DEPOIMENTOS DOS ALUNOS – ANO LECTIVO 1997/1998
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Turma 12.º K
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ANDRÉ MARQUES – 18 ANOS
É fundamental começar por dizer que OED operou uma
transformação enorme em mim. Essa transformação, assim como as emoções
vividas e sentidas são indescritíveis. Se calhar, foi por isso que me
foi tão difícil dar o passo para este balanço de dois anos. O balanço é
positivo, e o meu medo deste balanço é desculpável. No fundo, é o
princípio do adeus e da rotura com pessoas que me fizeram muito bem,
especialmente o "orientador". Descanso a cabeça no braço e começo a
rever tudo..., desde a primeira aula, na qual estava petrificado sem
saber a razão de estar ali nem o que iria fazer! É com grande emoção e
pesar que me apercebo que OED não foi para mim uma disciplina, mas sim
uma "casa dentro da escola”. Não dei conta do tempo passar e sinto-me
constrangido por não ter dado mais de mim aos outros, por não ter sido
mais responsável e por não ter feito mais e melhor. O Duarte sempre nos
soube guiar, tendo como único senão (talvez), a demasiada liberdade que
nos deu logo no início e que depois não conseguiu tirar. Quem sabe, ele
também esperava que nós fôssemos mais responsáveis no que nos
propúnhamos fazer. Agora vejo, sinto nas entranhas a essência daquele
espaço, que sinto só meu, que me é familiar, no qual vivi e revivi
sozinho, com o Duarte e com os amigos que ficámos a ser, tantas emoções,
algumas discussões, etapas do crescimento de cada um. OED tem e teve
capital importância no aprender a amar o colega, a ser "homem' (com
algum medo inerente à sociedade em que estamos), aprender a criar um
outro ser vivo dentro de nós, que também vê, sente e fala, mas que o faz
de outra maneira... De certo modo, sinto-me frustrado por várias razões,
sendo as principais: – esperei um pouco demais das pessoas e da
disciplina, porque a meus olhos tudo sempre foi possível de realizar com
boa vontade, mas os obstáculos que as pessoas têm e põem à sua frente,
tapam-lhes a vista, deixando de acreditar – não são censuráveis, apenas
limitadas!; – por outro lado, sei que colegas meus, no seu acanhamento e
simplicidade, não compreenderam a face última deste espaço que vibrou
com as nossas "aulas”, não viram o que de grandioso e sublime tem a
criação momentânea que nasce em cada um de nós ao entrarmos noutra
personagem, ao "fazermos teatro”! Houve falhas, principalmente a nível
do rigor – penso eu – e penso também que poderíamos ter sido muito
melhores e chegado onde alguma vez se ousou chegar. Eu, como é óbvio,
não estou fora das críticas nem dos elogios, mas no fundo percebi que
OED não era uma disciplina e que o Duarte não era só um professor. É
preciso salientar que nunca antes tivera uma relação de partilha e
verdadeira amizade com um professor (amizade deveras criticada por
pessoas alheias ao grupo e do grupo, cujas críticas acatei mas logo
ignorei), tornando-se este, pouco a pouco, um grande amigo que nunca
esquecerei, pelas suas palavras experientes e oportunas... – sim Duarte,
tu ajudaste-me bastante e fizeste-me aperceber de coisas que, sem ti, me
teria apercebido tarde demais... OED é uma disciplina jovem como eu,
acompanhou uma parte bastante importante da minha vida, a adolescência
e, tal como a vida, é efémero no momento instantâneo da aparição
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cronometrada das coisas, assim como a juventude, deixando
automaticamente de o ser quando o tornamos parte integrante de nós e o
revivemos em cada instante, e o tornamos a reviver mais tarde,
recordando OED... Vivemos grandes momentos, amo ainda agora cada um de
VÓS, que me "sabem" no vosso íntimo, ficarei sempre grato ao Duarte
pelos conhecimentos e experiência que nos transmitiu ao longo destes
dois anos. Recuso-me incessantemente a dizer "adeus", até porque estarei
com OED no próximo ano, mas infelizmente não com vocês, turma – é
bastante provável que me achem medíocre ou demasiado profundo no sentir
das coisas, mas só quem vê é que percebe o que sinto, pois também o
sentiu! É também importante salientar que OED integra um conjunto de
indivíduos que merecem aqui um espaço especial: – é-me impossível deixar
de começar pelo Nílton, a personalidade mais forte, sensata e sensível
do grupo. Grande voz a tua, espelho teu... Grandes voos te esperam.
Presto-te um tributo merecido pela tua coragem, pelo teu espírito de
ajuda, pelo teu lugar que tão bem soubeste marcar ao longo destes anos –
sempre foste exemplar e serves de modelo para mim, pela tua maneira
simples de encarares o mundo; – depois a Joana, que neste segundo ano
não esteve entre nós, uma pessoa bastante forte / frágil, de ideias
fixas, sempre soubeste muito bem o que querias e essa astúcia
caracteriza-te muito bem. És bastante perspicaz e marcaste-nos a todos –
admiro a tua força e determinação; – depois a Vera e a Tatiana, as quais
não pude separar por se completarem muito bem. Na Vera admiro a sensatez
mas critico a impulsividade; na Tatiana, com o seu riso, espectro da
alegria interior que tens em viver, admiro a tua submissão, o teu
espírito de sacrifício, a criança sempre acordada que há em ti (não sei
se já a viste), e nas duas admiro a amizade com que sempre souberam
cativar nas pessoas; – a Sara, caladinha, cuja evolução admiro muito ao
longo destes dois anos, aqui te alumio, solta mais esses cabelos e o
restante que tanto medo tens de "soltar". Vive intensamente todos os
instantes – admiro o teu rigor e a tua aparente resignação; o Ivo
espantou-me enormemente, não estava à espera de tanto talento
(infelizmente desperdiçado de tanto "tá-se bem"). Admiro-te pela forma
pela qual encaras a vida, mas critico-te pela agressividade com que
tratas os outros, especialmente quem mais te ama; – o André conseguiu ao
longo destes dois anos crescer mais e impor-se mais como ser respeitado
no seio do grupo, admiro a tua força e persistência. Critico-te porque
és um livro aberto e isso prejudica-te. É também importante dizer que
precisas de adquirir mais calma interior e ser menos brusco. Tens um
coração bom, demasiado propício a amores infortunados, mas um dia sai-te
a sorte grande. É preciso acreditar mais no teu retrato, porque hoje já
procuram ouvir a tua opinião; a Dina, sensível e alegre, é-lhe
criticável alguma falta de rigor latente no trabalho que desenvolve.
Poderias abrir-te e dar-te um pouco mais aos outros. Relembro a tua
vivacidade e admiro o teu coração forte e especial, capaz de aguentar
“mil amores". Nunca vincaste a tua personalidade no seio do grupo por
seres como um "diluente de união". Vejo-te bela e atraente por dentro e
por fora. Admiro a simplicidade inata em ti e critico a forma apressada
de viveres as coisas, sem as saboreares com o devido tempo e sem lhes
dares a devida importância; o Jaime e a Sónia, par castiço que este ano
não figuraram na turma. O Jaime, simples e gozão, "deixa andar" e
bonacheirão. A Sónia, alegre, perversa, tenaz e misteriosa. Admiro os
dois pela sensatez e sinceridade. Alheiam-se facilmente do resto do
grupo, mas nós sabemos que café com leite é uma mistura irresistível; a
Susana, cuja alegria vibra no brilho do olhar que transparece o céu num
dia luminoso, admiro a verdade que há em ti. / 43 / Critico a
superficialidade, não sei se chegaste a sentir a essência do que nós
vivemos (só estiveste neste grupo este ano); o Duarte, indescritível,
magnético e misterioso, amigo e frágil por ter grande sensibilidade,
essencial e verdadeiramente vivo, aquele que nos modelou ao longo deste
tempo todo – agradeço-te mais uma vez tudo o que fizeste por mim. O
Duarte nem sempre foi essencialmente correcto connosco, assim como nós o
não fomos com ele, tendo nós precisado de um “ser" um pouco mais
perspicaz em determinados pormenores, sofria menos. Sempre soube separar
o papel de amigo do de professor. E eu, abalado com tudo isto, mas
consciente de que na vida teremos sempre de contar com os amigos e com
as potencialidades. Uma simples inspiração é sinónima de que estamos
vivos, mas é preciso muito mais do que isso para provarmos que temos
vida cá no nosso interior – a vida é um sopro superior (DEUS) a nós
dentro de nós! (além do mais) O que OED fez!
DINA TEIXEIRA – 18 ANOS
Confesso que tenho vindo a sentir influência de OED nas
relações com a minha família, ao constatar que os diálogos melhoraram. A
disciplina ajudou-me a ficar mais frontal, tem vindo a desaparecer
aquele receio de perguntar algo considerado "tabu". A minha desinibição
na escola reflectiu-se na participação que este ano empreendi em debates
públicos (nomeadamente na Assembleia da República e no encerramento da
nossa Área-Escola com a Presença da Dr.ª Maria Barroso), o que era
impensável há dois anos atrás. Segura de mim mesma e despida de medos e
vergonhas, desempenhei o meu papel com segurança e confiança. Estou
orgulhosa de ter representado a turma e a escola para uma personalidade
pública e importante. Embora não aparente, sempre fui uma pessoa
bastante nervosa, mas tenho aprendido a controlá-los e a viver com eles
(os nervos). Os exercícios de relaxamento foram muito proveitosos para
perceber a minha "orgânica". Faço-me ouvir com a voz que intensifiquei e
dei vida, clareza na dicção, preparando-me no presente para tentar
brilhar no futuro.
IVO ALMEIDA – 18 ANOS
OED tem sido um mar navegável. Um mar navegável como
outros que tenho navegado. Fui ao sabor da maré e combati contra a
corrente. Nos dias de tempestade mais turbulentos aprendi a ajustar as
velas, para na noite enublada dormir no sonho confortável de amanhã ser
novo dia. Como mar que é, todos os dias são diferentes, todos os
ensinamentos impotentes para vencer a morte que tens de enfrentar (mas
nunca aprendes tudo). Chegado a bom porto, sinto a meta (do fim do ano)
muito próxima, tão próxima que vejo o cheiro do triunfo desembrulhar-se
nas minhas mãos... e sorrio.
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NÍLTON NUNES – 19 ANOS
(Rinpoche, Sogyal – "O Livro Tibetano da Vida e da
Morte")
«A sociedade moderna industrial é uma religião fanática.
Demolimos, envenenamos e destruímos todos os sistemas da vida do
planeta. Assinamos notas de dívida que os nossos filhos não poderão
pagar... Actuamos como se fôssemos a última geração sobre o planeta. Sem
uma mudança radical nos corações, nas mentes e nas visões do futuro, a
Terra acabará por ser como Vénus, calcinada e morta.» – José António
Lutzenberger, Sunday Times – London
«O nascimento do homem é o começo dos seus desgostos.
Quanto mais tempo viver, mais estúpido se tornará, porque a ansiedade de
evitar uma morte inevitável será cada vez mais aguda. Que amargura! Vive
para aquilo que está sempre fora do seu alcance! A sede de sobrevivência
no futuro toma-o incapaz de viver no presente.» – Chuang Tzu
«Planear o futuro é como ir à pesca num lago seco; nada
funciona como pretendes e por isso desiste dos teus planos de ambição.
Se queres, na verdade, pensar em qualquer coisa, pensa na incerteza da
hora da tua morte...» – Gyalsé Rinpoche
«Quando somos fortes e saudáveis, nunca pensamos na
doença que aí vem, mas esta surge com súbita força, como um relâmpago a
cair. Quando nos envolvemos nas coisas do mundo, nunca pensamos na
aproximação da morte. Surge rápida como o trovão, ressoando em volta da
nossa cabeça.» – Milarepa
«A existência é tão transitória como as nuvens de Outono.
Observar o nascimento e a morte dos seres é como olhar para os momentos
de uma doença. O tempo de uma vida é o clarão de um raio no céu,
correndo à pressa, como uma corrente numa íngreme montanha.
Entre todas as pegadas, a do elefante é suprema. Entre
todas as meditações conscientes, a meditação sobre a morte é suprema.
O que é nascido morrerá, o que foi reunido será disperso.
O que foi acumulado esgotar-se-á, o que foi construído ruirá, o que
esteve no alto descerá.» – Buda
SARA SANTOS – 17 ANOS
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OED ajudou-me a perceber melhor as reacções dos indivíduos e as suas
razões. Esta ajuda manifestou-se na forma compreensível, sensível e
respeitadora com que vejo e ouço o outro. Favoreceu o meu processo de
integração no que é o meio e uma maior facilidade de comunicação. Com os
meus colegas, gerou-se um espírito de inter-ajuda maior e de respeito
pelas diferenças. Descobri facetas, sentimentos e atitudes que
desconhecia nos meus colegas, tudo devido à maior aproximação dentro do
grupo, embora também se repercutisse no exterior, mas de uma forma mais
lenta. Em relação aos professores, aprendi a relacionar-me com eles de
uma maneira mais aberta, não descurando, é claro, o respeito e a
responsabilidade, encarando a "instituição escolar" com um pouco mais de
harmonia. Obter um trabalho teatral de bom nível, passa-se por muito
trabalho de muita responsabilidade no auge das capacidades de cada um.
Foi esse auge que tentei atingir. Quando interpretamos um papel,
constrói-se uma personagem com características diferentes das nossas.
Dessa forma há necessidade de fazer com que o público percepcione o
melhor possível o que envolve as personagens por fora e por dentro. É
necessário muito rigor. Ao passar por este processo sofri algumas
alterações, obtive um desenvolvimento de capacidades que enriqueceu a
minha personalidade. Fiquei com mais autonomia nos actos, mais
capacidade de análise e crítica, um maior conhecimento do meu "eu",
favoreceu um desenvolvimento ao nível criativo assim como uma
intervenção expressiva um pouco mais definida. OED foi muito positivo,
ajudou-me na aprendizagem de viver a construir-se todos os dias.
SUSANA LOPES – 20 ANOS
OED afectou a maneira como me vejo e como me sinto.
Deveu-se ao tipo de comunicação com os colegas, ao ser "obrigada" a
destruir barreiras de timidez, desencorajamento e sentimentos de
incapacidade. Esta disciplina processa-se no colectivo, por isso,
partilha, empenhamento, entrega, rigor, análise e crítica, criatividade
e disciplina, são os factores que nos levam a respeitar as diferenças e
a existência do grupo ser harmoniosa. OED proporcionou-me algumas coisas
novas como tentar conhecer os passos de um actor, uma nova convivência
com os professores, maneiras de estar e de comunicar diferentes daquilo
que já vivemos. Foi nesta sala cheia de luz e bem-estar que cresci numa
nova fase da minha vida, tentei escutar, aprendi a transmitir tudo
aquilo que estava a ser criado dentro de mim.
TATIANA FERREIRA – 17 ANOS
"– Vou ter Inglês, e tu?
– OED.
– Que é isso?
– Teatro.
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– Ah!!!"
Mas não é isso, OED é mais que teatro, é mais que oficina
(lugar onde se exerce um ofício) de expressão (acto ou efeito de
exprimir, gesto, carácter, animação, essência de um sentimento e
comunicação) dramática (relativo a drama / acção). É mais do que uma
disciplina em que ouvimos o professor e vamos embora. OED dá-nos que
pensar. Um dia perguntaste-me o que era para mim OED e eu respondi que
era não só uma bengala, mas também um espelho com consciência. Apesar de
ser uma imagem um tanto esquisita, não deixa de ser o que sinto. Agora
perguntas o que OED fez nestes dois anos. Só posso comparar com uma
coisa. Lembras-te do primeiro amor, aquele que marca mesmo fundo? A
grande ilusão, sonhos, fantasias, discussões, abraços, desilusão, a
saudade de um gosto delicioso? É isso, tem o mesmo efeito – a
descoberta! Quando cá entrei era uma miudita com a mania que sabia tudo,
mas com medo de levantar a voz (nos dois sentidos), hoje já não. Fui
conhecendo os outros de uma maneira impensável, conheci facetas minhas
por mim nunca sonhadas e o olhar começou a ser diferente. As
características de cada um foram sobressaindo e houve um espaço para
cada um "ser". Mais do que um conjunto de colegas, tornámo-nos um grupo.
Nos longos caminhos existem sempre desavenças entre todos. Mesmo quando
somos rudes, a relação de amizade amadurece. Queremos ser pessoas com
garra, com voz activa e tu deste-nos essa oportunidade, quer
orientando-nos, quer fazendo-nos reivindicar pelos nossos sonhos, mesmo
quando "refilamos" é um processo de crescimento. Apesar do teatro "ser
um fingimento da dor que deveras sentes", tornei-me uma pessoa mais
calma, mais aberta a novas opiniões e críticas, e sem medo de dizer o
que penso. Não só nesta "aula" mas em toda a minha vida sou mais "eu".
Falar de OED não é linear, é complicado e mexe muito com a
sensibilidade. Foram dois anos importantes, aconteceram factos marcáveis
na minha vida e não posso deixar de referir as "poucas" horas em que dez
pessoas conseguiam juntar-se e cada dia era um passo para se ser mais
"homem". As nossas diferenças contribuíram para esse processo de
construção de um interior inacabado, sempre dinâmico – "Para ser
grande, ser homem, sê tu, sê inteiro".
VERA RODRIGUES – 17 ANOS
O ESPECTÁCULO
«As palavras teatro e drama procedem de dois termos
gregos que significam respectivamente "observar" e "actuar". O teatro
dramático é um lugar em que se realizam actuações destinadas a serem
contempladas. O teatro ocidental teve a sua origem na Grécia. Segundo
Aristóteles, a tragédia deveria produzir nos espectadores uma
purificação da alma, através da compaixão e do terror despertados neles.
O mundo é um Teatro em que as pessoas actuam por trás de uma máscara
para desaparecer na obscuridade, atrás do palco." (in Enciclopédia Combi
Visual)
O TEATRO
«O teatro não se pode só ler, tem de se fazer. Teatro é
acção. Teatro é vida em
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cima de um palco. Só entrando neste jogo de recriação da vida e
entendendo por dentro os processos que o tornam possível, poderás
extrair plenamente o gosto do teatro. Entra nesta aventura e sairás dela
com uma consciência muito mais viva do que significa esta palavra:
TEATRO!» ( in “Palavras Certas", Manual de Língua Portuguesa do 7.º ano)
«O teatro constrói as suas peças com pedras vivas – os
actores – e oferece-as à curiosidade da gente que constitui o público.
Ele é o lugar e o motivo desse encontro carnal único entre actores e
espectadores que se chama espectáculo. Espectáculo que é uma forma
superior de contacto humano, porque nele se ultrapassa aquilo que a vida
real, nas suas limitações, apenas nos permite. Na realidade, o teatro
tece histórias da vida com os mesmos fios de que a própria vida se
entretece. E os actores dão à representação teatral a carne e o sangue
de que essas histórias necessitam para se erguerem nos palcos e se
tomarem, elas próprias, vida. (...) O teatro põe-nos diante dos olhos o
viver quotidiano, transposto em arte, por isso mesmo, enriquecido. Pode
ir buscar motivos que nos falem à inteligência e aos sentidos, pondo
problemas dos mais variados, desde os que respeitam ao íntimo da
natureza humana até aos que resultam da prática social.» (in “Aula
Viva", Manual de Português A do 10.º ano)
O TEATRO SERÁ OU NÃO ESPECTÁCULO?
Sou de opinião que o teatro é formidável, consegue levar
a nossa imaginação para um outro mundo. Faz-nos recordar acontecimentos
passados ou levar-nos a pensamentos futuros. Teatro é diversão, teatro é
magia, é uma caixinha de surpresas que só conseguimos abri-la totalmente
quando chegamos até junto dela, quando a sentimos cá dentro. É um local
onde nos rimos e choramos, um dia dramático, outro cómico. Teatro é
trabalho, teatro é imaginação, pois despende muito tempo para sair do
papel. Há quem escreva, quem ensaie e quem o represente, mas o mais
importante no teatro é o sentimento do espectador. Se saem palmas
mostra-se agrado, se não há barulho, não é do gosto de ninguém. Nesse
caso, baixa-se o pano e tenta-se fazer melhor, trabalhando. Como dizia
Luís Sintra: – «O teatro é a vida em metáfora de gente.»
A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA
O motivo mais forte que me levou a escolher aquela
disciplina, que ninguém me sabia explicar em que consistia, foi para não
ter tantas aulas. Ainda me lembro do primeiro dia. Estávamos todos
ansiosos em saber qual era o professor e o que íamos fazer. A grande
questão pairava no ar! Entrámos e o Duarte (Prof. Duarte, fora da aula)
perguntou-nos os nossos dados pessoais em voz alta. Mas de repente a
sala ficou estupefacta... pois só pela voz o Duarte indicou-nos as
nossas características. O inacreditável foi que ele acertou! Passaram-se
umas semanas de aulas, onde fazíamos exercícios para adquirirmos
confiança uns com os outros. Eu achava desnecessário, porque julgava
conhecer toda a gente. Enganara-me! Algumas até só o nome sabia.
Começámos a elaborar trabalhos, sempre com a excelente colaboração do
Duarte. Mas nem tudo foi um mar de rosas! O que criticávamos era que
quando começávamos a gostar de fazer um ou outro trabalho, ficava sempre
a meio. Em suma, as nossas perspectivas não se concretizavam. Um dia
fomos convidados para fazer uma pequena apresentação numa galeria de
arte. Foi a melhor notícia que recebemos. Trabalhámos, ensaiámos,
alterámos, até tudo estar pronto. O tão desejado dia chegara! Os nervos
começavam a aparecer à flor da pele e aumentavam a cada minuto que
passava. Ao fim da tarde, fomos para a galeria fazer o ensaio geral.
Para
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nossa admiração, o Duarte estava super mal disposto, falava-nos alto e o
mais estranho, alterou-nos todas as nossas posições. Pensámos em tudo
isso e chegámos à conclusão de que estávamos ali para dar o nosso melhor
e que tudo era de propósito. Éramos "actores". Foi uma experiência
óptima!!! Assim, as três letras, OED, tiveram um significado: O – olhar,
E – existir, D – dizer:
A AQUISIÇÃO DE MAIS
Este ano já estava mais preparada para OED. Começámos
logo a trabalhar até chegarmos ao nosso principal objectivo –
representar. O melhor do teatro é isto, é o contacto com o público e o
sentir do palco. A velocidade das palmas acelera ainda mais o bater do
nosso coração, tentando quase explodi-lo. O teatro é a nossa emoção e
OED ensinou-me a viver a minha vida todos os dias, quer tristes ou
alegres. Com esta disciplina aprendi a controlar as minhas emoções e a
alcançar a postura que devo tomar nas minhas decisões. Tudo se facilitou
para mim. Hoje sou uma jovem responsável, que luta pelo que quer e
acredita. Se eu pudesse, recomendava a todos os jovens a experiência de
um palco, atrás das cortinas que, com muito esforço e trabalho,
facilmente se levanta.
ANDRÉ CRUZ – 18 ANOS
"OED forte"
Composição
– Três blocos anuais, contém lactose;
Indicações terapêuticas
– Destina-se ao tratamento de alunos com falta de sensibilidade para
expressão, assim como a todos os outros;
Contra indicações
– A associação de OED forte a qualquer tipo de complexos, preconceitos,
neuroses, náuseas e mal-estar, está contra indicada;
Efeitos Secundários
– Pode registar-se uma mudança de comportamentos ao nível de
auto-estima, controle, pois estes estarão mais marcados;
Precauções especiais de utilização
– Evitar tomar à noite já que estimula a vigília;
Efeitos sobre a capacidade de condução e utilização de
máquinas
– Não tem;
Posologia e administração
– Tomar as aulas com auxílio de professor, sendo o primeiro e segundo
blocos constituído por seis horas e o terceiro por três horas;
Expedientes
– Dióxido de movimento, uma pequena dose de tempo mais muitas horas de
prazer;
Sobre dosagem
– Não existe um antídoto específico, pelo que em caso de toma maciça,
voluntária ou acidental, recomenda-se a ingestão de líquidos e a
provocação do vómito. No caso de surgirem durante o uso, os efeitos
adversos estão neste folheto.
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