A Anita reboca um amigo com a bicicleta.

 

Trrim, trrim, trrim...

São os amiguinhos de Anita que fazem uma corrida de triciclo em volta do coreto.

— Atenção! — diz uma menina. — Aí vem o pelotão.

Aí vem ele! Está a chegar!

— O Francisco é o primeiro.

— Não, o Bernardo ultrapassou-o! São dois futuros campeões.


O programador destas páginas quando tinha 4 anos de idade e gostava de tricicletar.

MENINOS

Sentado à soleira da porta
Menino triste
Que nunca leu Júlio Verne
Menino que não joga bilboqué
Menino das brotoejas e da tosse eterna

Contempla o menino rico na varanda
Rodando na bicicleta
O mar autónomo sem fim

É triste a luta de classes.

MURILO MENDES, In: Os quatro elementos  


Antes da roda

Antes da descoberta da roda os transportes por terra realizavam-se, por exemplo, por meio de deslizamento. As grandes estátuas do Egipto foram arrastadas dessa maneira por centenas de escravos.

Outro método consistia em rebocar os objectos sobre uma armação puxada por cavalos, como acontecia entre os índios.


A BICICLETA


Celerífero

A primeira bicicleta surgiu em 1790. Um francês, talvez só para se divertir, construiu o celerífero. Era uma espécie de cavalo de madeira com duas rodas: uma entre as patas dianteiras, e outra entre as de trás; o veículo movia-se com «acção de sola», ou seja, o próprio ciclista apoiava os pés no chão e assim ia tocando o negócio para a frente.  

Em 1816, Jean Niepce lançou o celerípede: era quase igual ao invento anterior, mas sem a cara e o jeito do cavalo. De todas essas tentativas resultou, em 1818, a laufmaschine, do barão Karl von Drais, no então grão-ducado de Baden, hoje parte da Alemanha. 

A nova versão apresentava duas novidades: o guidão e o selim, que até hoje permanecem. O guidão dava direcção ao veículo e o selim, mais conforto para sentar. 


Biciclo


Bicicleta de Fisher

Em 1852, outro alemão, Philip Fischer, ajustou pedais às rodas dianteiras por meio de uma manivela. Estava aberto o caminho para o velocípede, que seria um dos inventos mais populares do fim do século XIX. No princípio, as rodas eram de madeira.

 Em 1865 surgiram as metálicas, com uma camada de borracha maciça. A roda dianteira tornara-se enorme, para dar maior velocidade ao veículo. 

Mas em 1878 os franceses Guilmet e Mayer criaram a transmissão em cadeia: combinação, por uma corrente, de uma roda dentada aplicada ao pedal e outra, igualmente dentada, aplicada à roda traseira do veículo. Assim economizava-se esforço do ciclista e ganhava-se velocidade, sem necessidade de exagerar o tamanho das rodas motrizes.


Bicicleta com corrente

Depois vieram os pneumáticos e a transmissão livre, que faz a roda posterior continuar girando mesmo quando o ciclista deixa de pedalar...  


Como se vê pela relação entre o peso da força motriz e o efeito conseguido, para se obter maior eficácia, deve-se destinar pouco peso por cavalo de potência e reduzir ao máximo as dimensões da máquina. A expressão “cavalo de potência” é apenas uma recordação histórica.

A CIDADE DOS AUTOMÓVEIS

Na cidade, os automóveis estavam por toda a parte.

Noite e dia roncavam, buzinavam, fumegavam, atropelavam.

Na cidade ninguém conseguia dormir.

Os automóveis eram os donos da cidade.          

Como ninguém dormia, todos foram perdendo a memória a pouco e pouco.

Começaram por esquecer onde tinham arrumado o carro na véspera... mais tarde ninguém se lembrava qual o carro que lhe pertencia...

Certo dia os habitantes da cidade dos Automóveis verificaram mesmo que já não sabiam guiar nem se conheciam uns aos outros.

Era preciso desembaraçarem-se dos automóveis. Era preciso que os automóveis desaparecessem para sempre...

Foi então que o rapazinho da flauta mágica começou a tocar.

E os automóveis seguiram-no enfeitiçados até à grande montanha de sucata.

E foi assim que a cidade se libertou dos automóveis que noite e dia roncavam, buzinavam, fumegavam, atropelavam.

Finalmente todos podiam dormir sossegados!

Quando três dias mais tarde os habitantes da cidade acordaram, deram-se conta que tinham recuperado a memória.

Todos se reconheceram.

Todos ficaram amigos.

Todos descobriram que é bom andar a pé... (*)  

MARIA CÂNDIDA MENDONÇA in: A Cidade dos Automóveis

 

        (*) ...OU QUANDO MUITO DE BICICLETA — acrescentamos nós.

>>>

Página anterior          Página inicial          Página seguinte