A Quinta, onde está implantado o
solar, a capela e anexos, situa-se no extremo este da aldeia, tendo as
entradas viradas a norte. A sua área era de 156.520 m2.
O solar era rodeado por um jardim,
com lagos e frondosas e variadas árvores, no meio das quais havia um
campo de ténis. Em 1975, o feitor Manuel Soares escrevia a D. Arcelina:
o ténis precisa ser arrancadas todas as ervas, pois está a parecer mal.
Havia, também, uma enorme eira, para debulhar os cereais ou servir de
espaço para festas.
O pomar incluía, então, 250
árvores de fruto diverso e mais de três mil cepas.
A condessa encomenda, no Porto,
três barris de sulfato de cobre, três sacos de cal da Figueira, seis
sacas de enxofre moído.
A Quinta, dos lados norte e
nascente, era rodeada de terrenos com produção específica como bunho e
murraça. Entre a aldeia e o Rio Vouga, tinham áreas com os nomes: Campo
do Tojo, Samouqueira, Sargaça, Longas, Grota, Gramões, Brejo e outras.
Do lado sul, era ladeada por estradas e pinhais.
Nas cercanias da Quinta, havia
propriedades dispersas de terreno destinado a ervagem, para cultivo de
milho, arrozal, terreno alagadiço (sapal), onde proliferava a tábua, de
arvoredo diverso, onde se incluía o pinheiro80.
A seguradora, Nova Companhia de
Seguros Douro, informa que recebeu da condessa, 22$68 e 14$00 pelo
prémio de seguro contra fogos sobre o prédio da Quinta de Taboeira,
relativo ao 13º ano que terminou.
A Quinta era gerida, no aspeto
económico, com muito rigor, na continuidade do que o pai do conde,
Francisco Cardoso Valente, fazia em relação às muitas propriedades que
possuía, dispersas por vários pontos do país, com incidência em Lisboa,
Coimbra, Espinho, Granja, Porto e zonas do Pinhão, e se constata através
do “Livro dos caseiros e foreiros da Quinta de Taboeira, n.º 1, de 1887
a 1894”.
Tinha-se recebido de rendas, foros
e géneros vendidos 690.880 réis. Aproximadamente em 1886, F.C.V. deu a
Quinta, como prenda de casamento, ao filho João Cardoso Valente.
/ 165 / Em
1902, o livro tinha como título “Folha Semanal da Quinta de Taboeira” e,
nas folhas semanais, transcrevia-se a atividade e produção da Quinta,
onde trabalhavam quinze mulheres e oito homens, tendo como feitor Victor
Gaspar Américo Simões Aires que trabalhou na Quinta de 1940 a 1955, e
diz que, nessa época, o feitor era o João de Canelas, que gostou muito
de trabalhar lá, porque era tudo boa gente, e que, como era perto, vinha
comer a casa. Em 1964, a folha inclui o nome dos trabalhadores:
Francisco, Manuel José, Eduardo, João Cardoso, João Martins, José
Moreira, Vitorino, António José, Avelino José, Boga, Fabião, Joaquim
Romão, José Nogueira, Josefa, Mónica, Teresa Maria, Maria Rosa, Rita,
Lurdes, Adélia, Núncia, Fátima Rema, Ricardina, Nazaré, Olivia, Celeste
e o feitor Manuel Soares, conhecido por Manuel Escudeiro, que viria a
casar com Emília, empregada
da casa, para que conste. O desentendimento entre trabalhadores também
acontecia.
Em outubro de 1904, a folha
incluia os salários da criada Júlia Nunes, Maria Felícia, criado Joaquim
Matos e feitor Victor Gaspar.
Pela vala negra que desemboca no
rio Vouga, a partir de Samouqueira e a vala de Eirinha que acompanha a
Quinta pelo norte e que vem dos campos de Eixo e dos ribeiros de Horta,
vinha peixe e berbigão da Torreira, que eram anunciados com um búzio.
Trocavam o peixe por feijão e toucinho.
Também as vacas leiteiras eram
mencionadas, assim como a sua produção.
“Pomba”, 45 litros, “Andorinha”,
45 litros, “Branca”, 35 litros, “Carriça”, 25 litros diários. O mesmo
acontecia com o número de coelhos, perus, galinhas e a quantidade de
ovos, sendo 102 de galinha e 23 de pata. Também incluía os animais que
morriam por doença.
Costumavam-se matar quatro porcos
por ano, sendo o matador, António Simões Lares.
/ 166 / Em 1905, a condessa escreve, desde
a Aldeia de Baixo, Armamar (onde em 1865 o seu sogro Francisco tinha
comprado casas térreas), ao seu bom amigo, Ernesto Diegues, dizendo que
lhe manda 50.000 réis para as despesas das quintas e que não se esqueça
de os lançar na caderneta. (Francisco Cardoso Valente nasceu na Aldeia
de Cima, onde em 1907 são referidos trabalhos na Quinta).
Em setembro de 1912, a condessa
foi intimada para enviar a Cacia todos os seus cavalos e éguas para
serem apresentados à Junta de Inspeção e classificados por causa da
Defesa Nacional.
De 12.1914 a 01.1915: despesas
7.280 réis, receita 325.945 réis.
Em 1920, a seguradora Nova
Companhia de Seguros Douro, informa que recebeu da condessa, 22$68 e
14$00 pelo prédio seguro contra fogos e sobre o prédio da Quinta de
Taboeira relativo ao 13º ano que terminara.
Já em 1924, o criado da Quinta,
João Oliveira, vende, no celeiro, milho a 20,000 réis e feijão a 42.000
réis a medida de 20 litros. Em 1933 foi pago a 13.500 réis cada alqueire
de trigo de 15 litros.
Dez anos depois, 1934: receitas
1.033$00, despesas 2.710$60. Em janeiro de 1940, as despesas foram de
229$45 e as receitas de, 2.905$70. (No Natal de 1940 foi dado ao
carteiro do solar, José Ferreira, a quantia de 10 mil escudos).
Em 1955, um alqueire de trigo (15
litros) custava 31$50.
Descrevia o tipo de sementeiras, a
apanha das batatas, a manteiga que se fazia (5 kg), a tiragem do estrume
dos currais, o “lançamento” das vacas ao boi de cobrição, a venda de
vinho (845 litros a 30$00 o litro em 1969), a despesa com os jornaleiros
e as rendas dos foreiros, etc.
Por fim, e na rubrica “Receita” e
“Despesas”, o saldo a favor da casa, dinheiro entrado, litros de leite
vendido (fevereiro de 1969, 104 litros a 3$34), soma, despesas e saldo
para a folha n.º… a favor da casa e que transitava para a folha do mês
seguinte.
A escrita, na Quinta, fazia-se
numa folha impressa e, no caso, tratava-se da “Folha Semanal de 7 a 8 de
novembro de 1969”. Quem preenchia a folha era o feitor, desde que
soubesse ler e ecrever. Nesta semana, em concreto, estranha-se na
rubrica “Receita”, que o saldo vindo da semana anterior, mais o
rendimento da Quinta se cifrasse em 2.770$80 e as depesas em 4.950$80.
O próprio feitor referia que
repunha do seu bolso a quantia de 2.280$00. Já na semana seguinte, entre
8 e 15 de novembro de 1969, o saldo era a favor da casa no valor de
2.603$00. Estas oscilações monetárias tinham a ver com o pagamento dos
foros e rendas de propriedades fora dos muros da Quinta,
/ 167 / demonstrando que o rendimento da Quinta
não era suficiente para cobrir as despesas da mesma.
Em folhas separadas, com o título
“Rendas” (1974), vinha o nome de algumas das propriedades, situadas em
Taboeira e Cacia, tais como: Murraçal, Terços ou Cupidos, Loure, Tapada
da N.º S.ª da Conceição, Bunhal, Tapadas Novas, Monte do Vale Negro,
Monte do Vale dos Ribeiros, Vala Baixa do Bunhal e Quartos ou Bicos,
estando, esta última, indicada como propriedade número 285 (cartorze
destas propriedades eram exploradas pela dona). Também vinham, nas
folhas, os nomes dos arrendatários, o valor da renda e se esta estava
paga. Esta escrita era feita pela proprietária D. Arcelina, pela Rosa
Nogueira ou pelos feitores e também pela empregada Rosa Patrocínia,
nascida em 1915 e que trabalhou de 1928 até 1941, pois o feitor João
Oliveira era analfabeto (foi a professora D. Glória da Assunção Costa
Lemos que ensinou a ler a Senhora Rosa.)
No inventário nº 252 de Francisco Cardoso Valente, pai do conde, há
referência a um pinhal sito ao pé
da Fonte, Freguesia de Esgueira, confrontando a Norte com Manuel Marques
de Almeida, Nascente com Joaquim António Formiga, Vidas
/ 168 / do Sul com Francisco Carvalho Saldanha e do Poente com
Ricardo Fernandes de Jesus, avaliado em 500$000.
Recuando um pouco no tempo,
sabe-se que, em 1693, os enfiteutas do campo Paúl eram várias pessoas de
Taboeira.
Em 1683 dá-se a “Apelação para ...
(.... ... transcritas apenas as
4
primeiras páginas) ... ...)
________________________
80 O comprador das sangrias de
resina dos pinheiros, conhecido por Artur Madeireiro, ofereceu 7$50 por
cada uma, em maio de 1975. |