A ALDEIA —
HISTORIOGRAFIA
I
... O facto
de antes de Vilar ser mencionado pela primeira vez “por direito real a 4 de Agosto de 1515” — e mesmo assim
dependendo de Esgueira, esta já mencionada em 1057 — serem
referidos Eixo em 1095, Cacia em 1096, Sá em 1146, Eirol e
Verdemilho em 1166, Costa do Valado em 1176 e Aradas e seu
Foral em 1181 entre outras, leva-nos a concluir que a aldeia
deve ter surgido como povoado muito mais tarde do que as
terras circunvizinhas.
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Largo da Fonte das
Pedras - «O cartão de visita da Aldeia!...» |
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Mesmo o seu
nome Vilar, sinónimo de aldeola, lugarejo, ou seja lugar
pequeno, sem importância, confirma que não deveria passar de
terrenos que começaram a ser desbravados e cultivados em função
das necessidades do futuro Aveiro que se ia povoando — em
1527 Aveiro tinha 1460 “vizinhos”(1),
Esgueira 311, Ílhavo 130, Eixo 109 e Aradas 27!... —
acrescendo às suas necessidades alimentares, mesmo havendo a
convicção que durante muitos séculos a vocação dos
aveirenses esteve virada para a pesca e a fabricação do sal,
já referido em 959 quando a Condessa Mumadona Dias doava as
suas salinas que possuía em Alavarium — mas cultivando as
suas terras mesmo ali onde são os bairros da actual Beira-Mar
e Sá, como se pode provar pela dádiva de Gil Homem Fidalgo
da Casa do Rei em 1580, dando por aforamento um pomar, vinhas
e hortas para que se abrisse uma rua e construíssem setenta
casas no chamado Campo do Frade (Ruas do Carril, Primeiro
Visconde da Granja e Dr. M. L. Nogueira), e muito mais tarde,
em 1902, António Luiz de Sousa, piloto-mor da Barra, ceder a
Quinta da Apresentação, que ia desde o Largo da Apresentação
até à Rua Dr. Jorge Lencastre, para a construção de casas
no Bairro piscatório, havendo também referências ao cultivo
onde hoje são as marinhas do Posso, conhecidas em 1524 pela
Ilha do Trovisco, doada por D. Manuel 1 a Jorge de Lencastre
Duque de Coimbra que a afurou a Simão Pedro para que este as
pusesse em condições de produzir pão!... — De resto, as
terras que ladeavam o vale de Vilar deveriam ser insalubres até
ao baixamento do nível do mar e o fechamento do cordão
litoral, pois a água salgada devia invadir o citado vale. Em
1059 havia marinhas de sal em Alquerubim, de cota mais
elevada, sendo uma incógnita o nome de Siilhas
(hoje Cilhas) que significa muro divisório nas marinhas
de sal... — O cordão litoral só se começou a formar no século
XI, aparecendo o primeiro regueirão natural (barra) na
Torreira à volta de 1200 — a reentrância ia desde Espinho
até ao Cabo Mondego, havendo na época uma enorme chanfradura
tal como está traçado no mapa de Petrus Visconti de 1318.
Cacia seria aquilo a que hoje denominamos de entrada da Barra.
II
A primeira
referência a Vilar que se conhece remonta a 1 de Julho de
1506. Como grassava na vila de Aveiro uma peste — “. . . Villa Daveiro estava impi(di)da por bem da pestilença” — foi
mandado por El-Rei que... (“...E
foi ter o dito juis ao Marquo do Valle de Villar termo da dita
Villa Daveiro que he acercua da forqua (Forca) da
dita Villa Daveiro”.
Sabe-se da
existência de uns marcos de pedra a limitar a área dos
terrenos dos Duques de Aveiro que se estendiam pela zona da
Sta. Rita. Um, diz-se, foi parar ao Museu do Major Lebre em
Verdemilho, outro está numa parede do Museu de Aveiro. É uma
pedra com aproximadamente
1.00x0,30x0,20 com um escudo esculpido.
III
A segunda
referência, já atrás referida, data de 4 de Agosto de 1515
e é relativa ao foral outorgado por D. Manuel I e consta “Villar
— e pagasse mais
por direito rreal aalem dos outros fouros das novidades pollos
moradores do villar pollas ruas e agoas dos montados todos
vinte soldos antigos pos Sam Miguel que sam quinhentas livras
a quinhentos por uma que eram da moeda do fazimento do dicto
tombo trimta bramcos e mais a rreçam e sam desta moeda vimte
e cinquo rreales.
E vay escripto e comcertado em vimte e sinco
folhas e este mea per mym Fernam de Pyna
El Rey”
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Planta antiga de autor
espanhol - finais do séc. XVIII |
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IV
A terceira
referência data de 1572, quando o Bispo de Coimbra, achando
que as “mais de onze mil almas de cura, afora muita gente
estrangeira”, distribuídas em cerca de “dois mil
vizinhos” ou famílias(2),
constituíam uma população demasiada para uma só paróquia,
dividiu o território em quatro freguesias, ficando Vilar a
pertencer à freguesia do Espírito Santo que se estendia para
o Sul das muralhas.
Outras referências
lembram que, em 15 de Setembro de 1574, João Jorge Rolão
tendo de ir ao mar fez um testamento em que deixava cento e
cinquenta reis a Santo Amaro de Villar para as paredes da
casa. A capela volta a ser referida a 6 de Outubro de 1577.
A 12 de Março
de 1729 era referido que a Igreja do Espírito Santo,
freguesia a que Vilar pertencia, era da Ordem de 5. Bento de
Avis.
A 6 de Março
de 1804 o Príncipe D. João autorizou a reforma do Tombo da
Irmandande do Santíssimo Sacramento, verificando-se que esta
confraria ainda possuía entre outras coisas “um
foro de 4$800 pago por José Fernandes Viera de Villar por
escritura”.
Em 1822 a
Irmandade do Santíssimo Sacramento da Freguesia da Nossa
Senhora da Apresentação através do livro de bens desta
associação demonstra que tem bens em Vilar...
V
Na Torre do
Tombo em Lisboa — recentemente foi inaugurado novo edifício
para arquivo histórico — na sala B, estante 54, entre
outras espécies do cartório daquele Mosteiro deram entrada
em 1879, entre as quais tem o n2 7 o Foral de
Esgueira e no que respeita a Vilar... aproveitou o Foral de
Aveiro dado por D. Manuel a 4 de Agosto de 1515 (Livro de
Forais Novos da Estremadura, Fl. 207 V., Col. II).
A parte que
trata da povoação encontra-se na folha 109 v.: “... Vilar
— Povoação da
freguesia da Glória Conc. e Com. de Aveiro tem correio, PC 3,
Censo de 1940, 530 habitantes”.
...Em
Portugal há 121 aldeias e 5 freguesias com o nome de Vilar!...
(1)
Vizinho, com o significado de família, fogo, casa habitada (Vd.,
por exemplo, Frei Bernardo de Brito, em Monarquia Lusitana, V,
pg. 158: “.. .quantos vizinhos tem este lugar”).
(2)
Noutro documento se diz que eram 11.365 habitantes de comunhão,
portanto sem contar as crianças.
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