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Irei passar em branco
estes dias
Sonhando com manhãs luminosas
Bem longe do emproado gabarola
Que diz ver longe de olhos vendados
Enquanto de olhos bem abertos
E nada enxergando à sua volta
Vai impingindo com a desfaçatez
De quem se julga dono do mundo
A sinistra mentira da sua verdade
Forjada na bigorna da estultícia
Ornada de virtudes e santidades
Para ludibriar o ingénuo incauto,
O distraído da pureza da sua razão
Ou o ganancioso sempre à coca
Da cornucópia urdida na esperança,
Aquele espelho negro da incerteza
A reflectir esta realidade acelerada
Que vai dando sumiço ao tempo
E encurtando o nosso espaço vital
Já acossado pelo bombardeio lúdico
E por notícias, opiniões e sentimentos
Capazes de iludir a ordem meditativa
E dando lugar a uma miopia mental
Que atira as pessoas para a prostração
Agravada pela brutalidade animalesca
De um ditador em clausura de si mesmo
Mitómano, onzeneiro, insaciável glutão
Que, com o poder suspenso por um fio
Tenta açambarcar grossas fatias de bolo
A baralhar e distribuir jogo marcado
E ameaçando abrir a caixa de Pandora.
Agosto 2023
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