Saí de uma sonâmbula letargia
Que me roubava a realidade
No Maio de 68 com Marcuse
E, embrenhado nos cardápios
De Marx, Engels e quejandos
Reli manifestos e proclamações
Até ver as cintilantes esperanças
No brilho dos cânones da consciência
Os raios de luz de todas as virtudes
No dealbar do promissor meio século
Coberto pela gloriosa liberdade,
Mas logo ameaçada sem rebuço
Entre traições, desacatos, contorções
Forçando a alterações de percurso
Provocando o desfazer de ilusões
E ameaçando a ordem democrática
Que, embuçada numa cínica harmonia
Tentou desviar a rota, alterar a
direção
Numa clara e perversa deriva social
Afogando-me num mar de nostalgia
E pondo-me a sonhar um longo sonho
Ou tão só a insistente crença a
cobrir
A ansiedade das noites de insónia
Que, na intermitência de uma euforia
Ainda mantém a dúvida em lume brando.
Abril de 2024 |