Arquivo Digital - Memórias de Aveiro - Galitos "Môlho de Escabeche"

Extraordinária a impressão de certeza, de harmonia, de graça maravilhosa, de frescura sem par que irradia desse pequeno palco cheio de mulheres lindas no mais assombroso friso de pureza e de beleza sãs que se possa imaginar! Tudo aquilo se adivinha puro, saudável, forte, pleno de brisa acre das salinas, limpo dos ares da barra, sedutor e incomparável! Declaramos que há muitos anos não assistimos a tão consoladora afirmação das possibilidades de ver renascer, entre nós, o verdadeiro teatro — o TEATRO DE AMADORES. É com prazer e com entusiasmo que registamos no "Século" esse nobilíssimo esforço.

LEITÃO DE BARROS

Pasma-se da largueza com que se visionou e realizou o espectáculo; pasma-se dos resultados excepcionais conseguidos, dando-se aos espectadores uma verdadeira companhia, apetrechada de indumentária e de cenários, tendo naipes de rapazes e de raparigas que cantam, bailam e representam. A música — muito boa sem favor — é animada, inspirada e cheia de intenção. A peça, sadia e fresca, é diferente das que Lisboa vê. "MÔLHO DE ESCABECHE" conserva o gosto original e sabe matar a sede. Enfim, o espectáculo dos GALITOS, é um espectáculo que merece um público de capital.

MATOS SEQUEIRA

Desde já sustento que "MÔLHO DE ESCABECHE" é, para meu gosto, muitíssimo superior, sob o ponto de vista artístico, a "AO CANTAR DO GALO", de gloriosa memória. "MÔLHO DE ESCABECHE" está bem vestida, possui alguns cenários de boa factura e rico sentido visual, é servida por uma encenação alegre, movimentada e inteligente, que chega a espantar, tal é o sentido dinâmico de que toda a obra está impregnada. O que mais seduziu a nossa atenção foi a graciosidade dos quadros regionais, cem por cento portugueses, onde os tipos estão admiravelmente marcados num pensamento etnográfico sem mácula, que encanta o espectador pela vista e pelo coração. Todos os quadros de fantasia estão plenos de cor, de movimento, de alegria sadia e clara, esmaltados pela graciosidade das tricaninhas airosas e dos moços entusiastas que completam o admirável conjunto. Toda a música da peça é um triunfo pleno para o jovem maestro, a quem, estou certo, o público de Lisboa fará justiça, como aos demais colaboradores do rico espectáculo.

ARTUR INÊS

O libreto, onde se não diz uma palavra mal sonante, um dito baixo, uma banalidade que fira a sensibilidade das pessoas bem educadas, tem ditos cheios de graça, hilariantes mesmo, constitui tudo um conjunto gracioso e finalmente estudado. O "Môlho de Escabeche" tem diante de si um êxito retumbante.

Não há dúvida nenhuma que o grupo cénico dos "GALITOS" pode constituir uma excelente companhia de revista, sempre que o queira e em qualquer cidade do nosso País.

JÚDlCE BICKER

"Môlho de Escabeche" constitui um espectáculo sadio, cheio de vida e colorido, repassado de arte, alegria e graciosidade. Tem o condão e a relevante virtude de agradar e fazer sorrir o espectador e de o dispor bem. Todos os quadros nos parecem igualmente lindos, ricos de intenção e harmonia. Festas e romarias tradicionais, usos característicos do povo da beira-ria, alegorias das inconfundíveis belezas da região, do seu labor, dos seus produtos, decorrem animadamente com naturalidade e encanto, prendem a atenção e deleitam. A música, que merece os mais rasgados louvores, adapta-se, com invulgar propriedade, ao objectivo dos quadros.

"Môlho de Escabeche" é, sem favor algum, uma peça de grande espectáculo em qualquer parte onde se apresente, pois na sua técnica há modalidades variadas, modernas, atraentes e encantadoras, em plena concordância com o gosto actual do público. É no seu dinamismo, na sua ostentação, na visão moderníssima do teatro de que está influenciada, que a Fantasia atinge um grau de superioridade incontestável, que prende e entusiasma o espectador.

O primeiro quadro é qualquer coisa de grandioso para ser exibido e apreciado num teatro do género de qualquer capital, rivalizando mesmo com o que se vê lá fora no Casino, "Folies Bergère", nas revistas de Montmartre e nos melhores Music-halls dos grandes centros. O 2.º acto abre com um lindíssimo quadro que ficaria bem até na célebre Companhia Velasco. Arrisco agora esta afirmação — não se apresenta melhor uma peça desse género, nos teatros de Lisboa e Porto.

"Môlho de Escabeche" está destinada a tornar mais conhecido e admirado o grupo de amadores do Clube dos Galitos. É uma revista rica de cores e motivos regionais, sem a piada que faz corar, mas cheia de graça sadia. Tem quadros que são um verdadeiro encanto, ornados de música maravilhosa, marcados a capricho e com arte.

Há, na frescura das nossas raparigas, na sua natural correcção e gentileza, uma verdadeiramente notável vocação para o teatro que, dificilmente, em conjunto, se encontra em qualquer outra parte, uma garantia de êxito para o seu trabalho que proporciona viva simpatia e agradável surpresa.