publicar em breve, uma secção do Instituto Comercial, dependente, por
enquanto, do Porto. E prosseguem as diligências — disse — para que seja
também criado o Instituto Industrial, sem esquecer a Faculdade de
Economia.
Falou, por fim, o actual Director da
Escola Técnica, propondo que fosse enviado telegrama ao Ministro da
Educação Nacional e que o Dr. Alves Moreira fosse nomeado sócio
honorário da Escola.
TELEGRAMAS
Ao Ministro da Educação Nacional:
Centenas alunos frequentaram Escolas Industrial Comercial Fernando
Caldeira Aveiro desde fundação até há um quarto de século reunidas
último domingo nesta cidade saúdam respeitosamente Vossa Excelência e
agradecem empenho já posto definitiva criação Instituto Comercial Aveiro
esperando confiadamente diligências oportunas criação ansiado Instituto
Politécnico utilíssimo região aveirense presentemente
franco progresso económico.
Ao Governador Civil de Aveiro: Antigos
alunos Escola Industrial e Comercial Fernando Caldeira reunidos último
domingo cumprimentam respeitosamente Chefe Distrito e Aveirense Doutor
Vale Guimarães esperando confiadamente continuidade empenho junto
Ilustre Ministro Educação Nacional a quem acabam telegrafar, criação
ansiado Instituto Politécnico.
COMISSÃO ORGANIZADORA
A comissão organizadora deste encontro
foi composta por Artur Casimiro da Silva, João dos Santos Batel, António
Barreto Martins e José Soares.
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