Escola Secundária José Estêvão, n.º 13, Set.- Dez. de 1994

W. VIANA

No espaço de informação que procuro dar aos meus amigos alunos que, em alguns casos, não me querem entender, porque estão mais empenhados nas tarefas práticas que os aguardam do que em estudar o meu discurso que consideram "retórica", há aspectos fundamentais que se inscrevem no conceito de "Cultura" – que é um direito – e deve ser objecto de apropriação dos jovens e... aliás... de todos os Homens.

Observei durante anos as reacções desses meus amigos, ouvi vezes sem conta comentários de pessoas ligadas a sectores sócio-profissionais diversificados, alguns com responsabilidades na formação e na saúde dos jovens – e, desiludida, cheguei a pensar escrever as memórias do que pensava ser a minha frustração.

Desisti porque... afinal, reflectindo mais profundamente, não me sinto frustrada!...

É que.,. as benditas actividades físicas às quais, durante longo tempo, se chamou "ginástica" e que, finalmente, foram reconhecidas "de facto e de direito" como disciplina fundamental –Educação Física – apenas padecem da mesma discriminação a que têm sido sujeitos outros aspectos da "Cultura" e do "Progresso" neste País – Artes Plásticas, Literatura, Teatro, Música, investigação...

ALIÁS... aqui procura diferenciar a Educação Física do desporto espectáculo de competição e desmistificar eventuais confusões que ainda possam subsistir em alguns casos.

A disciplina de Educação Física tem como objectivo prioritário proporcionar a cada pessoa elementos de ordem científica e técnica que permitam adequar condições particulares de saúde a formas de movimento organizado adaptado a cada situação específica.

Esta disciplina pretende alertar todos os alunos – crianças e jovens, alguns Pais menos atentos e eventualmente outras pessoas ligadas ao campo da saúde – para o facto incontroverso de que o "Movimento" é essencial para a "Vida" entendida em todas as suas vertentes...

Importa que cada cidadão, no âmbito das suas possibilidades (anatómicas, fisiológicas ou psíquicas) desenvolva a actividade possível, mais aconselhável e apropriada a cada situação, sem esquecer que não há duas pessoas iguais...

Aliás... é por isso que a principal Área de Intervenção da Educação Física se situa no domínio da "Aptidão Física" ... ou seja... cada um, de acordo com os seus condicionalismos de saúde ou de idade, pode e deve desenvolver a actividade física que lhe seja possível e aconselhável. A imobilidade conduz à morbilidade, à degeneração progressiva e acelerada / 15 / das capacidade físicas, do valor físico de base, da condição física ou, como dizem com frequência os "mass media", ainda que incorrectamente, da "Forma".

Acreditando na validade da opção académica por que me decidi – no tempo em que fazer exercício físico era conotado com "incapacidade" para desenvolver actividades intelectuais nobres – apenas desejaria lembrar que, em todos os tempos, as grandes descobertas científicas só foram determinantes para o progresso da civilização quando estiveram associadas à capacidade de agir e, desse modo, trouxeram vantagens ao Homem.

A Educação Física não procura fazer heróis, nem vencedores, nem atletas... nem sequer "mitificar" ou enaltecer os "bons" ou "os melhores" com prejuízo daqueles com quem a natureza foi menos pródiga.

Aliás... nesta disciplina curricular apenas se procura ajudar a criar condições para que cada indivíduo se conheça, se aperfeiçoe e possa participar, activamente, na sociedade que será desejável construir...

O que é preciso é que cada um se mantenha activo e não se deixe absorver pelos comodismos fáceis que a sociedade de consumo é fértil em oferecer...

Importa que cada jovem conheça e melhore as suas capacidades e não deixe que a inactividade as adultere precocemente.

Para se poder intervir e participar na rotina diária é necessário ter capacidade de ultrapassar toda a espécie de "agressões" que são impostas pelo meio exterior, aprender a conhecer reacções, estar apto, em situações diferenciadas, a responder adequadamente a cada uma das exigências que se impõe satisfazer.

Para isso é fundamental experimentar, em cada caso, o potencial de resposta perceptivo-cinética.

Aliás... esses são, resumidamente, os objectivos da Educação Física que, para tal, utiliza meios de intervenção diversificados.

Educação Física é afinal uma disciplina teórico-prática simples, fácil e útil!.

Tal como há mais de dois mil anos, aproxima-se dos ideais da Medicina com o objectivo de manter a saúde, prevenir anomalias, lutar por uma longevidade sadia, lúcida e interveniente...

Pugnando por que cada jovem aprenda a conhecer-se e se decida pela actividade que simultaneamente lhe possa ser útil e agradável, quando deixar de ser aluno. a Educação Física procura, desde a primeira infância, colaborar no processo Ensino-Aprendizagem que é indissociável do conceito de "Homem" como elemento interveniente da sociedade actual.

Felizmente poucas situações clínicas há em que o exercício físico seja totalmente desaconselhado, porque afinal, se as "peças" (ou seja as estruturas) que constituem o Ser Humano não desenvolverem as funções que lhe são destinadas, elas tendem progressivamente a degradar-se. É que... a função faz o órgão...

A Educação Física só precisa da "vida"... e de "oportunidade” para activar as estruturas que sustentam e desenvolvem a vida de relação de cada um dos indivíduos que nascem neste Universo, desejando torná-los mais disponíveis e esclarecidos.

Aliás... a Educação Física contribui para um processo de desenvolvimento que não acaba nas mesas da escola. Tem reflexos ao longo de toda a vida e... se não fosse mal entendido...  gostaria de deixar um "recado" ou melhor, uma mensagem...

Que nenhum cidadão ou sector sócio-profissional pactue com a "incultura" ou contribua para a perda das capacidades com que a Natureza dotou a espécie humana.
 

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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