Ocultação do Silêncio

 

Já não cai orvalho de luz
nas verdes folhas da murta,
há silvos e uivos nas fragas
onde os abutres nidificam
afugentando pegas e gralhas
para horizontes anuviados
onde em tarefas sem norte
alguém tenta resolver a incógnita
da equação de novo paradigma
mas o enredo de tal cálculo
provoca dores de esperança
ampliando a ansiedade brumosa
entre os aleijões do presente
e a verdade de uma incerteza
visível nos rios tristes e secos
e na desolação das campinas
da cor dos olhos do velhos
sentados em bancos no jardim
amarelecido, abandonado e nu,
resignados na dor do tempo finito
e, já distraídos de si e do mundo
escutam rumores do novo Restelo
em profético e oculto silêncio.
 

                          Setembro de 2022

 

 

18-09-2022