Dali pinta sem
descansar, com espátula, com cores ricas que empastam a
tela, e o seu amor pela pintura distingue-o dos outros
meninos e fica consciente de que será pintor.
Passa uns tempos
em casa dos Pitchot, uma família amiga de artistas
onde, uma manhã, descobre as telas de Ramón Pitchot e
recebe, através delas, a revelação do impressionismo.
«Fiz a revolução impressionista aos doze anos e,
nessa época, não cometi o erro de desterrar o preto da
minha paleta» — diz-nos.
Teve como
professor de desenho Juan Núñez, que se apercebe das
suas qualidades e o orienta.
Aos catorze anos,
pinta naturezas mortas, descobre a técnica para reter
os raios de luz e traduzir as profundidades da mesma. Em
Figueras, pedem-lhe que entre com alguns trabalhos numa
exposição em que vão expor mais trinta artistas
locais Os críticos destacam nesta exposição as obras
de Dali. O pai decide, então, que irá estudar na
Academia de Belas Artes de Madrid.
Aos quinze anos,
muda a forma de pintar e aborda quadros de género. O
seu estúdio enche-se de ciganos que lhe servem de
modelo. Quando parte para Madrid, está conhecedor da
sua genialidade, o que se torna para si um facto
extremamente agradável. A sua presença em Madrid não
passa despercebida: usa capa até aos pés, cabelos
pelos ombros, uma boina e uma gravata enorme. É o
único que em Madrid experimenta o cubismo. Torna-se
notado e faz amizade com outros jovens, que mais tarde
terão prestígio como Garcia Lorca e Luís Buñuel.
Estes exerceram influência em Dali relativamente a uma
nova maneira de vestir. Quando vai de férias para
Cadaqués, a família encontra-o convertido num jovem
elegante, representando-se nesta nova circunstância em
auto-retrato. O seu narcisismo leva-o a representar-se
muitas vezes nas suas obras.
Em 1925, Dalmeu,
proprietário das Galerias de Arte de Barcelona,
propõe-lhe uma exposição no mês de Novembro, que
Dali concretiza com cinco desenhos e dezassete pinturas.
Nesta altura está na sua experiência cubista com a
rígida geometria que depois irá abandonar, conservando
os volumes e uma construção estruturada.
Em Madrid viveu,
como diz, ”num estado constante e exacerbado de
subversão espiritual, quatro anos autenticamente
nietzchianos”. Esta forma de viver levou a que fosse
expulso da Academia de Belas Artes de Madrid, por
decreto régio em 1926, tendo, por vontade, deixado
todas as suas coisas em Madrid e voltado a Figueras de
“mãos vazias”. Em 1927 vai para Paris e, neste
mesmo ano, desenha a sua primeira grande tela
surrealista “ O sangue é mais doce que o mel”.
Claudette Albino