A
realidade acelerada que vivemos
dificulta a concentração mental,
afasta a
urgente necessidade
da
meditação em consciência profunda,
e assim
vai impondo mais velocidade
à
passagem dos dias, sem nexo.
De
momento, tenho a barca encalhada
aguardando a subida da maré
e, neste
abençoado intervalo de espera
afasto-me
dos profetas da desgraça,
dos
amanuenses da ordem e do trivial
e
furto-me também ao uivo dos lobos
fatalistas, alarmistas e apocalípticos,
os mesmos
que também me aparecem
reflectidos no retrovisor do espelho negro
exibindo
imagens dum futuro que rejeito.
O que
mais quero agora é navegar,
retomar a
direcção que não perdi,
continuar
cruzando mares de esperança
para
ouvir o riso ingénuo das crianças
de
mistura com o trilar dos pássaros,
atravessar a solidão nocturna ouvindo
o coaxar
das rãs em calor tropical,
encantar-me no cricri dos grilos
em
desafio com a cegarrega das cigarras
de
mistura com toda a disponibilidade
para
rever os meus amigos de sempre
e com
eles abraçar as alegrias sentidas
como
bálsamo para reduzir a aceleração
impulsionada pelo horrendo caudal
de
opiniões e informações capciosas
que
entram nas cabeças, sem pudor,
porque
perniciosas, controversas, aviltantes
a
dificultarem, quiçá impedirem o desejo,
o direito
que temos de encalhar as nossas barcas
sem
constrangimentos nem receios
ou
ancorá-las nas águas mansas da enseada
onde
queremos viver em liberdade plena
para que
nela e com ela, possamos reflectir
sobre os
rumos mais seguros a seguir.
Fevereiro de 2021 |