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4ª Série - Número 3 - Dezembro de 2000 - pp. 68-70

  1. Maria Dulce de Oliveira Pato

A maior parte dos presentes conhece-me, aliás, já foi referido até por uma antiga aluna que eu não tinha identificado, é sempre mais fácil o aluno identificar o professor do que o professor passado uns anos conseguir identificar...

Curiosamente, portanto, os colegas acabam de falar da Escola Secundária mais recente de Aveiro e eu e a Maria do Rosário temos, de facto, algum testemunho a dar, como muitos dos presentes que aqui estão que trabalharam também na Homem Cristo, que foi exactamente a primeira Escola Secundária criada no papel e, portanto, se calhar vale a pena começar por aí.

A Escola Secundária de Aveiro, a primeira em 1975, foi criada em "Diário da República", apenas com um grupo de professores, e estão aqui alguns dos primeiros, portanto, não é só a Maria do Rosário e eu, penso que o Nelson Mota foi também dos primeiros professores nomeados, logo a seguir penso que o Remédios, o Arsélio, a Rosa inclusive, portanto, passaram também pela Homem Cristo, menos anos do que eu, aliás a Maria do Rosário ainda consegue ultrapassar-me, uma vez que eu agora já não estou na Homem Cristo, mas estou em Coimbra, e é de facto uma situação particular, por isso mesmo, penso que totalmente diferente de qualquer das outras realidades, porque eu fui tendo oportunidade de ouvir alguns relatos, exactamente dada a situação temporal, 1975/76, e, como eu referi também, foi nomeado apenas um quadro de professores e, de facto, a Escola não tinha edifício, portanto, não tinha sítio, não tinha alunos, não tinha pessoal nem administrativo, muito menos auxiliar, foi, de facto, esse grupo de professores que inicialmente foi nomeado, que era mais ou menos aqui da zona, e se foi conhecendo, foi contactando e preocupado, naturalmente, porque estava nomeado para uma Escola, Escola essa que não existia, como eu acabei de referir, fomo-nos reunindo, fomo-nos encontrando informalmente, é evidente, e a determinada altura resolvemos ir a Lisboa, e daí a situação começou, digamos assim, a avançar um pouco mais, muito devagar, e é evidente que só a vontade de trabalhar, fazer nascer a Escola, havia que arranjar sítio, daí desde contactar o Quartel que estava na altura desocupado, casas em construção, enfim, todas as hipóteses que nos pareciam, a nós, possíveis e, portanto levando já / 69 / essa informação para Lisboa, portanto, o recado que trouxemos de lá foi esse, e, portanto, havia de facto que partir desse princípio. Voltamos a Lisboa.

Edifício existia – antiga secção do Liceu, embora, evidentemente, com as condições que nós sabemos que não eram as ideais, mas pronto eram as que estavam disponíveis; havia, enfim, que arranjar alunos. E aí começaram os primeiros contactos com o então Liceu Nacional que também, por sua vez, seria o Liceu que ficaria a dar algum apoio administrativo. Os Serviços Administrativos seriam os do Liceu e podia contar-se apenas com esse apoio dado à distância, que era pouco, porque o Liceu continuava a funcionar com os problemas inerentes a qualquer Escola. E assim começámos com os professores dispostos, naturalmente, a tudo. Aqui hoje já se falou de não preparação, de não formação; agora penso que qualquer de nós é capaz de imaginar esta situação um pouco mais dramática, digamos assim, do que algumas que já foram aqui referidas. Ao fim de várias reuniões, foi possível destacar os alunos, fazendo reuniões com outras Escolas também, tentando distribuir os alunos de acordo com a área de residência.

Na altura foram destacados apenas quatro elementos de pessoal auxiliar para um edifício com uma estrutura conhecida de alguns de vós, funcionando num único bloco. Mas é evidente que quatro funcionários era pouquíssimo; não era pouco, era pouquíssimo.

No que respeita a Serviços de Secretaria, ainda o problema era maior, porque não havia nenhum funcionário, era apenas o apoio à distância. Por isso, toda a parte administrativa tinha forçosamente que ser feita também pelos professores da casa. Houve todo um percurso e toda uma estrutura humana contando com a colaboração de alunos. Penso que o espírito do ano também o permitiu, pesou muito; se calhar hoje não era possível pôr a Escola de pé. Tivemos, de facto, uma colaboração muito grande dos alunos, dos próprios encarregados de educação que, inicialmente também se mostraram naturalmente receosos. A certa altura conseguimos ganhar não só a confiança, como a colaboração de muitos pais, até porque houve uma preocupação da nossa parte que foi fazer reuniões com os pais e encarregados de educação, não na Escola, mas nas áreas de residência dos respectivos alunos. Cobríamos uma área bastante alargada, exactamente pela situação da Escola, / 70 / recebemos muitos alunos de fora do perímetro da cidade, vindos de S. Jacinto, das Gafanhas, etc., etc., etc.

Penso que isso, por um lado, poderia ter alguns aspectos negativos, mas eu penso que os aspectos positivos eram bastante maiores do que os negativos e penso que isso terá ajudado bastante a criar um espírito de inter-ajuda entre todos os utentes da Escola, tornando possível pôr a Escola a funcionar, iniciando o ano lectivo ao mesmo tempo que as outras escolas.

Eu julgo que não cheguei a dizer, mas posso acrescentar que do grupo que foi a Lisboa, entre os vários colegas (quatro ou cinco, salvo erro), eu vim de Lisboa como encarregada da direcção com a responsabilidade de associar a mim mais dois elementos. Um desses elementos que eu seleccionei foi exactamente a Maria do Rosário. Depois, a determinada altura, essa informação seguiu para Lisboa e de Lisboa dizem-nos que é necessário associar mais um elemento, senão eu teria que assumir sozinha toda a responsabilidade. Acabámos por funcionar como Comissão Instaladora, penso que a certa altura se passou a chamar Comissão Instaladora, já com quatro e não só três elementos. E a Escola começou por ser Escola Secundária de Aveiro, depois Escola Secundária n.º 2, até que se arranjou um patrono, que ainda hoje se mantém, Escola Homem Cristo. E, enfim, foi-se conseguindo manter de pé.

Quanto a mim conseguiu-se, de facto, dar vida e dar um certo envolvimento de toda... enfim, de toda a comunidade da cidade, penso que colaborou bastante, nomeadamente os pais e encarregados de educação, porque eu penso que os filhos sentiam um certo calor na Escola, portanto, uma Escola relativamente mais pequena que as outras, e penso que isso também tem, com certeza, alguma influência no tipo de trabalho que é possível desenvolver e também por ser uma Escola criada de raiz, digamos assim... pelo menos, para mim, isso pesou muito e significou, de facto muito, de tal modo que mesmo hoje, estando em Coimbra, em conversa com os amigos a minha Escola é a Escola Homem Cristo, e não aquela onde trabalho actualmente.