Memória de Abril

 

Avistavam-se nuvens escuras no céu
prenúncio claro de forte tempestade;
era imperioso cruzar agora, sem delongas
um novo e mais traiçoeiro Rubicão
num dia em Abril de sol sem sombras
para em nome da verdade e da justiça
libertar do encurralado caos orgânico
a constelação dos urgentes anseios
sequestrados na escuridão da madrugada
onde com astúcia se ia destilando a verrina,
corrosivo deletério da saúde das consciências
deslumbradas com a falsa luz de proféticos fins
mas carentes de luminosos e claros despertares
para vivências sãs e felizes, em modo de paz.


Só vontades firmes, coragem e destemor,
uma heroicidade a raiar a ingenuidade
face ao risco eminente das incertezas
dissimuladas na coutada que abrigava
imbróglios, mentiras, invejas, e traições,
seriam capazes de tal audácia e engenho.
E, não obstante, foram entrando sem pavor
pela negrura viscosa da inescapável noite;
então, de respiração aberta e coração fremente
já envolvidos na calorosa volúpia do Abraço
iam lendo, em lágrimas, o panegírico da vitória
gravado na verdade com o selo da esperança
inserto na magistral lauda da carta de alforria,
o novo porto de abrigo onde em segurança
vão ancorar a liberdade, a democracia, e o amor
numa avaliação categórica e consistente do risco
visando a prevenção, detecção, e contenção
do misterioso e intangível beijo da morte
que ronda, sarcástico, o labirinto do esquecimento.
 

Abril 2020

 

 

25-04-2020