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Os
"Arcos" em 1911 |
A Rua dos Mercadores, da freguesia da Vera-Cruz, teve um papel muito
importante na vida de Aveiro, durante os séculos XVIII, XIX e a primeira
metade do século XX.
A actividade comercial predominava. Era ali que se movimentava grande
parte da população aveirense, quer para fazer as suas compras e dar os
seus recados quer para se reunir com os amigos.
A rua conserva acentuados traços arquitectónicos setecentistas e evoca
um dos nomes mais antigos de toda a toponímia de Aveiro. No entanto,
teve já diferentes designações: foi Rua dos Balcões e também Rua dos
Sombreireiros, pelo facto de ali existirem guarda-soleiros, tão
procurados por senhoras e senhores da época, que com um ar distinto,
próprio da cultura inglesa, usavam os seus graciosos guarda-sóis e
pomposos guarda-chuvas. Mais tarde seria, também, conhecida por Rua de
Serpa Pinto.
À entrada da Rua dos Mercadores deparamo-nos com "os Arcos", antigo
coração da cidade de Aveiro, ponto de encontro de toda a população
durante o século XIX e ainda no nosso tempo.
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Centro da cidade na década de 1950. Na parte de baixo do Hotel
Arcada, do lado esquerdo, ficava o famoso "Café Arcada". Imagem de um postal ilustrado
da época. |
Na parte de baixo do Hotel Arcada, ficava o famoso "Café Arcada",
pertença do Sr. Aristides. Foi frequentado pelas gerações da primeira
metade do século XX e constituiu um grande centro de convívio, durante o
dia e a noite, quer no Verão, quer no Inverno. Nas últimas décadas, este
edifício foi profundamente remodelado, tal como se mantém.
Os "Arcos" eram constituídos por mais duas arcadas, que foram cortadas
com o objectivo de alargar a rua. Numa das arcadas estava o "chafariz
dos Arcos", entretanto removido para o outro lado do canal, junto da
Caixa Geral de Depósitos.
Tal como a Rua dos Mercadores, os "Arcos" tinham como principal
atractivo o comércio. Em meados deste século poder-se-iam encontrar,
entre outros estabelecimentos comerciais, a livraria de Bernardo Torres,
o "Café Cisne" do Sr. Abreu, os estabelecimentos do Sr. Ricardo Pereira
Campos, a "Padaria Macedo" e o "Café Barroca".
Naquela época os jornais ainda não tinham como local de venda o "Duarte
dos jornais", agora situado na Rua dos Mercadores. Estavam expostos nos
"Arcos", em cima de uma cadeira de ferro e eram vendidos pela "Tia
Micas".
Assim eram os "Arcos" daquele tempo!
Na Rua dos Mercadores, interessa referir a placa evocativa do grande
tribuno aveirense José Estêvão, que identifica o local da casa onde
nasceu. Esta moradia com duas frentes (uma virada para a Rua dos
Mercadores, outra com acesso para uma rua paralela, a actual, Rua de
José Estêvão) é uma obra do arquitecto aveirense Jaime Inácio dos
Santos, da segunda década do nosso século.
A casa encontra-se sujeita a obras de recuperação, o que dificulta a sua
localização por parte de algumas pessoas menos informadas.
Ainda na rua dos Mercadores, e no seu lado direito, havia a chapelaria
do Sr. Augusto Carvalho dos Reis, que vendia boinas, bonés, chapéus e
guarda-chuvas, bem como uma loja de fazendas, pertencente ao Sr. Acácio
Laranjeira onde, mais tarde, se instalou uma barbearia. Na actual
Pastelaria Santa Joana funcionou a oficina do sapateiro Casaca, a quem
as pessoas recorriam para arranjar o seu calçado.
A Farmácia Central, a única casa que manteve a mesma actividade
comercial, pertencia ao Sr. Francisco Góis.
Do lado esquerdo da rua havia a loja de fazendas do Sr. Guimarães, bem
como a modesta casa onde duas senhoras idosas vendiam azeite. A fazer
esquina com a Praça 14 de Julho, antigo Largo das Cinco Ruas, ficava o
depósito de azeite do Sr. Meireles.
Hoje...
alguns problemas.
Os tempos mudaram! As casas envelheceram, tal como as pessoas que nelas
habitavam. O comércio diversificou-se. A multidão que ali se juntava
para comprar ou apenas desabafar as agruras do dia-a-dia procura agora
locais de comércio novos locais de convívio, como é o caso da Avenida do
Dr. Lourenço Peixinho.
Comerciantes e transeuntes sentem alguns problemas, que aspiram ver
atenuados ou mesmo resolvidos.
Um dos aspectos que mais contribui para o afastamento de potenciais
compradores é, sem dúvida, o dos acessos difíceis que as cheias provocam
todos os anos, para além dos elevados estragos causados na maioria dos
estabelecimentos comerciais. Apesar de as pessoas que habitam ou
trabalham neste local conviverem há anos com esta desagradável situação,
esperam vê-la resolvida a curto prazo. A previsão atempada das cheias
por parte das autoridades oficiais, nomeadamente pela Protecção Civil, é
uma das sugestões feitas.
Outros problemas há que gostavam de ver minorados, tais como: a
deficiente iluminação da rua (lâmpadas dos candeeiros frequentemente
fundidas) e o pouco policiamento.
Actualmente a Rua dos Mercadores tem acesso condicionado e um aspecto
pouco atractivo, devido às obras de recuperação da antiga "casa de José
Estêvão".
Ninguém
põe em causa que esta situação prejudica os comerciantes, mas decerto
irão mais tarde colher benefícios. Não podemos esquecer que a maior
riqueza de uma cidade consiste na preservação do seu património
histórico, arquitectónico e cultural. |