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O crepúsculo calou o
crocitar do corvo
E os canaviais são agora fantasmas
Dançando nas margens dos ribeiros;
E, após o estridente grito da coruja
Tudo mergulha em bucólico silêncio.
Na TV passam opiniões enfadonhas
Comentários bacocos, indigestos
Para lobos caídos na armadilha do fojo
Em aldeias ora sonolentas ora insones
Enquanto na cidade instável e buliçosa
A intermitência dos sinais nos semáforos
São os marcos da lonjura: trabalho-lazer
À vista dos sem abrigo, estrelas da liberdade
Brindados “et pour cause” com os afectos
De lacrimosos vampiros bem saciados.
Partilhando o mesmo incontornável trajecto
Todos acabarão como sobreiros abatidos
Alheados deste mundo a entrar no escuro
Da longa noite que se vai aproximando
Capaz de proteger os silvados verdejantes
Enquanto vai destruindo roseirais que floriam.
Abril de 2025 |