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Falácias e Paradoxos

Este capítulo irá analisar os equívocos e erros lógicos que frequentemente cometemos quando raciocinamos e expressamos os nossos pensamentos no código linguístico. Independentemente da intencionalidade, por parte de quem raciocina e argumenta, é possível considerar dois tipos de falácias muito distintas: as que apresentam uma forma ou estrutura equívoca (falácias formais) e as que apresentam conteúdos ou manifestações de prova manifestamente insuficientes (falácias não-formais).

 

Falácias

Analisaremos neste ponto somente as falácias de índole não-formal, em virtude das mesmas serem as que, com mais frequência, ocorrem no nosso discurso:

 

— Falácia baseada na pressão psicológica e na ameaça

Quando se expressa um raciocínio de forma a convencer o auditório que o ponto de vista nele defendido é o único a ter em conta, pois, caso contrário, algo de lamentável poderia suceder a todos os que não seguissem a opinião manifestada. A ameaça ou pressão psicológica acaba por se tornar por demais evidente.

Exemplo: as promoções na minha empresa sou eu que as decido e quem se manifestar contra será imediatamente despedido. Há alguém que discorde das minhas palavras?

 

— Falácia baseada na emoção

Trata-se daquele tipo de falácias que procura anestesiar o sentido crítico e racional do ouvinte, acicatando dessa forma a dimensão emotiva e passional do seu comportamento. Por outras palavras, quando alguém age, interpreta e actua, não em função de uma análise racional e isenta, mas em função de um quadro ou de uma descrição baseada no sentimento, dizemos que agiu em função deste raciocínio falacioso

Exemplo: este sumo com tomate deve ser espectacular, porque se não o fosse, aquela sedutora  modelo nunca teria feito a sua apresentação.

 

— Falácia baseada no ataque pessoal

Quando alguém pretende refutar um determinado argumento e que, em vez de demonstrar a respectiva contradição, decide atacar a credibilidade e a honorabilidade do seu autor. Com efeito, o ataque pessoal substitui a análise do argumento e, dessa forma, procura-se minar a sustentabilidade do argumento em virtude dos traços pessoais ou comportamentais do seu autor.

Exemplo: O raciocínio do Felisberto, a respeito do sistema educativo, não tem fundamento nenhum porque ele é defensor do aborto; pudera, essa perspectiva sobre a Constituição Europeia não é manifestamente aconselhável em virtude de ter vindo de um sportinguista.

 

— Falácia baseada na falsa autoridade

Determinados raciocínios procuram impor-se a um dado auditório, procurando moldar-lhe a atitude sobre uma determinada matéria. No entanto, esses raciocínios que se socorrem de figuras de grande prestígio, numa área específica, servem-se dessa reconhecida autoridade, para persuadir as pessoas a adoptarem uma dada postura a respeito dos mais variados assuntos. Por outras palavras, procede-se a uma transferência ilegítima em termos de autoridade.

Exemplo: O Figo, um dos melhores jogadores de futebol, bebe Coca-cola. Logo, para ser bom jogador devo beber  Coca-Cola. O Tiago, jogador do SLB, faz as suas compras no Continente. Logo, é lá que vou fazer as minhas compras.

 

Paradoxos 

Um paradoxo ocorre quando se constrói um raciocínio, a partir de um dado enunciado, e se chega a uma conclusão inequivocamente contraditória com o enunciado.

Exemplos: Todos os galegos mentem. O  Manuel é Galego. Ora se todos os galegos são mentirosos e se o Manuel é Galego, quando o Manuel estiver a mentir, está a falar a verdade. Quando o Manuel estiver a falar a verdade, ele estará a mentir, pois como se viu os Galegos são todos mentirosos; O barbeiro barbeia aqueles que não se barbeiam. Mas como é que o barbeiro se barbeia? O barbeiro não se pode barbear porque senão o barbeiro seria aquele que barbeia os que se barbeiam. Logo, o barbeiro barbeia os que não se barbeiam e os que se barbeiam.