NÚMERO ESPECIAL DE CORRIDA ONDE SE FALA DA BICICLETA E DOS HOMENS QUE A PEDALAM OU NÃO...  BREVE ANTOLOGIA DE TEXTOS EM GLÓRIA DA BICICLETA... - ESSA DESCONHECIDA!!! NATAL DE 1984

OS CICLISTAS

A Vasco de Magalhães - Vilhena

Com um surdo rumor de escavadora
ressoa no subsolo a tua voz.
Muitos tapam os ouvidos delicados.
Outros escondem-se para a não ouvir.
E outros estremecem de pavor.
Mas, rápidos, os ciclistas pedalam
na bruma dos subúrbios ao teu encontro.
Rosto baixo, mãos no guiador, pés
bem firmes nos pedais, geram
o movimento, o ritmo alado
das máquinas frágeis que cavalgam
ao amanhecer. Perpassam como espectros
sob a bruma e juntam-se, confluem,
avançam como um rio poderoso
sobre a cidade adormecida.
Os ciclistas. Os que erguem os andaimes
E fazem girar os fusos dos teares.
Os que movem as gruas. Os que transportam
O dinamite nas mãos calosas.
Os que não sabem envelhecer de tédio
à mesa do café nem vivem de mercadejar
preservativos, palavras, casas pré-fabricadas.
Os que não sonham morrer em glória
como jovens deuses trespassados na batalha.
Os que não hão-de apodrecer, como muitos
de nós, roídos de lepra e desespero.
Esses merecem bem a tua voz, Orfeu.

PAPINIANO CARLOS, in: “A ave sobre a cidade”, 1973


roda livre

como um barco desliza
no alcatrão molhado
-
é asa ou carícia  
sulcando o asfalto?

mal poisa seu rasto
sobre o fio de água
mais parece um risco
veloz no espaço  

pudesse soltar-se
do resto da canga
mas é roda livre
no todo em que anda...

           Pinto da Costa  



Primeiro biciclo Michaux (1842)


Biciclo Michaux (1865)


Grande biciclo, chamado aranha


Primeira bicicleta (1880)


Bicicleta de grande quadro direito.


Bicicleta de senhora


Bicicleta tandem


Bicicleta militar de dobrar, do capitão Gérard


A mesma bicicleta dobrada

BICICLETA, s. f. (cfr. fr. bicyclette). Velocípede, de duas rodas, das quais a segunda é motriz.

— ENCLICL. As invenções que permitiram que a bicicleta substituísse o biciclo foram a transmissão do movimento por uma corrente e a multiplicação de velocidade obtida pelo diâmetro desigual das rodas de engrenagem. A primeira bicicleta foi construída em Inglaterra em 1880. A adopção das duas rodas iguais, do quadro completo e direito, do rolamento por esferas. constituíram os novos progressos que levaram à construção da bicicleta actual. O pedaleiro colocado na parte inferior do quadro, entre as duas rodas, está munido duma roda dentada que, por meio de uma corrente, transmite o movimento a outra roda dentada mais pequena, adaptada e solidária com a roda de trás ou motriz.

Nas bicicletas sem corrente, a transmissão e a multiplicação fazem-se por meio de uma haste metálica que liga os pedais à roda motriz numa engrenagem dupla em ângulo recto. A invenção dos travões cada vez mais fortes da roda livre, que permite descer as rampas sem fazer movimento algum, das mudanças de velocidade, etc., tornaram cada vez mais fácil o uso da bicicleta.

Há também bicicletas a motor de fraca potência. Assim transformou-se num precioso meio de locomoção para os operários e contribuiu para o desenvolvimento do turismo.

Contra-indicado em certas doenças, o uso moderado da bicicleta é salutar. — O capitão Gérard, do exército francês, inventou uma bicicleta desmontável para uso dos soldados ciclistas.  

Para fazer desaparecer as manchas de ferrugem das peças niqueladas das bicicletas, devem estas untar-se com vaselina. Deixa-se actuar a gordura durante alguns dias e depois esfrega-se com um pano molhado em amoníaco. Se ainda subsistirem algumas manchas, deita-se-lhes uma gota de ácido clorídrico que se limpa imediatamente; por último, lava-se com água limpa e dá-se-lhe o polido com pó trípoli muito fino.  

BICICLETISTA, s. 2 gén. O mesmo que biciclista.  

BICICLISTA, s.  2 gén. (de bi e do gr. Kyctos, círculo). Pessoa que anda em biciclo.  

BICICLIZAR. v. i. Bras. Andar em biciclo ou em velocípede.  

BICICLO, s. m. Velocípede de duas rodas, das quais a primeira é posta em movimento pela acção dos pés sobre os pedais.  

— ENCICL. O biciclo data de 1855, época em que Ernesto Michaux inventou o pedal. O biciclo foi construído, primeiro, de madeira e, depois, de ferro (1869). A roda foi revestida de borracha endurecida. Em 1875, inventou-se o aro em meia-cana, aperfeiçoando-se depois o biciclo, que se tornou cada vez mais leve; mas o seu uso continuava sendo perigoso por causa da diferença entre a altura da roda grande (1 m. a 1 m 50 de díâmetro) e a segunda, muito mais pequena, que ao menor obstáculo passava por cima da primeira, arrastando o ciclista. A aparição da bicicleta fez desaparecer o biciclo.  




Bicicleta motorizada


A roda

O uso de cilindros entre o chão e a carga, a fim de diminuir a resistência, constituiu um progresso importante. A roda foi descoberta quando se colocou sobre um eixo fixo.

            

As primeiras rodas eram maciças. Em seguida idealizou-se a roda com abundante cruzamento de raios; os inferiores suportam o peso do carro (à esquerda). Os primeiros tipos realmente leves apareceram com a roda de bicicleta: nesta, o peso era exercido nos fios delgados de arame.

Os solavancos do caminho são amortecidos pelos pneus. Melhorou a qualidade da borracha e as dimensões da roda aumenta­ram. A roda de disco tornou-se mais leve e o pneu mais grosso mas com pressão mais baixa, para proporcionar maior suavidade na marcha.  

A roda, a estrada e o motor

Roda, estrada e motor: eis os elementos imprescindíveis para o automóvel. O caminho percorrido até conseguir a perfeita coordenação entre esses três factores foi longo e dramático.

A roda é fundamental. Homens e quadrúpedes, ao andar, realizam movimentos para diante e para trás, adaptando-se às irregularidades do terreno: pernas e músculos são, pois, “veículos para todo terreno”, capazes inclusive de subir a uma árvore. Porém, o deslocamento da roda não é um movimento natural, por ser esta uma invenção puramente humana. A princípio, as cargas eram transportadas em veículos parecidos a troncos. Alguém teve a ideia de colocar cilindros na base desses veículos. O passo seguinte foi prover os cilindros de cubo e eixo, fixando-os ao tronco para não ter que mudá-los constantemente, Tinha sido inventada a roda! Muito tempo depois, em 1839, Goodyear introduziu a roda de borracha maciça, utilizada nas carruagens mais finas para atenuar as sacudidelas nos caminhos mais irregulares. Em fins do séc. XIX, Dunlop inventou a roda pneumática para as bicicletas, e os irmãos Michelin a correspondente para os automóveis.

 

A estrada é o meio sobre o qual se desloca a roda. A princípio era apenas uma trilha do terreno. As sendas surgiam com o uso, enchendo-se de água e de barro quando chovia. Com o tempo, porém, procurou-se solidificar os caminhos escolhidos para trânsito de veículos, Os romanos cons­truíram estradas de modo tão consciencioso que, em princípio, a sua técnica é usada até hoje (excepto no que se refere ao revestimento exterior). Com a aparição do motor e o aumento da velocidade dos veículos, um maior número de estradas tornou-se necessário. A presença destas precedeu e determinou o crescimento do automobilismo. Por esse motivo, a França, dotada de uma rede de caminhos rectos e sólidos, herdada da época napoleónica, foi o país onde primeiro se generalizou o uso do automóvel.

O motor desenvolveu-se através da máquina a vapor, cuja força procedia da energia calorífica. Tal máquina podia ser utilizada em barcos e locomotivas, mas não em veículos conduzidos por estrada, devido ao seu peso excessivo, Construído por Daimler, em 1885, o motor a explosão, accionado a gasolina, resolvia esse problema. Já antes da Primeira Guerra Mundial, o motor de automóvel e o transporte motorizado tinham atingido uma alta qualidade. Desde então tem havido grandes avanços no que se refere aos detalhes, ao material e aos meios motrizes.

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