AVENIDAS, RUAS, PRAÇAS E LOCAIS DE AVEIRO

Rua de Eça de Queirós

e Largo Luís de Camões

Quinta-feira, 5 de Novembro de 1998 – pág. 15 Marta Duarte

O local de nascimento de José Maria Eça de Queirós é, ainda, para alguns, uma questão em aberto. Certo é que nasceu a 25 de Novembro de 1845, tornando-se um consagrado escritor português, mundialmente conhecido. Foi, também, advogado, jornalista e diplomata. Aveiro prestigia uma figura ímpar da nossa literatura, dando-lhe honras na toponímia local.

 

A Rua de Eça de Queirós, da freguesia da Glória, foi uma das mais movimentadas de Aveiro, durante séculos, porque, ligada à medieva Rua Direita, constituía o principal e mais directo acesso ao centro da cidade.

 Conhecida, em tempos, por Rua do Espírito Santo, tem, como tantas outras ruas, uma história que a caracteriza.

Em meados do século XVI, S. Miguel era a única paróquia existente em Aveiro. Anos mais tarde, em 1572, com o aumento demográfico, repartiu-se em quatro freguesias: a da Vera-Cruz, a da Nossa Senhora da Apresentação, a de S. Miguel e, também, a do Espírito Santo.

A igreja, matriz desta última freguesia – a do Espírito Santo − deu o nome à rua e ao largo onde, durante séculos, esteve implantada. Desde 1835, época da redução das quatro freguesias a duas (Vera-Cruz e Glória), o templo foi considerado inútil e votado ao abandono pelas autoridades e corporações administrativas. Totalmente demolido, em 1858, parte dos materiais foram aplicados na construção da torre sineira da actual Sé. Desapareceu mais uma igreja, mais um monumento, mais uma identidade histórica!

As razões que levaram, e ainda levam à destruição de templos e edifícios civis, nem sempre têm a ver com a sua antiguidade. São, na maior parte das vezes, razões de natureza política e económica, ou mesmo incúria e ignorância.

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Situado estrategicamente a meio do Largo de Luís de Camões (antigo Largo do Espírito Santo), surge um importante e vetusto chafariz − o "Chafariz do Espírito Santo" − também conhecido por "Fonte das Cinco Bicas". A construção teve início em 1870, devido à necessidade urgente de abastecer de água os moradores da zona. Antes de concluída a obra (demorou mais de dez anos), a população recorria ao antigo "Chafariz dos Arcos", por ser aquele que ficava mais próximo.

Enquadrando-se nas construções "arte nova", a "Fonte das Cinco Bicas" terá sido a primeira manifestação pública dentro dos novos parâmetros artísticos, em Aveiro. No centro ergue-se uma alta coluna, rematada por uma águia virada para norte.

Mas… Voltemos à nossa incursão pela Rua de Eça de Queirós.

À entrada, do lado direito, fica a casa "Testa e Amadores". Foi em tempos um grande armazém de mercearias, também representante da Shell, do Banco Espírito Santo e, ainda, do Banco Borges & Irmão. Onde hoje se encontra a “Padaria da Sé", ficava a "Sapataria Leitão", revestida por maravilhosos painéis de azulejo de fabrico aveirense. Logo a seguir, podemos apreciar uma vivenda do princípio do século XX. Belo exemplar com características de "arte nova"! Foi recentemente recuperada, para servir de instalações ao Tribunal de Família e Menores, ali a funcionar desde o dia 15 de Setembro.

Frente à moradia ficava a taberna do Sr. Firmino Silva, mais conhecido por "Violas". Em direcção ao largo, poder-se-ia encontrar, ainda, outro tipo de estabelecimentos comerciais: a oficina de reparação de bicicletas do Sr. Joaquim; a mercearia da Sr.ª Maria Ovídio; o restaurante do Sr. Adriano Pires; a “Barbearia Pinheiro"; uma padaria; um talho; o "Laurentino Chapeleiro"; a casa de fotografia do Sr. João Ramos; e a alfaiataria do Sr. Albano Pereira.

No Largo do Espírito Santo, havia a casa "Marabuto", que vendia lanifícios e roupa por medida. Naquele tempo, não havia pronto-a-vestir!

Ainda se podia deliciar a boca e a vista, com a vistosa fruta e hortaliça, vendidas no pomar da Sra. Henriqueta.

Mas, o comércio foi alterado, tornando a rua menos característica, mais urbana.

 

Hoje... alguns problemas

A Rua de Eça de Queirós é uma das de maior afluência de circulação rodoviária. Moradores e comerciantes defendem o arranjo urgente da via. O piso de paralelo é bastante irregular, tornando-se perigoso. Muitos acidentes ali ocorridos teriam sido evitados, se a resolução do problema, com vários anos, não fosse consecutivamente adiado pela autarquia.

Quando chove muito, a água acumula-se nas bermas e os carros que passam com mais velocidade ensopam pessoas e montras. A zona fica alagada, inundando vários estabelecimentos e casas.

Agudizam-se diariamente os problemas inerentes à falta de estacionamento.

A fonte − principal elemento caracterizante desta zona da cidade − nem sempre se encontra em funcionamento. Lamentável!

Como rua antiga que é, deve merecer especial atenção e carinho, quer por parte do município, quer por parte da própria população aveirense.

 

Sabia que…

Há cerca de 70 anos, apenas havia três automóveis em Aveiro. Mercadorias e pessoas eram transportadas por carros puxados a cavalos.

Na Rua do Espírito Santo, passava muito do trânsito que se dirigia para o centro da cidade ou para a Estação de Caminhos de Ferro. Era o caso do carro da “Fábrica da Vista Alegre”, que fazia frequentemente o percurso, transportando pipas cheias de louça destinadas à exportação. O director da fábrica desfilava muitas vezes pela rua, no seu imponente «Rolls-Royce” com a estridente buzina. Os comerciantes diziam, em tom de brincadeira, que quando a gaita abria as goelas até as casas tremiam.

 

 

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