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A perda do SANTA MAFALDA

Sábado, 22 de Janeiro de 1966. Pouco passava do meio-dia quando a notícia se propalou no escritório de Aveiro: o «Santa Mafalda» encalhara nas rochas de S. Julião da Barra, ao sair para a sua primeira viagem desse ano.

O semblante carregado do Senhor Egas Salgueiro, que tinha recebido a comunicação telefónica de Lisboa, não deixava dúvidas sobre a gravidade do que se tinha passado, exteriorizando a preocupação causada pela notícia.

Como sucede sempre perante o conhecimento impreciso dos graves acontecimentos, gerou-se uma angústia em todos que motivou uma série de suposições, de comentários, de esperanças...

Mas as notícias que foram chegando depois começaram a esclarecer melhor a situação. E infelizmente, nenhuma delas era animadora, a não ser a de que não tinha havido perdas pessoais.

O Sr. Capitão José Rocha, que desde 1956 até à segunda viagem de 1965 comandou o «Santa Mafalda» e nessa altura se encontrava em Aveiro, pois passaria para o novo «Santa Cristina», acusou profundamente a notícia. Tinham sido 10 anos da sua existência vividos na sua maior parte a bordo desse barco, que era quase como uma pessoa de família.

Imediatamente decidiu seguir nesse mesmo dia para Lisboa, a fim de procurar colaborar no salvamento do navio, tendo, aliás, sido nomeado
já em Lisboa, para fazer parte da comissão encarregada do salvamento.

/ 27 / Pela nossa função profissional, tivemos também de nos deslocar a Lisboa, para onde nos dirigimos na tarde do dia seguinte, 23 de Janeiro.

No dia 24, de manhã, houve reunião geral a bordo do «Santo André», nessa altura na doca da Lisnave, e lá tivemos a primeira oportunidade de contactar com o Sr. Capitão Asdrúbal Capote Teiga, que fazia a sua primeira viagem no «Santa Mafalda», vindo do «Santa Princesa».

Impressionou-nos extraordinariamente esse primeiro encontro. O Sr. Capitão Asdrúbal era um homem aniquilado. No seu rosto, nos seus gestos, no seu vestuário, adivinhavam-se todos os pormenores da tragédia que tinha vivido, ele e todos os que seguiam no «Santa Mafalda» sob o seu comando.

Mais tarde, quando fomos encontrando os outros oficiais e tripulantes, confirmámos essa impressão, constatámos idêntico aniquilamento.

Todo o dia de 2.ª-feíra foi empregado na redacção do protesto, contactos com entidades oficiais, etc.

Só na 3ª-feira, 25 de Janeiro, ao despontar do dia, seguimos para S. Julião da Barra com o Sr. Capitão Asdrúbal.

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