DEPOIMENTOS DOS ALUNOS – ANO LECTIVO 1997/1998
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Turma 12.º L
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(As fotos desta turma foram feitas por Inês Ferreira –
12.º L e por José Henriques –12.º J)
ADRIANA TAVARES – 17 ANOS
Primeiro era apenas uma disciplina gira, diferente... uma
disciplina que dava para descontrair, para me divertir e,
simultaneamente, tirar boas notas – o que não significa que as
expectativas à volta dela não fossem grandes! Depois tornou-se em algo
mais sério; continuou a ser tudo aquilo que eu esperava, só que com uma
profundidade, um significado, uma importância maior do que alguma vez
imaginei que tivesse. Ajudou a derrubar obstáculos, a vencer barreiras,
sobretudo a ver e a encarar certas situações de um outro modo. Isto não
significa que tenha sido tudo sempre um "mar de rosas", houve também
bastantes situações de desilusão, de insatisfação... até mesmo vontade
de virar as costas e vir embora! Contudo, penso que o balanço a fazer
destes dois anos é bastante positivo! Só tenho pena é que a turma não
tenha aproveitado bem, a oportunidade que OED nos deu de nos tornarmos
verdadeiramente unidos!
ANA LUÍSA AMARAL – 17 ANOS
Ao optar pela disciplina de OED fi-lo com a ideia de
aprender a fazer teatro... Ao longo do tempo fui-me apercebendo que esta
disciplina envolvia bastante mais do que o “fazer teatro"... OED
ajudou-me a sentir, a querer, a olhar, a falar com direito a fazê-lo e
sem medo de ser mal interpretada ou de errar... E isto, claro, com o
empenho do professor Duarte, que foi uma pessoa muito importante no meu
crescimento e amadurecimento. Através de jogos de contacto, de tocar nas
pessoas, de gritar com vontade, de deambular, de dançar
"descontroladamente", de concentração... as pessoas conseguiram
conhecer-se melhor, quer a si próprias, quer a quem as rodeava; no
entanto e, apesar de muito ter sido proveitoso (e aqui falo
especificamente de mim...), o protagonismo também existiu e as pessoas
nem sempre foram verdadeiras... No primeiro ano, em OED, aprendi muito
sobre mim própria, coisas que desconhecia e tive vontade de descobrir.
Muito ficou ainda por descobrir e por melhorar, mas agora sei que posso
procurar burilar as "personagens" em mira, crescer com as minhas
diferenças e assumir as minhas capacidades (apesar de ainda me custar).
Em mim ficou o conseguir olhar as outras pessoas nos olhos e dizer o que
realmente penso, sem inibição e simplesmente com sinceridade.
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MARGARIDA CERVEIRA – 17 ANOS
Na casa da minha infância havia um Carvalho, tão grande
que eram precisas duas pessoas para lhe abraçar o tronco. Aos quatro ou
cinco anos, já gostava muito de ir ter com ele. E lá ficava, sentia a
erva molhada debaixo do traseiro, o vento fresco nos cabelos e na cara.
Respirava e sabia que havia uma ordem superior das coisas e que eu
estava incluída nessa ordem, juntamente com tudo aquilo que via. Embora
não soubesse música, algo cantava dentro de mim. Não saberei dizer que
género de melodia era, não havia um refrão preciso. Era como se um fole
soprasse com um ritmo forte e poderoso na zona próxima do meu coração e
esse assobio, espalhando-se pelo interior do meu corpo e da minha mente,
produzisse uma grande luz. Sentia-me feliz por existir e, para além
dessa Felicidade, para mim não existiria mais nada. Ingenuamente,
pensava no Carvalho como um Ser Divino, orientador de todo o meu ser.
Mas depois disso, muita coisa mudou: com a mudança de casa, deixei de
ver, sentir e cheirar o Carvalho, o meu Carvalho. A partir daí a minha
vida obrigou-me a procurar escapatórias. Sentia-me condicionada... A
coisa mais fácil do mundo é encontrar escapatórias, quando não queremos
olhar para dentro de nós mesmos. Aos 17 anos encontrei de novo um
Carvalho. Compreendi de onde devia partir, onde devia chegar – um
processo demorado, cheio de obstáculos, mas apaixonante. Compreendi que
o único mestre que existe, o único verdadeiro e credível, é a nossa
consciência. Para a encontrarmos, temos de estar em silêncio, temos de
estar na terra nua, nus e sem nada à nossa volta. TEMOS DE EXPERIMENTAR
OED! Sentada debaixo do Carvalho, não sou eu mas o Carvalho, no bosque
sou o bosque, no meio dos homens estou com os homens. Algo tinha mudado.
Continuava a não ver nada, mas já não era uma cegueira total. No fundo
da escuridão começava a ver um clarão. Era uma luz pequena, débil, uma
chamazinha apenas. Todavia, o facto de existir dava-me uma leveza
estranha. Não havia euforia, exaltação. Não me sentia mais sábia, mais
elevada. O que crescia dentro de mim era apenas uma serena consciência
de existir. Prado no prado, Carvalho debaixo do Carvalho, pessoa no meio
das pessoas. Obrigada OED, por me fazeres ver, de novo, o enorme
Carvalho que vive dentro de mim!
CAROLINA FERNANDES – 16 ANOS
(...)
Tenho em mim todos os sonhos do mundo (...)
(...)
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o
que penso? Mas eu penso ser tanta coisa! E há tantos que pensam ser a
mesma coisa (...)
(…)
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Desci pela janela das traseiras de casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
(...)
Quantas aspirações altas, nobres e lúcidas
Sim, verdadeiramente altas, nobres e lúcidas
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de
gente?
(...)
Procuro dizer o que sinto
sem pensar o que sinto
Procuro encostar as palavras à ideia
(...)
In: Vários Poemas de Fernando Pessoa
CATARINA MIGUEL – 17 ANOS
Foi no ano de 1996 que, sem qualquer hesitação, decidi
matricular-me na disciplina de Oficina de Expressão Dramática. Até ao
momento apenas tinha fantasiado ser Nossa Senhora, nos tempos longínquos
do infantário, e de Poluição, no ano lectivo anterior. Foi então que o
sonho começou a nascer... Chegou por fim a tão esperada aula de OED e,
timidamente, entrei num universo onírico que, no entanto, continha tanto
de real... Após a tão esperada experiência, nada de consolador restava,
o gosto amargo na boca era de uma realidade extrema, afinal não era nada
daquilo que eu estava à espera! Será que no futuro a exposição teria de
continuar? Será que era necessário conhecer-me tão bem? Afinal de contas
a minha inibição não conta? Tantas dúvidas, tantas angústias, tantos
obstáculos a transpor... Seguiram-se inúmeras aulas e eu sentia-me a
mudar. A confiança em relação ao espaço que me rodeava era magnificente,
a comunicação, bem, era a oitava maravilha do mundo, as palavras fluíam
como o vento, a predisposição para a vida transfigurava-se e eu..., eu
sentia-me a mudar! Conquistei, aprendi, reflecti, sonhei... Pouco ou
nada a dizer, apenas digo que cresci... O calor que emanava dos jogos
corporais e o trespassar das fantasias para o mundo concreto começavam a
deixar as suas marcas, o tempo tinha passado e tinha deixado saudades.
Foi um caminho longo e, para mim, bastante conturbado e doloroso – mas
quem é que disse que a dor não envolve prazer? Foi a oferenda mais
significativa que fiz, foi dar-me de corpo e alma ao TEATRO! E foi assim
que cheguei ao ano das grandes decisões, o tão amado e odiado 12.º ano.
Saturada da minha estadia na estalagem José Estêvão, comecei a pensar
seriamente naquilo a que toda a gente chama FUTURO... Perdoem-me, disse
estalagem? Hotel, queria eu dizer. E explico porquê.
Pensando devotamente no meu futuro, descobri que o maior
obstáculo a passar ainda não tinha sido alcançado. É que após algumas
"lavagens cerebrais” havia algo que sempre permanecia, havia algo
entranhado nas paredes do meu cérebro, em cada célula do meu corpo – o
TEATRO. Tomei a decisão. Futuramente iria entregar-me por toda a vida.
No
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entanto a angústia continuava no peito, sufocando-me aos poucos. Não
tenho um futuro risonho pela frente, por que é que tudo foi tão fácil
até agora não pode continuar a sê-lo? Acordei e o mundo estava à minha
frente, eu tinha de lutar, era vital. Cá estou decididíssima a tirar um
curso de teatro, mas confesso, não sou a mais corajosa das mulheres.
Tirarei uma licenciatura primeiro, não sei bem qual, pois só penso em
teatro, e então depois vou directa ao assunto, Vou agora então explicar
o motivo da denominação de HOTEL. Apresento aqui, nestas poucas linhas,
a minha sincera gratidão, e apresento-a, porque foi precisamente pela
oportunidade que me deram que eu descobri a minha história. Foi esta
oportunidade que me fez desvendar o meu destino. Os meus sinceros
agradecimentos a todos os que se deixaram encantar pela arte e por tudo
o que, mesmo não parecendo, é belo. Para todos vós vai um abraço
apertado e um humilde obrigado por confiarem em pessoas como nós, e
muito especialmente por acalentarem um amigo tão cordial, o meu
professor – Duarte Morgado. Apresento, então, esta escola como um hotel,
pelo simples facto de albergar pessoas tão especiais como vós.
CLÁUDIA COSTA – 18 ANOS
Oficina de Expressão Dramática foi para mim uma espécie
de medicamento. Ajudou-me bastante a ultrapassar certos receios, ainda
que não totalmente... Mas, também, não é nenhuma disciplina com poderes
mágicos! E, no entanto, penso que mudei bastante (directa e
indirectamente por determinados exercícios). No início, esta disciplina
deixou-me um pouco céptica... Afinal, era uma coisa bastante diferente
na forma e no conteúdo. Nunca tinha sido incentivada a revelar-me tão
natural e tão desinteressadamente. É claro que eu própria coloquei as
minhas próprias barreiras, as minhas próprias defesas, mas a pouco e
pouco fui-me libertando de toda essa "tralha" que carregava comigo
(confesso que não totalmente!) Hoje, penso que ainda ninguém me conhece
totalmente... Acho que nem eu. Antigamente, eu pensava que a culpa seria
dos outros, que eles não se interessavam por mim... Agora, vejo que, de
facto, eu é que não os deixo aproximarem-se...) e descobri-me bem mais
leve, bem mais livre (e pensar que eu pensava que o era!...). Comecei, a
pouco e pouco, a afastar certos receios, certas vergonhas; comecei a
tornar-me mais extrovertida, mais sociável com todos e não apenas com
quem eu, "à priori", escolhia. No entanto, na hora de realmente me
confortar com os outros (ou mesmo comigo!) eu encolhia-me... Recordo que
um dos exercícios que me levou a mudar esta acção foi o da improvisação
com um objecto. Com esse exercício aprendi a adaptar-me a mim, aos
outros e a novas situações. Comecei então a valorizar-me um pouco, a ver
que afinal eu não era aquela pessoa tão fraca e tão frágil a que eu me
tinha habituado. Abri-me a mim e posteriormente aos outros e às suas
ideias. Lembro-me que, apesar de todos estes progressos, ainda sentia
dificuldades em olhar as pessoas de frente, de as enfrentar devido à
falta de segurança que sentia em relação a mim e aos outros; outros
exercícios vieram mudar um pouco isso: relaxamento e jogos de confiança
– sentir-me dependente (por momentos) dos outros,
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tentar esquecer que eles me poderiam deixar cair... Foi muito bom para
ultrapassar grande parte das dificuldades que eu sentia. Com OED eu
aprendi a retirar as 1001 máscaras que eu tinha oferecido a mim própria
e a apenas colocá-las na hora devida, na altura devida, na situação
devida. Sei, no entanto, que também falhei em relação à disciplina...
Tornei-me um pouco comodista! E, o erro não foi da disciplina ou das
aulas em si, mas meu. Estava demasiado preocupada com o rumo instável
que eu estava a tomar; preocupada com a melancolia insistente que eu
sentia, preocupada com as depressões em que caía. Eu tentei atingir a
"perfeição" (se é que ela existe), mas não consegui... Nem comigo, nem
com os outros (principalmente com os meus pais) – num mundo imperfeito,
quem é que consegue exigir de si o mínimo que seja de perfeição? Agora,
penso que essas fases estão a ser ultrapassadas e, no entanto, sinto-me
uma estúpida, porque, quando finalmente me sinto preparada para me
entregar e assumir OED quase a 100%, verifico que o ano está a acabar...
E com ele sonhos, projectos, fantasias... Quase um futuro!
FILIPA NETO – 17 ANOS
Entramos num mundo diferente, onde nos encontramos com os
nossos sonhos e com os nossos medos. É-nos dada uma máscara, que pomos e
tiramos conforme a disposição, mas que na maior parte das vezes
permanece para além das quatro paredes da sala – é o véu da arte
dramática. A disciplina de OED desentranhou-me algumas das minhas
máscaras pessoais e ajudou-me a acreditar mais nas outras pessoa e no
poder da arte. OED sou eu, os meus colegas, o professor, a sala, as
palavras, as imagens... É tudo aquilo que acreditamos que somos capazes
de criar. E se sonhar é viver, criar é saborear o "tutano" da vida”.
INÊS FERREIRA – 17 ANOS
Noutro dia, estava exactamente a pensar no que eu era
antes de entrar para OED. Reparei na pessoa "atulhada" de complexos e
preconceitos que era: se falasse mais alto dava "mau aspecto"; se me
apetecesse começar a rir às gargalhadas, passava por maluca ou
exibicionista. Penso no que sou hoje, depois de dois anos de
"tratamento". Já não me consigo imaginar sem os meus berros estridentes;
sem as sentidas gargalhadas que dou, mesmo nos ambientes mais
conservadores; sem a "viagem" antes de cada momento de tensão; sem a
pitada no quotidiano, que constitui a disciplina e os humores do meu
professor; entre muitas outras coisas que enchem a minha vida e ajudaram
à formação da minha personalidade. Nas linhas que escrevi, caí num mau
hábito meu, falar de mim e analisar-me. Mas, pensando bem, estou a falar
de um dos princípios fundamentais para executar
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qualquer actividade nesta disciplina e na vida – conhecermo-nos a nós
próprios. Confesso que fui para OED porque queria ser actriz; e apesar
de agora ter optado por outro tipo de palco (o da Política, que acaba
por não ser muito diferente), nunca esquecerei quanto me tremeram as
pernas e quão seca ficou a garganta durante todas as vezes que pisei o
palco; das vontades constantes de ir à casa de banho antes "do momento";
de todos os medos, alegrias, êxtases; e fica a promessa (que já fiz a
mim mesma) que tentarei sempre manter-me activa neste campo. Tenho
orgulho de ter crescido, nestes últimos dois anos, como discípula de tão
nobres ensinamentos.
JAIME SEMEDO – 19 ANOS
A disciplina de OED é alucinante e ao mesmo tempo real,
pois faz ver a realidade de um ponto de vista mais preciso e objectivo e
também fora do normal. Esta disciplina fez-me olhar para as expressões
artísticas (teatro, cinema, escultura, pintura, etc.) de um modo
diferente, ajudou-me a compreender melhor as artes no geral e a saber
apreciá-las. Desenvolveu o meu espírito crítico e autocrítico, alterando
alguns comportamentos em mim e formando uma personalidade mais forte.
Ajudou-me muito psicologicamente, na interpretação e na relação com o
meio que me rodeia. A nível físico sinto que desenvolveu algumas
capacidades motoras, com maior coordenação e precisão nos movimentos, e
mesmo na minha expressão oral. Estimulou muito a minha sensibilidade em
relação a objectos, a pessoas e aos seus variados conteúdos. Ajudou-me a
expressar-me e a criar artisticamente (como por exemplo "curtas
metragens" teatrais) desenvolvendo a minha criatividade e a minha
capacidade de improviso. Agora, sob o ponto de vista da minha relação
curricular com a disciplina, em relação à minha situação escolar, também
existiram modificações. A minha assiduidade e pontualidade pouco mudaram
(há hábitos que não mudam), mas o meu sentido de responsabilidade e de
empenho sofreu alterações profundas e de um modo positivo. A minha
relação com o grupo e com os grupos extra-solidificou-se, criei novos
amigos através desta disciplina e consegui aprender a preservá-los.
Respeitei as diferenças (intervindo muitas vezes sem oportunidade, mas
pronto...), cooperei e recebi ajuda sempre que precisei e senti-me
acolhido, pois mudei de grupo mas não de orientador. Em relação ao
orientador, o Duarte é 100%, pois é o elemento principal de toda esta
teia. É ele que nos mostra como é que a disciplina funciona, quais os
seus objectivos, o que ela representa na realidade e qual o seu papel na
sociedade, a sua aplicação prática no novo quotidiano e, o mais
importante, a sua interdisciplinaridade. É uma grande pessoa de valor
interminável, estimável e inesquecível. É muito solidário, preocupa-se
com os outros, é diferente de alguns professores e sempre se preocupou
com os meus problemas e ajudou-me a ultrapassá-los, pelo qual lhe estou
eternamente grato. É criativo, o que faz dele uma pessoa muito
divertida, do quem se pode esperar qualquer situação. Tomou-me numa
pessoa psicologicamente mais aberta. O imprevisto e o improviso
tornam-no muito dinâmico, a ele
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e à disciplina. É muito claro e explícito na sua comunicação, mas o que
falha muitas vezes é a atenção da nossa parte, sendo muitas vezes causa
disso o conteúdo temático, não despertando o interesse colectivo. Mas o
processo e o rigor das concepções elaboradas é sempre levado
racionalmente. O à vontade com que nos sentimos nas aulas é a sua
principal qualidade. E "lá tudo". Esta disciplina é recomendada a todos
os estudantes do 7.º ao 12.º ano.
JOANA SOARES – 17 ANOS
Oficina de Expressão Dramática foi uma grande experiência
para mim. Ajudou-me a descobrir alguns aspectos sobre mim que eu
desconhecia; a reflectir sobre alguns momentos da minha vida e permitiu
que a relação com os meus colegas não fosse tão superficial e se
tornasse mais íntima, mais calorosa; não só numa relação entre colegas
mas também entre amigos. A relação de grupo que se estabeleceu foi uma
relação unida pelo espírito de inter-ajuda, pelo respeito pelas
diferenças de cada um, mas também pelas semelhanças, pelo empenho, pela
sensibilidade, pela dedicação ao trabalho, entre outras coisas. Os
trabalhos que realizámos foram desenvolvidos sempre com empenhamento,
com rigor possível e com qualidade. Para além disso, OED permitiu
libertar, olhar, escutar, de outra forma ou de outra maneira, mas também
a compreender e a descobrir os outros e a mim. Com OED passei a ser
menos tímida, mais extrovertida, a ter mais confiança, a ser mais
optimista e também a criar, a ser eu mesma, a rir, a chorar, a brincar,
tudo ao mesmo.
LUCY RODRIGUES – 18 ANOS
A disciplina de OED é um "passaporte" para o mundo dos
sonhos. Desde muito pequena que o teatro faz parte da minha vida. A
capacidade de me envolver na sua magia e de me levar para um mundo
distante foi sempre um verdadeiro encanto. Lembro-me, várias vezes, de
entrar em palco e sentir-me completamente transformada e totalmente
influenciada pelo ambiente, quase onírico, que me rodeava. Acho que esse
é o aspecto que mais valorizo: o facto de poder dar "asas à imaginação"
e ser alguém ou algo totalmente distinto da realidade cinzenta e
monótona do nosso dia-a-dia. O teatro sempre foi um grande sonho, com um
significado muito especial. (Era quase um refúgio da vida sem cor, nem
Arte!) Infelizmente no teatro, tal como na vida real, nem tudo é
perfeito... ou melhor, é-nos exigido muito esforço, trabalho, anos e
dedicação, pois nem todos merecem (ou conseguem) conquistar um lugar
nesse mundo. Ora, é neste preciso aspecto que sinto a necessidade de
salientar a importância das aulas de OED. O palco, já não era novidade
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para mim (felizmente, tive a oportunidade de viver uma experiência
inesquecível, com uma companhia de teatro londrina na Rússia, mas
juntamente com esta aventura ficaram as saudades, sem conta, e uma
enorme vontade de concretizar, novamente, o meu sonho: de tornar a pisar
o palco). Assim, aproveitei logo a primeira oportunidade que tive para
garantir o meu "passaporte" para aquele lindíssimo mundo de fantasia: no
11.º ano matriculei-me nas aulas de OED. Para muitos, o principal
objectivo desta disciplina é ajudar a combater o medo de contactar com o
público. Devo dizer que as aulas desta disciplina ajudaram-me a
fortalecer a minha confiança e personalidade. Ligado a este aspecto,
entre outras coisas, está o "aprender" a trabalhar em grupo, o que não é
tão fácil quanto parece. Quanto ao meu ponto de vista, além destes
objectivos, estas aulas criam a "ligação" entre o mundo da criatividade
e o nosso mundo do dia-a-dia. Tal como referi anteriormente, as aulas de
Oficina de Expressão Dramática são o "passaporte" entre ambas as
realidades. A experiência que melhor revela, ou demonstra, este facto,
foi a actuação (em Janeiro deste mesmo ano) no Centro Cultural de
Congressos na Semana da Educação da Presidência da República – Uma
recordação que nunca irei esquecer... Por instantes, o meu mundo esteve
única e simplesmente dependente da minha imaginação, originalidade e do
significado que tinha para mim! Por estas razões, entre outras, gosto de
ligar a Oficina de Expressão Dramática ao trabalho gestual e verbal, mas
prefiro pensar nesta como o "passaporte" para o mundo dos MEUS
SONHOS!...
MAGDA BENTO – 19 ANOS
É difícil fazer o balanço final das aulas de OED, porque
é difícil fazer o balanço final do que se quer prolongar! Das aulas
ficou-me a sensação que venci certos medos, mas outras fobias virão...
De qualquer maneira, vou dar-vos o exemplo concreto de como funcionou a
função "arranca desinibições": consegui conviver (através de comovidas
gargalhadas) saudavelmente com as minhas figuras patéticas e isso foi
muito importante para mim. Bastou levantar a questão do que é ser
patético afinal (?) e o ambiente "meio alienado" das nossas aulas foi o
ambiente propício para esses mergulhos existenciais que tanto
caracterizam a adolescência, daí o SENTIR-ME BEM e portanto, levantar
questões! Fica a recordação de uma sala mágica, repleta de diferentes
categorias de sentimentos, desde risos histéricos a tímidas amarguras...
FÁTIMA DIAS – 17 ANOS
Muito basicamente, quando me questiono acerca do "que é
que OED me fez" as ideias que surgem imediatamente resumem-se no
seguinte: fez-me crescer
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psicologicamente, na medida em que passei a saber ouvir e compreender as
opiniões de outras pessoas, o que implica a comunicação com outros;
logo, trabalho em grupo. Este trabalho em grupo teve um orientador que
por acaso foi o professor. É claro que nem sempre orientador e
orientados estiveram em sintonia, bem como orientados / orientador, daí
que tenha surgido a tal necessidade de compreensão. Ainda dentro deste
trabalho em grupo, como em todos os trabalhos, houve alturas sérias e
alturas de autêntica "coboiada" e foi muitas vezes aqui que surgiram
imprevistos que muitas vezes foram úteis para solucionar pormenores do
trabalho em decurso. Resumindo, OED é uma disciplina de verdadeira
libertação de stress em que, simultaneamente com esta libertação, se
cresce psicologicamente. Concluindo, este não é um texto exemplar, mas é
o "meu" texto e o que realmente sinto em relação à aula de Oficina de
Expressão Dramática.
MARIA JOÃO PICADO – 17 ANOS
Como definir uma longa caminhada? Uma caminhada que está
a chegar ao fim. É sempre difícil começar uma disciplina nova, pois não
sabemos o que nos espera. OED foi das mais difíceis de encarar,
principalmente quando entramos pesados, com um grande fardo às costas.
Quando entrei na sala carregava timidez, vergonha, desconfiança,
insegurança, dúvida, medo e nervosismo. Mas, à medida que cada aula
passava, sentia-me mais leve, sentia-me mais segura e crente nas minhas
capacidades. Fiz-me outra pessoa e vi realmente aquilo do que era capaz.
Hoje o peso não existe mais. Aprendi a encarar a vida e aquilo que ela
nos traz de uma forma mais saudável e alegre, aproveitando cada minuto
de cada dia.
RAQUEL COSTA – 16 ANOS
É sempre difícil falar de OED, pois esta não é uma
disciplina como outra qualquer e por mais que tentemos que assim seja,
procurando desligarmo-nos (o mais possível) afectivamente desta
disciplina, não o conseguimos. OED é como que uma experiência em que
estão incluídos sentimentos, reflexões individuais e em grupo, o "eu" e
o "outro", uma experiência inefável. No entanto, os resultados desta
experiência são transmissíveis, apesar de jamais poderem ser expressos
de uma forma puramente teórica. A verdade, e uma das diferenças entre
esta e as outras disciplinas, é que a teoria que se aprende em OED fica
dentro de cada um – são os exercícios, as improvisações, os
imprevistos... – e só é transmitida se partilhada. Daí poder dizer-se
que OED muda a vida de uma pessoa... Não é apenas uma influência, é uma
mudança, é o fortalecermos a nossa personalidade construindo ou
reconstruindo, conhecê-la, conhecer os outros, aprender a aceitar e a
respeitar as diferenças
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– é aprender a PARTILHAR vivências, a trabalhar em grupo, a criar coisas
bonitas, chegar à conclusão que a VIDA é um bem maravilhoso e que pode
ser bastante simplificada com a ajuda dos outros colegas, professor, ou
melhor, orientador, é compreender que as coisas até podem acontecer por
acaso e que o acaso pode e deve ser aproveitado... é o falar de uma
forma tão apaixonada de uma “simples" disciplina! O professor é para nós
não um amigo, mas uma espécie de “paizinho”. Ri connosco quando é altura
de rir, compreende os nossos choros, inquietações, tolera algumas
rebeldias, dá-nos sermões quando é necessário fazê-lo e muitas vezes
achamos que, tal como o pai, nem sempre tem razão. Mas não é por o
tratarmos por "tu" que o desrespeitamos... respeitamos e muito, mas não
é por ser o nosso professor ou por ser mais velho, não é um respeito
imposto pelas normas da sociedade, é um respeito sentido: respeitamo-lo,
porque as pessoas que nos respeitam merecem ser respeitadas. São estas
pequenas coisas que fazem a diferença, que me tornaram mais tolerante,
mais compreensiva, mais apaixonada pela Vida, mais amiga daqueles a que
chamo apenas colegas. Lembro-me de uma frase que, juntamente com uma
amiga, escrevi acerca de OED, pouco tempo depois de a começar a ter:
'Quebrou-se a indiferença"... A verdade é que, deixei de olhar para
certos colegas de uma forma indiferente, o que acontecia antes de ter
esta disciplina; olhando-os com bons ou maus olhos (pois nem tudo é um
mar de rosas), eu olho para eles e não me passam despercebidos. Claro
que nem tudo é o paraíso. É natural que ao aproximarmo-nos de uma
pessoa, descubramos algo que não nos agrada tanto (ou que nos desagrada
por completo), é natural que não concordemos com tudo e que surjam
conflitos. Conflitos, por vezes, extremamente desgastantes, que nos
fazem pensar à noite, que são o tema principal dos almoços em grupo, que
nos fazem ficar irritados, porque 20 pessoas com personalidades
diferentes e extremas, numa sala, onde se podem expressar por completo,
nem sempre conseguem ter uma relação 'cor de rosa'. Mas mesmo assim
aprendemos a marcar a nossa posição, sem passar por cima dos outros (?),
aprendemos que podemos ser sensíveis e fortes ao mesmo tempo... e somos!
E é claro, que esta aprendizagem se reflecte na nossa vida, porque ela
passa a ser a nossa vida, não é uma matéria, somos nós. Depois sabe tão
bem mostrar aos outros o que criámos nestas aulas: certamente fazemo-lo
em cima do palco, naturalmente apresentamo-lo na nossa vida! É o fazer
da vida um palco, infelizmente nem sempre é possível fazer do palco a
nossa vida... mas nós tentamos. Tentamos e perdemos o medo de tentar
fazer da nossa vida o que queremos, nem que seja por apenas 30 minutos,
50 m, 1 h e qualquer coisa!
SARA CARDOSO – 17 ANOS
A disciplina de OED surgiu como algo de novo e divertido.
Criou novas expectativas em todos os elementos da turma. Contudo, vou
ser bastante sincera, não mudou a minha personalidade. Não suscitou em
mim nem novas qualidades nem novos defeitos (que já são tantos!). Apesar
de não parecer, gosto de OED... Acho que nos consegue retirar de toda a
monotonia das outras disciplinas e deixar-nos à vontade; é tipo um
escape, um local
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em que, apesar de se trabalhar, podemos rir e chorar livremente sem
corrermos o risco de sermos repreendidos ou questionados. A relação que
existe entre nós (turma) não é das melhores, mas não é das piores. Tal
como o Duarte já disse, sou um pouco comodista. Não o nego. Podia não o
ser se não tivesse um certo receio da opinião de alguns elementos da
turma. Por isso prefiro não me exprimir. Felizmente temos um orientador
que está sempre predisposto a opinar, a dar ideias, a ensinar-nos a
aprender a trabalhar em grupo. Apesar do esforço relevado por algumas
pessoas és, sem dúvida, a "alavanca" do nosso trabalho. Não tenho muito
mais a dizer... Foi mais um desabafo de tudo o que penso.
SÓNIA NUNES – 16 ANOS
Oficina de Expressão Dramática surgiu como uma disciplina
de opção de carácter tecnológico no 11.º ano. A expectativa era grande,
pois ficámos a saber que esta disciplina era "diferente” de todas as
outras, e ao fim de algum tempo, verifiquei que isso era verdade. É uma
disciplina que, como todas as outras, exige rigor e dedicação, tanto da
parte dos alunos como da parte do orientador, mas que nos dá uma grande
liberdade de expressão. Foi através desta disciplina que houve um maior
contacto entre o grupo de pessoas que forma a nossa turma; descobri que,
apesar da carga horária, pode-se ter algum tempo para contar um problema
ou até uma alegria, sem se ser pressionado por outras pessoas (facto que
não acontece nas outras disciplinas). Não vou afirmar que foi através de
OED que ficámos uma turma mais unida, mas ela contribui para a
existência de um espírito de inter-ajuda entre todos, o que ajudou a
criar uma harmonia entre a turma. Apesar de todos as diferenças que nos
separam um pouco como turma e como pessoas, foi bom saber que podemos
(numa sala de aula) ser um pouco mais espontâneos e felizes sem
menosprezar um processo didáctico que o professor e os alunos têm a
cumprir... Não é em todas as disciplinas que uma pessoa tem a liberdade
de chorar, de rir, de se entregar plenamente na realização e execução de
um trabalho... (apesar disso não acontecer comigo, pois sou uma pessoa
bastante fechada e cheia de receios...). Mas a sensibilidade por parte
de todos supera os pequenos aspectos negativos que possam existir.
SORAIA MENANO – 17 ANOS
O que inicialmente era para mim apenas uma disciplina de
teatro em que me inscrevera apenas por curiosidade, até porque eu sempre
acreditei que não tinha jeito
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nenhum para o teatro, transformou-se numa aula completamente diferente
das outras, um local de amadurecimento, preferindo-se na maioria das
vezes dar mais valor às relações de grupo do que ao trabalho teatral,
embora este também tenha muito valor. Assim a disciplina não é apenas
uma disciplina igual a tantas outras, é um local onde todos nós
crescemos com os nossos próprios erros, segundo certas regras
essenciais: o respeito pelas diferenças de cada um, sim porque embora
sejamos maioritariamente raparigas à excepção do Jaime (diferente em
tudo) somos todos bastante diferentes, cada um tem a sua própria
sensibilidade, entre outras coisas, o que nos leva a completarmo-nos
como um todo. É necessário que haja espírito de inter-ajuda e uma
entrega total de cada um, para que movidos pelos diferentes sentimentos
que nos unem, possamos atingir os nossos objectivos, seja na aula ou cá
fora na relação com os outros. Particularmente, sinto que OED me ajudou
a perceber a pessoa que está dentro de mim e sobretudo a valorizar, a
respeitar também aquilo que eu realmente sou, embora por vezes, por mais
que tente, não me consiga libertar totalmente do que me rodeia, dos
problemas que à entrada da sala deveriam ficar lá fora e é suposto
esquecerem-se por algumas horas. Este é um dos aspectos que ainda tenho
de amadurecer. Na minha perspectiva, OED possibilitou-me a abertura de
novos caminhos, à minha construção como pessoa que sou.
TERESA OLIVEIRA – 17 ANOS
As aulas de OED fizeram-me compreender que o meu corpo
tem uma linguagem própria, intensamente mais vasta e útil do que todas
as linguagens verbais, porque nela se materializam não só todas as
minhas emoções, anseios, sentimentos como também toda a infinidade de
Estados de alma que a minha imaginação consiga conceber. A expressão
corporal nunca passa despercebida ao outro e hoje sei comunicar de uma
forma mais confiante o que pretendo. Consigo compreender o outro melhor,
observando-o. Ponho também cada vez mais de parte uma série de lugares
comuns, gestos e palavras que repetia muitas vezes e que compunham a
"Máscara" tão conhecida por parte daqueles que sentem uma certa
relutância em se expor a si próprios. Julgo que hoje ajo de uma forma
mais coerente com o que sinto; e esta foi talvez a minha maior evolução.
A disciplina de OED possibilitou-me, por último, esse prazer
extraordinário que é estar em cima do palco, sentir a ilusão de que eu
não sou eu e sou alguém que pode dominar o mundo, que vai começar pelo
público que tem à frente. Isto é das coisas mais fascinantes que já
alguma vez experimentei.
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