Subtilezas
Eu realmente não me recordo qual foi o meu primeiro
contacto a poesia. Desde as minhas primeiras memórias com a escrita, a
poesia, na sua forma mais embrionária, sempre esteve presente. Engana-se
quem acredita que foi por opção, pois afirmo com toda a certeza, que
ainda não existe uma palavra suficientemente adequada para descrever o
que a poesia me faz sentir.
Pouco a pouco, tornou-se uma droga, que vicia e alucina;
um veneno, para remediar tudo aquilo que era impossível de explicar. É
como um tapa, dolorosamente necessário, que faz qualquer um voltar aos
trilhos. Afinal, para ser poeta, é preciso ter mais que força bruta, é
necessário domar a potência das palavras. E ser poeta, nesse sentido,
não seria apenas saber usar a rima a seu favor. É ser lírico,
simplesmente sentir e realmente ser, sem medo de todos os tormentos do
processo.
O processo, aliás, é o que há de mais belo em um poema.
Os sorrisos e as lágrimas, escondidas em cada palavra não escrita, são
tão importantes e brilhantes, como o primeiro ponto final de um verso.
Mas atenção! A poesia custa caro, invade e ocupa, sem
pedir licença, a imensidão dos vazios dos mundos que já haviam sido
ignorados, mas que ainda insistem em existir dentro de todos nós. Poesia
parece pouca coisa, mas é inflável, com nossa energia e atenção, e aos
poucos, torna-se gigante e exige bastante, para finalmente valer o
investimento.
E também alerto que investir em estrofes talvez seja mais
complicado do que parece.
Cada verso é um não ao tempo e aos outros, mas um sim,
para todos os sentimentos sufocados, que precisavam ser livres,
expressos e lidos. Sentimentos de todos os tipos possíveis, desde a
fúria, que desperta revolução, ao amor, que desperta afeto.
Por isso, a poesia é humanamente estranha. Pode ser como
um lembrete do fim do mundo, ou até mesmo um abraço, um chocolate quente
em uma manhã fria, que serve como um alento, uma lembrança das
grandiosas subtilezas que a vida pode proporcionar.
Afinal, a boa poesia não se importa com os péssimos
traços do seu leitor ou autor, apenas escuta e é escutada, como um
pássaro que canta ao planar no céu, e observa atentamente todos aqueles
que vivem no solo e ainda não sabem como voar.
Gabriel Neves (12.º J)
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