A Ria de Aveiro - Um olhar resvés

 

AOS AMANTES DA RIA E AOS OUTROS

 

Este meu pequeno livro tem o intuito de despertar as consciências para o grave problema que é a destruição e sobretudo a poluição da nossa Ria.

Ele pretende ser talvez formativo e informativo, contendo também, indelevelmente, pequenas estórias, para que todos os aveirenses, e também os outros, conheçam e valorizem a Ria, de forma a evitar a sua degradação.

Curiosamente, poucos aveirenses “vivem” a sua Ria. Os tempos livres podiam ser passados a usufruir da beleza ímpar com que a natureza nos presenteou.

Um passeio às marinhas num pequeno barco a remos “até ao outro lado” (que as lanchas grandes e velozes correm para a entrada da barra para bater recordes de pescarias), uma noite passada num palheiro longe do bulício da cidade, vendo por cima do recorte da montanha o crepúsculo. o raiar do dia, aquele despontar da alvorada, o sol quente traçando no espelho d’água o seu fulgor perspectivando um dia abrasador de Verão.

Há um silêncio mágico acordado por um bater cavo e cadenciado de remos, e o piar agudo e nostálgico duma andorinha do mar.

Na magia das lonjuras. os recortes dos montes de sal, dos palheiros, da cidade ainda em sombras a espraiar-se aos nossos olhos, o ângulo de ataque dum bando de aves voando para onde não sabemos. o som do marulhar das ondas no mar da nossa costa atlântica.

O céu azul duma palidez suave, sem nuvens, a água correndo pelos esteiros, alagando ou vazando, cumprindo o seu fadário no sobe e desce.

E o homem deseja-se nu sorvendo aquela dádiva da mãe natureza... no findar do dia, o ar morno, cálido, leva-o à meditação e, voltando o silêncio, olhamos maravilhados o poente onde o sol, no seu progressivo e lento ocaso, vai deixando um rastro, colorindo de tons rubros uma faixa infindável no espelho d’água; e os sucessivos muros das marinhas e dos esteiros a recortarem-se de sombras salpicadas pelo facho descontínuo da luz amarelada do farol.

O sol já desapareceu e durante largos tempos permanece o tom rosa suave que nos empolga.

E quando essa palidez fenece, o céu permanece dum azul-chumbo, pejado de estrelas cintilantes, invadindo-nos uma melancolia e um silêncio profundo, sorvendo o ar varrido!...  

Neste meu despretensioso, mas tão sonhado livro, alguns acontecimentos narrados são fruto da própria vivência, tendo, no entanto, a consulta de obras já publicadas sido de extrema importância para a sua realização. Outros conhecerão esta nossa Ria melhor do que eu. e por isso será sempre bem-vindo qualquer contributo para o enriquecimento desta modesta obra.


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