Uma folha de acácia voando
Pelos pinheirais e abetos
Em bebedeiras de verdura
Consigo me leva nessa corrida
Em fúria desabrida
Num acto de fingimento
Fazendo-me ser quem não sou
Ou tão só a inquietação aventureira
De um éter
Que ninguém ouve ou vê
Além de mim
Quando sinto nas entranhas
Aquele mar azul e manso
que, apenas por um só dia
Foi água doce
E agora se tornou agressivo
Invadindo mundos obscuros
Que só eu vejo
A circundar o jardim estiolado
Que, vivendo em mim
Me questiona sobre casos
Enquanto me faz também ouvir
Lamentos de rosas espinhosas
Que, vindas das profundezas
Desse mar ora sem marés
Se tornam pétalas descoloridas
Prontas a serem descartadas
Mas provocando um constante verter
De grossas lágrimas de esmeralda
Capazes de sagrar a folha da acácia
Dando-lhe asas para cruzar as trevas
Livrando a razão da demência dos dias
Até ser petrificada pelo tempo.
Julho de 2025 |