Acesso à hierarquia superior

4ª Série - Número 3 - Dezembro de 2000 - pp. 57-61

Maria de Fátima Cabral de Albuquerque Bóia

Eu, FÁTIMA BÓIA, tendo sido nominalmente eleita com 9 votos, quando mais ninguém queria, assumi a Presidência e escolhi equipa de entre as colegas que aceitaram os meus objectivos, a saber: Vice-Presidente e Presidente do Conselho Administrativo – MARIA HELENA SILVA; Vogal e Vice-Presidente do Conselho Administrativo – ROSA VIANA; Vogal e Responsável pelos Funcionários Auxiliares de Acção Educativa – ROSA MANCELOS; e Vogal do Curso Nocturno – ALDA COMES (a única com experiência de Conselhos Directivos anteriores e que, apesar de gozar férias em França, quando a solicitámos, respondeu afirmativamente à chamada).

A todas se respeitou o período de férias já concedido, excepto à Presidente e Vice-Presidente que, em rotatividade, gozaram apenas 15 dias.

Constituímos, pois, na história da Escola, a primeira equipa no feminino!

O motivo principal que nos uniu foi o de espírito de serviço à Escola, mesmo à custa do sacrifício das respectivas famílias, que também nos haviam dado o seu aval; o objectivo máximo – o da "humanização" da Escola –, através da criação de condições mais favoráveis a todos os intervenientes na Comunidade Escolar, sem discriminação, descentralizando do Conselho Directivo os hábitos de permanentemente a ele recorrerem, fazendo funcionar, assim, na instância própria, por meio do diálogo, tolerância e estímulo, os outros Órgãos da Escola.

Um segundo objectivo – privilegiar a acção pedagógica/educativa – foi cumprido com:

▪ requisição de maior número de professores profissionalizados, logo na 1.ª fase, após um trabalho intenso, metódico e atempado na caótica Área de Alunos. Coadjuvadas pelos Delegados de grupo (desde então afastados de tarefas mais burocráticas como as de vigilâncias de exames) e secundadas, essencialmente, pelo atento e organizado Coordenador dos Directores de Turma, pudemos, em íntima colaboração com os Conselhos Directivos de outras escolas da cidade, gerar a consequente redução de horas extraordinárias (até aí distribuídas invariavelmente aos mesmos colegas efectivos) e minimizar o recurso a professores de última fase, impreparados, / 58 / quase sempre, quer a nível científico, quer a nível pedagógico;

▪ gestão equilibrada de recursos humanos, em grupos com excedentes, por exemplo Educação Física e História, dada a não procura dos alunos e a rede escolar já fixada.

Atribuímos-lhes funções com redução de carga horária, caso dos Directores de Turma e Coordenador de Directores de Turma;

▪ pedidos de homologação à DREC para os cargos de Directora de Biblioteca e Directora do Laboratório de Química;

▪ solicitação superior de Acções de Formação para os Funcionários dos Serviços Administrativos e para Auxiliares de Acção Educativa. Esta, dinamizada pelo Dr. Carlos Pimenta, sob o tema Relações Humanas, estendemo-la às outras escolas da cidade;

▪ colaboração estreita e eficaz com as Associações de Alunos, diurna e nocturna, e com a Associação de Pais, realizando-se até no Ginásio da Escola, muito degradado na altura por excesso de utilização, um Encontro Nacional de Pais e Encarregados de Educação. Para o efeito, a Associação de Pais de Aveiro comprometeu-se a melhorar, à sua custa, o estado do mesmo. Tal Encontro foi apoiado também pela DREC, na pessoa da sua Directora, que nos dignou com a sua presença nesse dia, "Dia do Pai", tendo a Associação de Estudantes da nossa Escola, por sua iniciativa, homenageado "in loco", simbolicamente, todos os pais;

▪ pagamento de horas extraordinárias, a expensas próprias, assumido colectivamente pela nossa equipa directiva, em relação a um docente de Geografia, cuja não autorização superior chegou tardiamente à Escola, já depois de dois períodos de avaliação), permitindo assim aos alunos terem as respectivas aulas, pois, de outro modo, em miniconcurso, não surgira nenhum professor interessado;

▪ por último, relançamento de prémios escolares em várias disciplinas, mormente em Português e Latim, bem como a substituição das penalizações disciplinares em vigor por actividades educativas na Escola, com o acordo dos Pais e a anuência da Inspecção Pedagógica, pois, impedindo do acesso às aulas os discentes, mas não a sua vinda à escola no mesmo horário lectivo, ficavam sensibilizados para a dimensão e dignificação do trabalho manual. Tornou-se prestimosa, neste capitulo, a / 59 / integração e acompanhamento dos alunos efectuada pelos Funcionários Auxiliares, sob orientação do Chefe de Pessoal.

Outra preocupação nossa foi a Segurança e Conforto Escolares através de:

▪ pedido de mais funcionários ao Representante da DREC em Aveiro e sua concessão;

▪ sob intervenção da Autarquia, instalação de holofotes no exterior da Escola (acabando, então, com os assaltos e invasão repetida da Secretaria), tal como arranjo dos pátios e jardins;

▪ conserto de campainhas, fechaduras e janelas de salas de aula;

▪ pedido e concessão de instalação de telefones internos;

▪ adaptação de salas para leccionação de Têxteis;

▪ utilização do Ginásio quase exclusivamente para uso interno, em benefício das aulas de Educação Física ou para outros fins culturais da Comunidade, sem prejuízo dos utentes normais;

▪ melhoria e a possível modernização e embelezamento de todos os sanitários;

▪ reaproveitamento da utilização da cantina, melhoria das suas provisões e ementas, com fornecimento ao bar dos alunos, sobretudo para consumo do Curso Nocturno;

▪ melhoria das condições de funcionamento da Reprografia;

▪ pedido à DREC de subsídio financeiro para obras de conservação da Escola, dada a sua antiguidade e sobrelotação, assim como de autorização para instalar uma cabine de controle de entradas no portão do lado norte e de reaproveitamento dos dois anexos exteriores, sob projecto solicitado ao grupo de Educação Visual, destinados a Sala de Cerâmica com mufla e Gabinete de Professores de Trabalhos Oficinais;

▪ começo de recuperação do património, com levantamento do respectivo inventário, restauro de antiguidades e reconversão de material, por um funcionário especializado, requisitado, entretanto, só para esse fim;

▪ recuperação de obras valiosas da Biblioteca e seu reapetrechamento com livros essenciais, especialmente de pesquisa e Dicionários; / 60 /

▪ contenção de despesas para equilíbrio financeiro vindouro, através do saneamento do "deve-haver", uma vez que fomos confrontadas com os saldos negativos anteriores;

▪ organização eficiente da Área de Alunos do Nocturno pela Responsável e respectivos Assessores;

▪ trabalho de atendimento, em regime rotativo e em pleno, inclusive na hora do almoço, por todos os Membros da Equipa, para assistência permanente ao longo do período de laboração da Escola.

A nível da Comunidade/Meio:

▪ dinamização de campanhas de Natal para Gaiatos;

▪ apresentação do Ciclo do Linho ao vivo;

▪ exposição biobibliográfica a D. JOÃO EVANGELISTA de LIMA VIDAL, grande humanista e escritor, no Dia da Escola, comemorando os Vinte e Cinco anos da Diocese (após aprovação consensual do Conselho Pedagógico);

▪ convite, que foi aceite, aos alunos do Conservatório de Música de Aveiro, alguns nossos alunos também, e ao Grupo Folclórico de Professores da Escola Alves Martins de Viseu, para actuação no Dia da Escola.

Em suma, foi um ano de variadíssimas transições, uma participação episódica, apenas assumida para libertar a Escola de uma ingerência estranha e externa, permitindo aliás a realização de alguns ideais próprios mas também garantindo a continuidade a projectos de colegas que nos antecederam ou abrindo portas e horizontes a eventuais sucessores, quaisquer que eles fossem.

As dificuldades foram muitas, sobretudo pela nossa impreparação, pela de funcionários e alguma má vontade de uns tantos, acrescidas ainda por «novidades» instituídas nesse momento e por uma certa falta de recursos humanos, financeiros e de autonomia. Além disso, talvez também o facto de termos de nos segurar, firme e corajosamente, na «crista das ondas», logo a partir de 15 de Julho, quando ainda não estava fechado o ano lectivo precedente e o lançarem-nos o repto «ad hoc», sem havermos desejado uma candidatura a tal cargo, portanto, na ausência de formação adequada. / 61 /

No entanto, como diria o Mestre de latinidade e nosso ilustre Reitor Aveirense, o Dr. José Pereira Tavares, – "Audaces Fortuna juvat" (a sorte protege os audazes) e nós conseguimos superá-las quase todas, ora com o apoio e avisado conselho da Inspecção – Pedagógica e Administrativa, ora com a intervenção e subsídios da Câmara Municipal e Governo Civil, ora com a colaboração dos Conselhos Directivos das Escolas HOMEM CRISTO e SECUNDÁRIA N.º 1, obtendo, por assim dizer, uma «autonomia urbana» nas posições assumidas de comum acordo, andando à frente da lei, transformando-as em sugestões/propostas que, apresentadas à DREC, quase sempre eram avalizadas e feitas seguir.

Internamente, porque compreenderam as nossas intenções e o nosso interesse meramente comunitário, o nosso obrigado a todos quantos nos reiteraram a sua disponibilidade e confiança, abdicando nós de citarmos nomes com receio de lapsos involuntários e injustos. Bem hajam!

E, porque acreditámos no Passado como elo de Esperança para o Futuro, depositámos tranquilamente nas mãos do Conselho Directivo de 88/89 o fruto do nosso trabalho, preocupações e anseios que, hoje, testemunhamos, não terão sido recebidos em vão.

Valeu a pena? Quanto a nós, foi uma experiência de alto risco, todavia muito útil e reconfortante; para terceiros, que nos merecem consideração, segundo nos afirmam pontualmente, foi "um ano de PAZ e HARMONIA".

Aveiro, 8 de Julho de 1999