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O Canto Norte, 1ª ed., Pombal, Quilate, 2008, 52 págs.

TOMADA DE POMBAL

As aves acordaram sobre o cedo
Enchendo o pálido céu de gorjeios
Ainda as sombras eram fantasmas
Bailando nos alvores da madrugada
Envoltas no metálico som dos galos
Que lentamente enrouqueciam.


Os Templários, retemperados das forças
Perdidas nas contínuas refregas,
Eram mantidos agora, em alerta vermelho
Aguardando, silentes, os sinais do Grão-Mestre,
Entre cogitações de futuros desalmados,
Nimbados de receios, a prazo,
E as demoníacas ameaças do mouro.


Altivo, destemido, intrépido e ousado,
Gualdim em tom seguro e calmo
Chamando cada cavaleiro pelo nome
Ia dizendo em tom combativo:
"Hoje arribaremos, em glória,
Às benquistas terras de Pombal
E não cederemos um côvado
Nem vamos deixar que o inimigo perturbe
A serenidade e a paz das laboriosas gentes,
Humildes, fieis, indefesas e patriotas;
Quem o fizer, morrerá às nossas mãos."


Nas cristalinas águas do Arunca
A deslizarem mansas entre salgueirais,
As alimárias inquietas, dessedentavam
E os cavaleiros monges faziam ablações
Enquanto, batida pelo vento sul,
Chegava até ali a algazarra,
Frustre e ténue, como sussurro
Ou como névoa a dissipar,
O tropélico som da cavalaria sarracena.


Mestre Gualdim manda aprontar as montadas
Dá as últimas instruções tácticas, e
Partem, seguros, ao encontro do inimigo
Que vinha semeando misérias e medos
Dizimando as populações com as razias
Que não deixavam réstia de sustento.


É dura e fera a refrega.
Tilintam os ferros,
Relincham os cavalos,
Gritam os homens de raiva e dor,
Há palavras de encorajamento...


Nos avanços e recuos,
Vão correndo os dias, e
A vitória está à vista, mas
O Mestre continua a incitar,
A exigir, a pedir o impossível,
Enquanto vai louvando a coragem,
O ardor combativo e a Fé
Dos seus cavaleiros monges.


Quando a derrota sarracena
Se torna um facto sem remédio,
Gualdim Pais, do cimo da sua montada,
Já com o inimigo, em fuga,
Faz um largo gesto com o montante,
Ainda manchado pelo sangue, e
Olhando os despojos, espalhados a esmo
Pelo desfigurado campo de batalha,
Aponta-o para a sobranceira colina
Que, erguendo-se, a nascente
Domina todo o fértil vale,
E grita-lhes, firme e convicto:
"É ali, nobres cavaleiros
Que amanhã mesmo,
Iniciaremos a construção
Daquilo que há-de vir a ser
O mais seguro reduto,
Símbolo da nossa aliança
Com este abnegado povo
E o marco histórico da nossa luta:
O Castelo de Pombal,
Per omnia saecula saeculorum"...

 

 
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