Vidas Atribuladas: Condessa de Taboeira e D. Arcelina Valente Moreira, Aveiro, 2013, 254 págs.

Quinta de Taboeira

A Quinta, onde está implantado o solar, a capela e anexos, situa-se no extremo este da aldeia, tendo as entradas viradas a norte. A sua área era de 156.520 m2.

O solar era rodeado por um jardim, com lagos e frondosas e variadas árvores, no meio das quais havia um campo de ténis. Em 1975, o feitor Manuel Soares escrevia a D. Arcelina: o ténis precisa ser arrancadas todas as ervas, pois está a parecer mal. Havia, também, uma enorme eira, para debulhar os cereais ou servir de espaço para festas.

O pomar incluía, então, 250 árvores de fruto diverso e mais de três mil cepas.

A condessa encomenda, no Porto, três barris de sulfato de cobre, três sacos de cal da Figueira, seis sacas de enxofre moído.

A Quinta, dos lados norte e nascente, era rodeada de terrenos com produção específica como bunho e murraça. Entre a aldeia e o Rio Vouga, tinham áreas com os nomes: Campo do Tojo, Samouqueira, Sargaça, Longas, Grota, Gramões, Brejo e outras. Do lado sul, era ladeada por estradas e pinhais.

Nas cercanias da Quinta, havia propriedades dispersas de terreno destinado a ervagem, para cultivo de milho, arrozal, terreno alagadiço (sapal), onde proliferava a tábua, de arvoredo diverso, onde se incluía o pinheiro80.

A seguradora, Nova Companhia de Seguros Douro, informa que recebeu da condessa, 22$68 e 14$00 pelo prémio de seguro contra fogos sobre o prédio da Quinta de Taboeira, relativo ao 13º ano que terminou.

A Quinta era gerida, no aspeto económico, com muito rigor, na continuidade do que o pai do conde, Francisco Cardoso Valente, fazia em relação às muitas propriedades que possuía, dispersas por vários pontos do país, com incidência em Lisboa, Coimbra, Espinho, Granja, Porto e zonas do Pinhão, e se constata através do “Livro dos caseiros e foreiros da Quinta de Taboeira, n.º 1, de 1887 a 1894”.

Tinha-se recebido de rendas, foros e géneros vendidos 690.880 réis. Aproximadamente em 1886, F.C.V. deu a Quinta, como prenda de casamento, ao filho João Cardoso Valente.

/ 165 / Em 1902, o livro tinha como título “Folha Semanal da Quinta de Taboeira” e, nas folhas semanais, transcrevia-se a atividade e produção da Quinta, onde trabalhavam quinze mulheres e oito homens, tendo como feitor Victor Gaspar Américo Simões Aires que trabalhou na Quinta de 1940 a 1955, e diz que, nessa época, o feitor era o João de Canelas, que gostou muito de trabalhar lá, porque era tudo boa gente, e que, como era perto, vinha comer a casa. Em 1964, a folha inclui o nome dos trabalhadores: Francisco, Manuel José, Eduardo, João Cardoso, João Martins, José Moreira, Vitorino, António José, Avelino José, Boga, Fabião, Joaquim Romão, José Nogueira, Josefa, Mónica, Teresa Maria, Maria Rosa, Rita, Lurdes, Adélia, Núncia, Fátima Rema, Ricardina, Nazaré, Olivia, Celeste e o feitor Manuel Soares, conhecido por Manuel Escudeiro, que viria a casar com Emília, empregada
da casa, para que conste. O desentendimento entre trabalhadores também acontecia.

Em outubro de 1904, a folha incluia os salários da criada Júlia Nunes, Maria Felícia, criado Joaquim Matos e feitor Victor Gaspar.

Pela vala negra que desemboca no rio Vouga, a partir de Samouqueira e a vala de Eirinha que acompanha a Quinta pelo norte e que vem dos campos de Eixo e dos ribeiros de Horta, vinha peixe e berbigão da Torreira, que eram anunciados com um búzio. Trocavam o peixe por feijão e toucinho.

Também as vacas leiteiras eram mencionadas, assim como a sua produção.

“Pomba”, 45 litros, “Andorinha”, 45 litros, “Branca”, 35 litros, “Carriça”, 25 litros diários. O mesmo acontecia com o número de coelhos, perus, galinhas e a quantidade de ovos, sendo 102 de galinha e 23 de pata. Também incluía os animais que morriam por doença.

Costumavam-se matar quatro porcos por ano, sendo o matador, António Simões Lares.
/ 166 / Em 1905, a condessa escreve, desde a Aldeia de Baixo, Armamar (onde em 1865 o seu sogro Francisco tinha comprado casas térreas), ao seu bom amigo, Ernesto Diegues, dizendo que lhe manda 50.000 réis para as despesas das quintas e que não se esqueça de os lançar na caderneta. (Francisco Cardoso Valente nasceu na Aldeia de Cima, onde em 1907 são referidos trabalhos na Quinta).

Em setembro de 1912, a condessa foi intimada para enviar a Cacia todos os seus cavalos e éguas para serem apresentados à Junta de Inspeção e classificados por causa da Defesa Nacional.

De 12.1914 a 01.1915: despesas 7.280 réis, receita 325.945 réis.

Em 1920, a seguradora Nova Companhia de Seguros Douro, informa que recebeu da condessa, 22$68 e 14$00 pelo prédio seguro contra fogos e sobre o prédio da Quinta de Taboeira relativo ao 13º ano que terminara.

Já em 1924, o criado da Quinta, João Oliveira, vende, no celeiro, milho a 20,000 réis e feijão a 42.000 réis a medida de 20 litros. Em 1933 foi pago a 13.500 réis cada alqueire de trigo de 15 litros.

Dez anos depois, 1934: receitas 1.033$00, despesas 2.710$60. Em janeiro de 1940, as despesas foram de 229$45 e as receitas de, 2.905$70. (No Natal de 1940 foi dado ao carteiro do solar, José Ferreira, a quantia de 10 mil escudos).

Em 1955, um alqueire de trigo (15 litros) custava 31$50.

Descrevia o tipo de sementeiras, a apanha das batatas, a manteiga que se fazia (5 kg), a tiragem do estrume dos currais, o “lançamento” das vacas ao boi de cobrição, a venda de vinho (845 litros a 30$00 o litro em 1969), a despesa com os jornaleiros e as rendas dos foreiros, etc.

Por fim, e na rubrica “Receita” e “Despesas”, o saldo a favor da casa, dinheiro entrado, litros de leite vendido (fevereiro de 1969, 104 litros a 3$34), soma, despesas e saldo para a folha n.º… a favor da casa e que transitava para a folha do mês seguinte.

A escrita, na Quinta, fazia-se numa folha impressa e, no caso, tratava-se da “Folha Semanal de 7 a 8 de novembro de 1969”. Quem preenchia a folha era o feitor, desde que soubesse ler e ecrever. Nesta semana, em concreto, estranha-se na rubrica “Receita”, que o saldo vindo da semana anterior, mais o rendimento da Quinta se cifrasse em 2.770$80 e as depesas em 4.950$80.

O próprio feitor referia que repunha do seu bolso a quantia de 2.280$00. Já na semana seguinte, entre 8 e 15 de novembro de 1969, o saldo era a favor da casa no valor de 2.603$00. Estas oscilações monetárias tinham a ver com o pagamento dos foros e rendas de propriedades fora dos muros da Quinta, / 167 / demonstrando que o rendimento da Quinta não era suficiente para cobrir as despesas da mesma.

Em folhas separadas, com o título “Rendas” (1974), vinha o nome de algumas das propriedades, situadas em Taboeira e Cacia, tais como: Murraçal, Terços ou Cupidos, Loure, Tapada da N.º S.ª da Conceição, Bunhal, Tapadas Novas, Monte do Vale Negro, Monte do Vale dos Ribeiros, Vala Baixa do Bunhal e Quartos ou Bicos, estando, esta última, indicada como propriedade número 285 (cartorze destas propriedades eram exploradas pela dona). Também vinham, nas folhas, os nomes dos arrendatários, o valor da renda e se esta estava paga. Esta escrita era feita pela proprietária D. Arcelina, pela Rosa Nogueira ou pelos feitores e também pela empregada Rosa Patrocínia, nascida em 1915 e que trabalhou de 1928 até 1941, pois o feitor João Oliveira era analfabeto (foi a professora D. Glória da Assunção Costa Lemos que ensinou a ler a Senhora Rosa.)
No inventário nº 252 de Francisco Cardoso Valente, pai do conde, há

referência a um pinhal sito ao pé da Fonte, Freguesia de Esgueira, confrontando a Norte com Manuel Marques de Almeida, Nascente com Joaquim António Formiga, Vidas / 168 / do Sul com Francisco Carvalho Saldanha e do Poente com Ricardo Fernandes de Jesus, avaliado em 500$000.

Recuando um pouco no tempo, sabe-se que, em 1693, os enfiteutas do campo Paúl eram várias pessoas de Taboeira.

Em 1683 dá-se a “Apelação para ...

(....   ...  transcritas apenas as 4 primeiras páginas) ...   ...)

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80 O comprador das sangrias de resina dos pinheiros, conhecido por Artur Madeireiro, ofereceu 7$50 por cada uma, em maio de 1975.

 
 

21-03-2014