CRIAÇÃO TEATRAL NA EDUCAÇÃO
FUNDAMENTOS
PROCESSO PEDAGÓGICO
O processo de transmissão de conhecimentos quer na sua
forma formativa, quer na sua forma meramente informativa, é um processo
informativo. A teoria da informação ensina-nos que em todo o processo
informativo existe um emissor, um receptor e um canal de informação que
liga o emissor ao receptor. Para que as mensagens enviadas pelo emissor
ao receptor sejam recebidas, é obviamente necessário que o receptor
esteja sintonizado com o emissor e que seja capaz de receber ao ritmo
que o emissor envia. Se estas duas condições não existirem, a informação
perde-se. Para que a informação seja transmitida a um bom ritmo, é
também necessário que o canal seja o mais adequado a esse ritmo de
transmissão.
No processo pedagógico o emissor é quem dá as aulas, o
receptor é o estudante e o canal de informação são as ferramentas de que
o docente se serve para transmitir a sua mensagem, por isso o ensino tem
de ser motivante.
Nesse sentido, o docente tem de ser capaz de motivar o
estudante, respondendo às suas interrogações e, num processo formativo,
ser capaz de lhe criar novas interrogações a que ele se sinta
interessado a responder. O acto de ensinar implica uma atenção constante
aos métodos de ensino que constitui o canal de informação. Conforme os
assuntos a abordar, devem ser utilizados os meios mais convenientes para
aproximar o docente do estudante.
Esta proximidade implica que o método de ensino seja
democrático, ou seja, é necessária a participação activa do aluno. Este
processo de realimentação é de capital importância. A participação deve
ser encorajada, tendo como objectivo fundamental o desenvolvimento de um
conjunto de qualidades que farão falta a qualquer quadro. São elas:
● decisão
● planificação
● organização
● trabalho em equipa
● domínio técnico-científico.
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É pela discussão do trabalho continuamente desenvolvido
que se deverá procurar aumentar estas qualidades no estudante. O
trabalho em equipa deve ser particularmente estimulado. Mas para que o
ensino seja efectivamente democrático, é necessário encorajar os
estudantes à procura da verdade pelos seus próprios meios, ultrapassando
os limites da sala de aula, acabando por ser uma das formas de
participação. Embora o docente deva fazer publicações dedicadas à
actividade da aprendizagem, não devem ser essas obras as únicas a que o
estudante tem acesso para consulta. Tal seria uma prática totalitária,
contrária ao desenvolvimento dum pensamento aberto e dialogante. O
desenvolvimento das capacidades dos alunos está ligado à forma prevista,
executada e consequente, dos docentes. O docente é responsável pelo
conhecimento de todas as condicionantes ao seu trabalho.
DIDÁCTICAS ESPECÍFICAS
Qualquer didáctica específica estuda cientificamente
tendo em conta sempre o como, o porquê, o onde e
o que foi leva sempre o docente a tornar-se mais performante,
consciente, eficiente e responsável, à medida que evidencia uma
autonomia que lhe será necessária para sempre na sua prática. É claro
que a formulação de uma metodologia só é entendida se houver
conhecimentos básicos de História da Pedagogia, para que os conceitos
escolhidos sejam aplicados compreendendo as evoluções, tanto na
sociedade como nas pesquisas científicas, consequencializando princípios
pedagógicos. É por isso que as didácticas não podem funcionar como
receita, porque o re-estudo dos métodos leva-nos sempre a reformular
novos conceitos e novas fórmulas. Devemos é ter em conta uma realidade
específica – o conhecimento e a realidade dos componentes dos grupos com
quem se trabalha – para que a utilização de uma estratégia e método não
se transforme numa experiência gratuita. Qualquer situação pedagógica
deve-nos facilitar a análise explícita e justificada que provoque
deduções pertinentes e coerentes ao processo. Daí a grande necessidade
de uma planificação actualizante, que considere as condições
epistemológicas e as circunstâncias didácticas. Se nos prevenirmos da
justeza das circunstâncias escolhidas, todas as situações que se
improvisem para além da programação correm menos riscos de insucesso. Os
alunos terão tendência para serem mais colaboradores se as actividades
preconizadas lhes parecerem úteis no sentido de resultados, e credíveis,
se for aplicado rigor na manutenção e na orientação dos conteúdos. É
evidente que, quando se definem objectivos, temos de pensar que estamos
a definir um pouco a "construção humana" que se espera. Daí que os
conceitos de vida devem respeitar a construtividade positiva a todos os
níveis. Nunca será só programar por programar, jogo pelo jogo, prazer
pelo prazer, mas sim programar para construir sabendo, jogo pelo
dinamismo do controle das regras sabendo fazer, prazer para que a alma
estética do indivíduo se eleve com amor sabendo ser.
Tudo isto leva-nos sempre a uma avaliação, que no caso do
uso de didácticas específicas da Expressão Dramática e Teatro na
Educação não deixa de se fazer em dois sentidos – a avaliação do
trabalho do formador e a avaliação do trabalho do formando, sempre mais
no sentido de uma avaliação criterial do que normativa.
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INFLUÊNCIA ANGLO-SAXÓNICA
As actividades começam por ser ligeiramente fechadas no
grupo, dentro dos conceitos psicopedagógicos defendidos por Brian Way,
depois por Dorothy Heathcote e, um pouco mais tarde, por Gavin Bolton.
Os princípios que norteiam as suas correntes são baseados na pedagogia
do não directivo, que obriga o orientador a controlar todas as atitudes
de emissão/recepção, de forma a que o grupo não entre em anarquia, mas
que perceba, ou não percebendo, sinta a harmonia tão necessária para que
a disponibilidade psicológica funcione; indirectamente em termos de
estratégia, para o jovem não se sentir uma cobaia em experimentação, mas
que a experimentação seja uma necessidade, um meio e uma luta que cada
um terá de travar em função do seu próprio desenvolvimento. Não devo
esquecer de referir um aspecto importantíssimo – o amor, para
sensivelmente usar o saber e a intuição. Não impor completamente e sem
sensibilidade as propostas, é para o grupo se sentir em situação de
verdadeiro trabalho colectivo (sempre debaixo de uma auréola ficcional
para melhor intrusar as linguagens dramáticas).
É este estatuto disciplinar de prática do drama, como
promotor para o conhecimento e para a formação estética, que nos leva a
um género de planificação que contemple factos e princípios como:
1 – O Jogo e o Teatro estão interligados por laços de
Jogo/Acção onde o acreditar funcione;
2 – Ao acreditar que o Jogo é pensamento em acção,
creio ser o sustento do jogo o enredo, e quando o jogo se sustenta no
enredo, efectuam-se aprendizagens nas descobertas objectivas ao elaborar
conceitos praticados em abstracções. Consequentemente, delineamos
valores, atitudes e sentimentos; tudo é claro quando se joga o Jogo que
se produz e entende, quando se constrói o sentido de colectivo na
focagem de ideias para soluções;
3 – Como professor, não posso valorizar só a intuição,
devo dominar uma série de técnicas para poder dominar as situações;
4 – A planificação deve ser clara no percurso da
aprendizagem, no sentido de criar ambiente propício e espaço mágico de
indução, na (re)construção de um mundo interior a partir da relação com
o mundo exterior.
Gavin Bolton define nas suas teorias a base da sua causa
estética/pedagógica, em que as suas convicções de estrutura dramática
dão-nos claramente a conceitualização de improvisação num DRAMA FOR
UNDERSTANDING.
Ao explorar situações para serem aplicadas
posteriormente, o animador deve preocupar-se em fazer entender ao
jogador as linguagens que ele próprio vai descobrindo, a sua análise e
reflexão, para um futuro encontro com um destinatário em situação de
Expressão/Comunicação. Claro que implica sempre uma exploração estética
da criação e neste caso o orientador deve preocupar-se em que o grupo
não fique em relação directa com estereótipos formais. Abrem-se outras
perspectivas de fundamentar o trabalho não só no conteúdo mas também na
forma de construção que implicam todos os apêndices da Linguagem
Dramática. Não será só um ensino centrado no Jovem, nem na actividade,
nem só centrado em atingir objectivos do domínio cognitivo.
Hoje podemos concluir que as teorias Anglo-saxónicas
apresentam-nos um perfil
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pedagógico e filosófico que vão além do querer desenvolver as
capacidades do indivíduo. A Arte, a sua prática efémera, como o é no
DRAMA/ACÇÃO onde as coisas acontecem em teia e se reconstroem
constantemente, é o outro estandarte que norteia estas teorias e exigem
de nós professores a tal noção artística e pedagógica de GESTOR DO
IMPREVISTO / ARTÍFICE / PEDAGOGO / ARTISTA / COMUNICADOR / CIENTISTA.
INFLUÊNCIA FRANCÓFONA
É mais do que evidente que é importante conhecer as
ideias de Gisele Barret, Augusto Boal e de Jean-Pierre Ryngaert, as
técnicas, as actividades e os seus recursos para qualquer planificação
em Oficina de Expressão Dramática.
Para além do que é nitidamente comum às correntes
francófonas e anglo-saxónicas, saliento a influência de Augusto Boal,
que assenta na ideia de que todos podemos ser actores. Os esquemas de
trabalho por ele propostos estão sempre de mãos dadas, tanto com a
realidade da sua própria vida como com os seus próprios conceitos de
"ser".
Há princípios básicos que procuram definir a sua causa
estética/pedagógica, porque Augusto Boal entende (e bem) que todas as
pessoas têm capacidade de expressão, precisam é que um orientador bem
formado saiba fazê-las "acordar", vindas de dentro pela sua própria
existência e vindas de fora através da forma que exerce sobre o que é o
célebre "Teatro do Oprimido” como génese. Em qualquer projecto de
trabalho que eu encete, há evidências do Teatro Jornal, do Teatro Imagem
e do Teatro Fórum em que os seus conceitos estruturais definem as
respostas de improvisação. Boal quer sempre, através do trabalho, que se
valorize esteticamente o conteúdo, mas eu penso que não devemos ficar
pela mensagem de um conteúdo.
Ao lermos Ryngaert, abrem-se outras perspectivas de
fundamentar o trabalho não só no conteúdo, mas também na composição
formal/estética que se aproxima das ideias partilhadas pelos didactas
anglo-saxónicos ao querer implicar qualquer instrumento de linguagem
possível.
REFLEXÃO / AVALIAÇÃO
Regras como conceitos de saber usar o corpo, a voz, a
imagem, a cor, a luz, o som, a percepção de tudo o que nos rodeia, a
composição de uma personagem com dados do jogador, dados da própria
personagem, dados do orientador e de outros jogadores, domínio da
focalização, tensão, contraste e simbolismo, são referências da
Linguagem Teatral da qual nos devemos munir para se apresentar um
trabalho destas linguagens de acção. O sentido da palavra e do corpo em
acção num espaço, é diferente do sentido da escrita inicial (ponto de
partida – quando é um texto inicial). Aqui está a fuga ao naturalismo
como consequência do trabalho sempre que seja por mim proposto, em que a
forma artística é conseguida devido ao processo. Se o jogador puder
criar ilusão, tudo certo, mas a grande preocupação deve dirigir-se ao
jogador no domínio do seu próprio discurso, ao mostrar-se numa situação
de Expressão/Comunicação em que se trabalha ao mesmo tempo a forma e o
conteúdo. É sempre um trabalho que leva os alunos a interpretarem o
mundo que os rodeia, através deste espaço de criação, em que intervêm a
partir das suas próprias emoções / 13 / e sentimentos.
Como animador, obrigo-me a estar num local de verdade,
para o jovem se sentir e actuar na verdade, que implica jogo, regras,
rigor, o seu desenvolvimento de competências:
– o estar disponível;
– o saber escutar e ser receptivo;
– o deixar-se surpreender pelo inesperado;
– o ser capaz de sentir o prazer do que é ser-se cúmplice
no jogo, criando a afectividade anímica de grupo (implicação afectiva);
– e sempre a procura da inovação e da renovação.
Para levar a bom porto toda esta empreitada, há que
cumprir regras, tais como:
– nunca jogar só uma vez – retomar sempre o jogo com algo
novo, nunca pensar que já está tudo feito;
– propor, escutar e olhar – são aprendizagens constantes
e evolutivas, cada um tem o seu próprio lugar dentro de uma forma de
estar colectiva;
– ter consciência de que o imaginário dá-nos resposta às
alternativas e…
LEVA-NOS INCONSEQUENTEMENTE AO DESENVOLVIMENTO DA
SENSIBILIDADE, AO CONTROLE EXPRESSIVO, À ORIENTAÇÃO DO SENTIDO DE
COMUNICAÇÃO E AO DOMÍNIO DAS COMPONENTES FUNDAMENTAIS DO TEATRO.
Apesar de já ter nomeado as regras principais de conduta,
tanto para os alunos como para o orientador, devo deixar bem explícito
que ser-se claro é fundamental para provocar melhor comunicação,
apresentar propostas atraentes para provocar inovação, deixar
experimentar para provocar melhor conhecimento de si, dos outros e do
meio, e deve sempre reflectir com os alunos sobre o trabalho feito,
processo/produto e avaliação.
A avaliação é um meio de personalizar a educação. Usa-se,
neste caso, para reflectir na eficiência dos processos, tanto o dos
alunos como o do professor. Ajuda a compreender o que se esperava ao
partilhar-se o resultado, ajuda a compreender a análise, reflectindo
para se concluir.
Não devemos esquecer que a educação (como dizia Dewey)
não é a preparação para a vida, é a própria vida, e para ser sempre
vida, devemos ser rigorosos e maleáveis ao mesmo tempo.
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