Vilar, Doce e Poético Cantinho

APRESENTAÇÃO

Também eu, de certo modo, me sinto ligado a este “doce e poético cantinho”, o lugar de Vilar, da Paróquia de N.ª Sr.ª da Glória. Por aqui se passaram os meus anos de juventude sacerdotal dando, nestes mais de vinte anos, a minha presença evangélica, no serviço e na amizade, a todos sem distinção.

O ambiente rural que por aqui ainda se respira, faz-nos sentir a proximidade com a terra-mãe, amassados que somos, diariamente, no pó da terra que partilhamos.

Vilar é um “cantinho” rural que, todavia, pela proxi­midade da cidade de Aveiro e do seu forte e rápido desenvolvimento, vai perdendo as características da aldeia que tanto nos põe no rico contacto com a natureza.

Neste caminhar dos tempos, atropelam-se costumes e valores, que é preciso não ficarem na escuridão dos tempos, perdidos e para sempre ignorados; dos mais velhos, esfuma-se a memória de pessoas e factos que os mais novos jamais conheceriam se não se consignassem em caracteres arruma­dos e duradoiros.

Ao João Lemos se deve esse serviço, a que todos estamos imensamente gratos.

Cada um de nós é também a sua história. O indivíduo tem a condicioná-lo o grupo, o ambiente, a terra, os costumes e a vida que o envolvem. Ao falar-se de alguém, nunca se pode omitir a sua história; ela explica, tantas vezes, o aparentemente inexplicável; cada indivíduo encontra ao menos uma resposta específica dentro do circulo em que nasceu ou cresceu. Quando queremos conhecer bem grupos de indivíduos temos sempre de ir à procura das suas circunstâncias, isto é, da sua historia.

Este trabalho, agora tornado público, é um contributo de riqueza incalculável, para sabermos um pouco mais de Vilar e das suas admiráveis gentes, e para entendermos melhor maneiras de ser e reacções próprias que as caracterizam.

A Acção Católica Rural lançou um programa de acção para estes anos, do máximo interesse. Logo, o Núcleo de Vilar, através da sua dinâmica Direcção, “agarrou” e dinamizou localmente o tema geral da campanha, “A Aldeia que eu quero no Portugal Europeu”, e deu execução aos eixos ou áreas de actuação escolhidos pelo Movimento de Acção Católica, e que são os seguintes: social, económico, cultural e religioso.

É aqui que se situa a boa colaboração do vilarense João Lemos, sempre atento ao evoluir social de pessoas e tempos. A Direcção bateu-lhe à porta, que logo se abriu em gesto de franqueza e de sadia colaboração que, aliás, veio de encontro ao que, de há muito, vinha já ocupando tempo e gosto do autor.

Olhando com atenção, verificamos as profundas e variadas mudanças do meio rural, resultantes das mais variadas influências provenientes de todos os lados e cul­turas, a que não é alheia a progressiva integração de Portugal na Comunidade Europeia. Estas mudanças vão alterando, gradualmente, a vida dos rurais; e Vilar não é excepção.

E se é urgente gravar a raiz de um povo, para que se não percam referências, não é menos verdade que não se pode evangelizar sem primeiro se conhecer a sua realidade concreta.

Podemos, pois, ter nas nossas mãos e com ela alimentar a nossa real curiosidade, uma monografia de Vilar, com o sugestivo título: “Vilar, Doce e Poético Cantinho”, saída de noites e dias a fio, do vilarense João P. Lemos.

O povo de Vilar — e não só — deve-lhe e agradece-lhe este exaustivo trabalho de pesquisa, que vem enriquecer o património cultural da cidade e do país.

A partir da sua leitura, cada cantinho de Vilar passará a ser mais poético e mais doce!

Obrigado, João Lemos. Obrigado, Acção Católica Rural.

PADRE JOÃO GONÇALVES

Aveiro, Abril de 1992


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