The pretext-Iandscape expresses a model of idealized knowledge in the work by José Maia, winner of the Aveiro Award. The rationality, which is supposedly associated with sight, "disqualifies any pretense of natural perception in detriment of a reference to traditional elements in the history of art. Whether it be in terms of genre, electing the landscape as its theme, or in terms of construction and composition of the representation, when he draws an horizon whose genealogy takes us to the geometry of the horizontal line arising from the rationalistic demand of spatial representation. Over that line, José Maia projects an island-Iandscape, a kind of catalogue of fantastic geologies and floras, thus exploring the total limits of a gaze seduced by the objects, images and horizons of a place oblivious of reality. A landscape, that is capable of retaining the vision and of becoming, due to its alleged unreality, more of a landscape than the landscape itself.

"Repasto..." (Banquet) and "Colonização" (Settlement) by Pascoal Ferreira honorable mention in the field of Sculpture has also used the landscape as its theme and constructive element. The table and the chair, apparently mere structures of support, are nourished by the symbols associated to these two objects. The viewer is invited to digest the banquet that the landscape offers him, with his gaze, and to settle the space where he sits in order to do so.

The drawings of Inês Pessanha, recipient of the honorable mention in the field of Drawing, also present landscapes that possess a distinctive character. A landscape, that stems from a concept and then expresses itself through gestures and the overlay of images. The strategy is that of the creation of obstacles to the identification of what is presented; the feasibility reveals itself in the process of the chaotic overlay and accumulation of linear references and stains; a proposal of understanding is suggested by means of a stratified reading. It is a continuous process of re-education of the gaze, methodologically selective, which leads to the (re) construction and perception of images.

Using a visual language that reproduces an interior objectivity, the two paintings presented by Diana Costa are, in themselves, a process of resemblance to the materials that, as a whole, constitute registers of intimate routes to which the signs of an urban geography are no strangers. Both paintings, "Recomenda-se um a três sorrisos por dia" (We recommend one to three smiles a day) and "Sputnik meu amor" (Sputnik my love), are part of a series entitled "Second First Impression". A type of spatial ontology, these paintings can, because of that, and as a genre, be associated to a comprehensive notion of landscape. On one hand, they reflect an interior horizon, while they explore and register moments, pleasures or dissatisfactions; on the other, they express an external landscape, by delineating borders, circumscribed or open spaces, the overlay and stratification of colors, gestures and diversified registers. Diana Costa considers that the landscape is also a form of knowledge and not an illustration of reality.

From the horizontal, main characteristic of these landscapes, we now follow another constant direction, the verticality commonly associated to the portrait.

We should like to highlight the honorable mention in the field of photography awarded to Dalila Vaz. The language of the objects, the empirical experience of the spaces in that, wich is their expression, texture, color and local history are the starting point of the experience which the photographer undertakes. Going in a direction that she claims does not control and which occurs at random when questioning her gaze or the impression caused by the spatial truth. The result is an union between the photographer and that, which is photographed in a process of deconstruction, where the reinvention of different universes is assumed. The usage of the mask as a fake body, thus becomes the real face, also present in the photography that is used as a frame in one of the images. The methodology which is apparently expressed is not proposed as such. All happens naturally.

Elisabete Leite also chose the portrait as her subject of thought and reflection. ln 'Acessórios" (Accessories), the viewer is confronted with the realistic image of an elderly woman sitting in a bathroom surrounded by accessories described topographically. The laundry basket, the roll of toilet paper which she holds in her right hand, the floor mat, the soap dish, several containers placed in a metallic basket suspended in one of the corners of the room or a dressing gown folded over her knees covering part of her naked body. The irony of the representation is in the title chosen for the piece that initially captures the viewer at a glance towards elements which are secondary to the main theme that of that of amputation, in this specific case, a mastectomy. This painting is part of a series dedicated to the theme of amputations, and is the follow-up to a series about obesity. The artist has no intention of theorizing the themes she chooses; they are merely the pretext to express deformity through painting, a means to portray the transformation of the body due to mutilation.

Finally, Mário Vitória's work, "Santíssima Trindade" (Holy Trinity), portrays the alleged ritual of the covenant made between the Father, the Son and the Holy Ghost. Following a centralized compositlon, the narrative is developed based on a central core of three figures. Above them, an obedient man-dog lies submissively with his belly up; to the right, a bear more human than Man itself howls as a means of protest towards agreement. Three other figures, the same represented in the centre, are distributed in the remaining pictorial surface space balancing the displayed forces of tension. One of the characters is laughing, placing his hands over his ears like somebody who claims that he is not hearing. Another one places his hands in the shape of a shell claiming that he knows nothing, and finally, the third one, in the left-hand top corner, reveals an exempt from responsibility expression. The underlying moral is obviously a metaphorical criticism to international political and economical agreements that do not spare any means in order to attain their goals.
 

Uma paisagem-pretexto enuncia em José Maia, vencedor do Prémio Aveiro, um modelo de conhecimento idealizado. A racionalidade supostamente associada ao olhar desclassifica qualquer pretensão perceptiva de ordem natural em detrimento da referência a elementos tradicionais da história da arte, quer em termos de género, elegendo a paisagem como temática, quer em termos de construção e composição da representação, quando traça uma linha de horizonte cuja genealogia nos leva à geometria da linha horizontal fruto da exigência racionalista da representação espacial. Sobre essa linha José Maia projecta uma paisagem-ilha, uma espécie de catálogo de geologias e floras fantásticas, explorando, deste modo, todos os limites de um olhar seduzido pelos objectos, imagens e horizontes de um lugar ausente da realidade, uma paisagem capaz de reter a visão, e de se tornar, pela sua suposta irrealidade, mais paisagem que a própria paisagem.

"Repasto…” e “Colonização” de Pascoal Ferreira – menção honrosa de escultura – têm também como temática e elemento construtivo a paisagem. A mesa e a cadeira, aparentemente meras estruturas de suporte, são nutridas pela simbologia associada a estes dois objectos. O espectador é convidado a digerir com o olhar o repasto que lhe oferece a paisagem e a colonizar o espaço onde se senta, para o fazer.

Paisagens de um carácter distinto são também os desenhos de Inês Pessanha, vencedora da menção honrosa de desenho. Uma paisagem que parte de um conceito e se expressa na gestualidade e sobreposição de imagens. A estratégia é a da criação de obstáculos à identificação do representado; a exequibilidade revela-se no processo de justaposição e acumulação caótica de referentes lineares e manchas; uma proposta de compreensão indicia-se numa leitura estratificada. Trata-se de um processo contínuo de reeducação do olhar, metodologicamente selectivo, que conduz à (re)construção e percepção de imagens.

Usando uma linguagem visual que reproduz uma objectividade interior, as duas pinturas de Diana Costa são, em si mesmas, um processo de aproximação aos materiais que, no seu conjunto, constituem registos de percursos íntimos a que não são estranhos indícios de uma geografia urbana. Ambas, “Recomenda-se um a três sorrisos por dia” e “Sputnik meu amor”, fazem parte de uma série intitulada “Second First Impression”. Espécie de ontologia espacial, estas pinturas podem, por isso mesmo, e enquanto género, ser associadas a uma noção abrangente de paisagem. Se por um lado, reflectem um horizonte interior, enquanto exploram e registam momentos, prazeres ou insatisfações; por outro, enunciam uma paisagem externa, ao delinearem fronteiras, espaços circunscritos ou abertos, sobreposição e estratificação de cores, gestos e registos diversificados. Para Diana Costa a paisagem é também uma forma de conhecimento e não ilustração da realidade.

Da horizontal, característica primeira destas paisagens, seguimos agora outra orientação constante, a verticalidade, usualmente associada ao retrato.

Destaque para a menção honrosa de fotografia atribuída a Dalila Vaz. A linguagem dos objectos, a vivência empírica dos espaços naquilo que é a sua expressão, textura, cor e história local constituem o ponto de partida para a experiência que a fotografa leva a cabo, numa direcção que diz não controlar e que ocorre ao sabor das interrogações sobre o seu olhar ou sobre a impressão causada pela verdade espacial. O resultado é uma fusão entre fotógrafa e fotografado num processo de desconstrução que pressupõe uma reinvenção de diferentes universos. O uso da máscara enquanto corpo falso torna-se a face verdadeira, presente também na fotografia que serve de enquadramento numa das imagens. A aparente metodologia enunciada não é proposta enquanto tal. Tudo acontece naturalmente graças uma empatia espontânea que se estabelece entre a artista e o espaço que a envolve.

Elisabete Leite elegeu também o retrato como matéria de reflexão. Em “Acessórios”, o espectador é confrontado com a imagem realista e crua de uma mulher de idade avançada sentada num sanitário circundada por acessórios topograficamente descritos – o cesto da roupa suja, o rolo de papel higiénico que segura na mão direita, o tapete, a saboneteira, recipientes vários colocados numa cesta metálica suspensa num dos cantos da divisão ou um robe dobrado sobre os joelhos que lhe encobre parte do corpo nu. A ironia da representação está no título escolhido para a peça que desvia, num primeiro instante, o olhar do espectador para elementos que são no fundo secundários face ao tema central – o da amputação, neste caso específico, uma mastectomia. Esta pintura faz parte de uma série dedicada ao tema das amputações e vem na sequência de uma outra sobre a obesidade. A artista não pretende problematizar as temáticas que escolhe, elas são apenas o pretexto para pintar a deformação enquanto expressão, uma forma de retratar a transformação do corpo perante a mutilação.

Por fim, a “Santíssima Trindade” de Mário Vitória retrata o suposto ritual do pacto realizado entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Seguindo uma composição centralizada, a narratividade desenvolve-se a partir de um núcleo central de três figuras. Sobre elas, um obediente homem-cão encontra-se submissamente deitado de barriga para cima; à direita, um urso mais humano que o próprio Homem urra como forma de protesto face à concertação. Três outras figuras, as mesmas que foram representadas ao centro, distribuem-se pelo restante espaço da superfície pictórica equilibrando as forças de tensão que nela se desenham. Um dos personagens ri, colocando as mãos nos ouvidos como quem diz nada ouvir, outro coloca as mãos em forma de concha afirmando que nada sabe e finalmente o terceiro, no canto superior esquerdo, revela uma expressão de desresponsabilização. A moral subentendida é obviamente uma crítica metafórica aos pactos político-económicos internacionais que não olham a meios para obter os fins desejados.