BOLETIM   CULTURAL   E   RECREATIVO   DO   S.E.U.C.  -   J.  ESTÊVÃO


Elogio da Poesia

Luís Serrano

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           Campos da Normandia
           (Fresneuse sur Risle, 1999)

Eu posso lá morrer, terra florida!
Afonso Duarte,
Ritual do Amor

Olho esses campos o oiro antigo
que lá muito ao longe toca o céu
e lhe dá sentido

a música que perpetua
um travo de silêncio sobre a alma

as ovelhas polvilhando a planície
um rio enroscado
nos meandros abertos de Les Andelis

Não posso esquecer
as árvores por onde as searas
se prolongavam
nem a luz dividida por tanta terra
nem as veredas ao longo das casas;

havia ainda o cheiro dos estábulos
(odor de vacas e cavalos
bichos que a paisagem consentia);

só as pessoas quase se não viam
não fossem os trilhos das máquinas agrícolas
definindo gráficos e códigos
por entre pastos estrelas vivas de cereal

Talvez seja fácil morrer ali.
Inédito
, 2003

        As Andorinhas

Vi-as levantar
e partirem em direcção
ao Sul

molhadas apenas
por uma luz muito alta e límpida
essa água quase rasante
do amanhecer

Voltarão com a Primavera
com o pranto
das últimas chuvas
o cheiro das primeiras flores

quando o ar
se esclarece e é uma cortina aberta
transparente e lavada

quando já nada resta
senão a memória breve
da sua partida

porque só elas partem
e só elas regressam

só elas escrevem o tempo
que sem cessar
se escoa
irremediavelmente

Inédito
, 1996

Luís Serrano     

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