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4ª Série - Número 3 - Dezembro de 2000 - pp. 71-73

Maria do Rosário Azevedo

Tínhamos falta de tudo naquela Escola. Não tínhamos edifício, não tínhamos alunos, só tínhamos professores. Tínhamos falta de tudo menos de vontade de trabalhar. Nessa altura, ano lectivo de 1975/76, as pessoas estavam entusiasmadas. Tínhamos de arranjar um edifício para a Escola nem que tivéssemos de transportar adobos.

Como apareceram os professores para a Escola Secundária de Aveiro?

Um grupo de professores do então Liceu Nacional de Aveiro (LNA) concorreu para esta Escola criada no papel como Escola Secundária de Aveiro, mas ninguém sabia onde era. Fomos colocados (nessa altura os concursos eram feitos numa folha de papel selado onde se indicavam, por ordem de preferência, as Escolas) e ficámos contentes.

A este grupo foram-se juntando outros professores também colocados nesta Escola que, talvez porque o então LNA era muito conhecido, lá se dirigiam para saberem onde era a Escola. Assim o grupo inicial foi-se alargando e, em "auto-gestão", começou a trabalhar.

Formaram-se grupos de trabalho.

Um foi ver se arranjava "casa". Percorreu-se a cidade, não conseguimos. Fomos a Lisboa e depois de várias diligências deram-nos o edifício que hoje é a Escola Secundária Homem Cristo (ESHC) e que na altura era uma secção do LNA. Tínhamos edifício e professores. Não tínhamos alunos.

Enquanto outras Escolas estavam a "rebentar pelas costuras" nós não tínhamos alunos. Os alunos tinham-se matriculado no LNA e na Escola Comercial e Industrial. Como é que os Encarregados de Educação aceitavam que os seus educandos fossem transferidos para uma Escola na qual se não matricularam, não sabiam onde ficava e nem sequer sabiam o que era uma Escola Secundária?

Ficámos sem saber quais foram os critérios de selecção mas "democraticamente" os alunos apareceram.

Organizámos grupos que se encarregaram de dizer aos E.E. [Encarregados de Educação] que confiassem em nós. Estávamos cheios de vontade de fazer dos filhos alguém. Eles iam / 72 / aprender muitas coisas na nossa Escola. Para estes esclarecimentos fizemos um levantamento das áreas de residência dos alunos e fomos fá fazer reuniões com os EE Julgamos que nessa altura conseguimos motivar mais os Pais para essas reuniões do que as actuais Associações de Pais conseguem fazer. Bem sabemos que havia todo um clima envolvente que era diferente do presente. Também tivemos que informar sobre a nova escala de avaliação, 1 a 5. Não foi fácil explicar aos Pais que os meninos não iriam ter 18. Talvez tivessem 5. Mas 5 era muito poucochinho... Lembrámos alguns episódios, algumas situações criadas que tivemos de ultrapassar. Uma das vezes que fomos a Lisboa, à 5 de Outubro, não conseguimos entrar no elevador de serviço por estar uma fila enorme à espera. Reparámos que havia um elevador parado e fomos perguntar ao porteiro porque não funcionava tal elevador. Era para o Sr. Ministro, foi a resposta. Depois de uma "conversa" com o porteiro subimos no elevador do Sr. Ministro. íamos cheias de cópias de ofícios que não tinham tido resposta. Chegadas ao departamento, disseram-nos que não tinham lá chegado. Convidaram-nos a ir dar umas voltinhas enquanto procuravam. Sentámo-nos à espera, pois íamos apenas tratar assuntos desse departamento. Ao fim de meia hora de espera apareceram todos os ofícios e resolvemos alguns dos problemas.

E as colocações dos professores? Havia um horário do 8.º B por preencher.

Minimizámos os prejuízos dos alunos. Das 3 horas semanais a que os alunos tinham direito os professores já colocados davam 1 hora. Era uma "autonomia clandestina" para que os alunos não desaprendessem o que já tinham aprendido.

As colocações vieram em Maio, duas, uma para esse horário e outra para um horário de Canto Coral. Não tínhamos esta disciplina. Para o 8º B veio um Serralheiro Mecânico que tinha concorrido para as Escolas Técnicas e para Canto Coral um Contabilista. Ficaram aterrados. Entrámos em contacto com a Direcção Geral e disseram-nos que não havia engano nas colocações, que os professores estavam muito bem colocados e que tínhamos de os ter cá. Nós tínhamos autonomia para resolver a situação. O Serralheiro disse-nos que desistia. Isso implicava que ele ficasse dois anos sem trabalhar. Não sabemos como ele resolveu a situação. O Contabilista foi trabalhar na secretaria. / 73 /

Quando a Dulce veio de Lisboa indigitada para Presidente da Comissão de Gestão, disse-nos: "Olha estou na cabeça do toiro".

Arranjámos uma lista, a Dulce Pato, a Lucília Ramalheira já faleceu) e eu. A Escola deu o seu aval. A resposta de Lisboa foi que teríamos de ser quatro elementos ou a Dulce sozinha. A colega Licínia Cruz, do 1.º grupo, associou-se a nós.

Depois desta gestão, que fez os alicerces da Escola, estivemos em 1980/81 com a Dulce Pato, o Carlos Corga, a Alcina Paula do Bem e a Lurdes Magalhães. Nessa altura foi o 12.º ano e os problemas a ele inerentes.

Estivemos novamente no Conselho Directivo em 91/92 e 92/93 e, por incrível que pareça, nós, que ajudámos um pouco na construção desta Escola, hoje Escola Secundária Homem Cristo, fomos alertados por um telefonema do Dr. Girão Pereira, então Presidente da Câmara, que tinha assinado um protocolo com a DREC da cedência do edifício à Câmara. Não queria o Sr. Presidente ir para a Assembleia Municipal sem dar conhecimento à Escola do que se estava a passar.

Depois de termos andado a calcorrear as ruas de Aveiro para arranjarmos um edifício para a Escola, vamos estar no Conselho Directivo onde nos vem dizer a "a Escola vai acabar"!

Não acabou. O Dr. Girão levou esse protocolo à Assembleia e o CDS, que na altura estava em maioria, aprovou. Os outros partidos todos votaram contra.

Nós sentimos que houve muita exploração disto por parte da Comunicação Social e até das outras Escolas. O nosso grande apoio foi da população de Aveiro e dos outros partidos. Arranjámos uma Comissão que trabalhou para que a Escola não fosse desactivada. A Escola não acaba. Já está prometido que nos vão ceder as salas que nos levaram.

Na ala que foi cedida à Câmara havia salas de aula e o laboratório de Química. Foi tudo desmantelado para lá funcionarem serviços da Câmara.

Terão que ser reconstruídas as salas de aula. Põe abaixo e põe acima. É também para isto que servem os nossos impostos.

Não quero deixar de chamar a atenção para a escada que a Câmara construiu para ter acesso aos seus serviços.

A actual Comissão Executiva vai tratar de pôr tudo em ordem.