Narciso,
revendo-se na imagem que projecta nas águas do lago, é
bem o símbolo da sociedade Psi. Lipovetsky
apelida este homem narcísico de homo
psychologicus.
«Conhece-te a
ti mesmo» — eis o novo Imperativo
Categórico!
Esta
procura do autoconhecimento tem levado o homem a escavar
cada vez mais fundo no seu complexo comportamento.
De
Sócrates a Lacan, sem esquecer Freud, os fantasmas que
condicionam o comportamento têm tentado ser
compreendidos e desdramatizados.
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sorriso confiante com... |
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Hoje,
vive-se numa sociedade que banalizou todos estes
conhecimentos, e os transformou numa “ideologia” de
consumo imediato. É a sociedade do individualismo, do
intimismo, hedonismo e sedução — sociedade da
transparência. É o reino do homo psychologicus. Por
todo o lado proliferam biografias, análises intimistas
que exploram um voyeurismo sem precedentes.
A
perda do pudor fez desaparecer a fronteira
público/privado. O homem psi sujeita-se a todas
as exposições que aparentemente o tornam mais próximo
do Outro.
Desde o Big
Brother do povo ao Big Brother dos “tios” e “tias”,
dos noticiários a explorarem as emoções das
tragédias humanas, dos políticos a exporem a sua
privacidade nas campanhas eleitorais, tudo isso
contribui para melhor alicerçar este intimismo da
sociedade psi.
O
hedonismo e a sedução servem-se também “à la
carte”! Que o diga a publicidade que nos seduz e
nos faz acreditar que Existir é Consumir.
E de
novo vem a Psicologia dar uma ajudinha!
Analisam-se
teorias e práticas psicológicas de forma a entender o
complexo comportamento humano e tornar mais eficaz o
processo de consumo. É preciso corresponder às
motivações do consumidor e despertar as menos activas.
O marketing
identifica características da personalidade do
consumidor alvo para estimular traços relevantes.
Num
anúncio de um perfume, pode-se fazer apelo ao id (inconsciente
Freudiano) como armazém de pulsações básicas. O sexo
e a agressividade podem ser apresentados como
necessidades de satisfação imediata e a escolha do
modelo associada a uma mensagem eficaz podem completar
esse quadro. A mensagem hedonista leva o consumidor por
identificação à compra do perfume.
Aprofundando
um pouco mais: cada indivíduo tem de si uma auto-imagem.
Nesta vê-se como um certo tipo de pessoa, com certos
traços, hábitos, posses, relacionamentos e formas de
comportamento. A partir daqui foram identificadas
várias auto-imagens do consumidor alvo.
●
Auto-imagem real — como o consumidor se vê a si
mesmo, e a que a publicidade apela para vender produtos
domésticos, por exemplo: produtos de limpeza;
●
Auto-imagem social — como o consumidor gostaria que os
outros o vissem, e a ela as empresas apelam sempre que
querem vender automóveis topo de gama, vestuário de
marca, etc.;
●
Auto-imagem ideal — traduz o modo como os consumidores
gostariam de ser vistos; e aqui apela-se à fantasia.
Por exemplo, promover uma viagem exótica.
Estes
são alguns exemplos de como as empresas segmentam os
seus mercados para melhor seduzirem o consumidor.
Em
conclusão, no meio de toda esta dispersão psi, o
homo psychoIogicus vive sem opacidade, numa
exteriorização permanente, que o deixa cada vez mais
vazio e solitário. Só lhe resta a proposta de Woody
Allen... Reencontre-se no divã do seu Psicanalista...
Sociedade PSI.