FIGURAS EM AVEIRO LIGADAS AO DESPORTO

Carlos Sarrazola − o homem

Quinta-feira, 22 de Outubro de 1998 – pág. 19 Rui Grave

Ele é um típico aveirense que, entre os passeios à beira-ria e a leitura, encontra ainda tempo para umas conversas com os amigos.

O passar do tempo não pareceu afectá-lo e, aos 58 anos, encontra ainda fortes razões para permanecer um homem simpático, espirituoso e brincalhão. Nunca jogou nada, além de futebol, nem cartas; mas é um eterno apaixonado pela vida e por tudo de bom que ela lhe possa oferecer. Sim, porque nem só de futebol vive o Homem.

Carlos Alberto Pereira Sarrazola nasceu no bairro da beira-mar, em Aveiro, a 14 de Abril de 1930.

 

A escola da rua

Foi na rua, com os vizinhos, que se iniciou na arte do futebol. Os «Pequenos Azuis» − como eles próprios se intitularam, devido à cor das camisolas − foram a sua primeira e única escola desportiva e chegaram mesmo a realizar jogos contra a miudagem de outros bairros da cidade ou dos arredores.

Aos 17 anos, começou a treinar com os juniores do Beira Mar, onde acabaria por jogar durante dois anos sob a orientação do seu primeiro treinador, o inesquecível Viriato.

Desses tempos, recorda ainda nomes de colegas e amigos como: Rogério, Fernando Valente, Caçola ou Charneira, entre muitos.

Com 19 anos, jogava já nos seniores da equipa aveirense, mantendo-se aí durante duas épocas, ao fim das quais resolveu abandonar a cidade natal e tentar a sorte noutras paragens.

Amigo de dinheiro, como ele mesmo reconhece, ao longo da sua carreira passou por cinco clubes, a citar: Beira Mar, Montemor-o-Novo, Caldas Sport Clube, Leões de Santarém e Sporting Clube da Covilhã.

Acabaria por dizer adeus ao futebol no seu clube de origem, ainda a tempo de festejar um primeiro lugar na II Divisão (época de 1960/61) e a consequente subida do Beira Mar à I Divisão Nacional.

Em 1962, afasta-se definitivamente dos relvados. Desde então, manteve-se ligado ao Beira Mar; primeiro como empregado de secretaria, depois como secretário permanente, chegando a fazer parte do núcleo dirigente durante a época de 1980/81.

O «senhor» do Beira Mar com 25 anos.

Actualmente, reformado, não deixa de interessar-se pelo "clube do coração", mas prefere afastar-se de polémicas. É que, nas suas palavras: "este ano poderá vir a ser difícil para o Beira Mar. António Sousa, meu amigo, arrisca-se a ter que suportar a incompreensão dos sócios, principalmente se a sorte também não ajudar."


Ora, bolas! 

Carlos Sarrazola conta:

Esta é para o Ronaldo

"Em 1962, quando abandonei o futebol como jogador, já ganhava 1.800$00 por mês."

 

Não há rosa sem espinho

"No início da carreira, quando íamos jogar a Espinho, era um sacrificado. Havia lá um jogador que não me largava, jogava duro e dava-me bastante pancada. Depois, descobri que tudo se devia a uma confusão de nome entre mim e o meu irmão mais velho, também jogador de futebol. Era com ele que tinha começado esta «guerrazinha» e eu, por ser Sarrazola, acabei por pagar pelo que não fIz."

 

O preço da fama

"Houve uma altura em que, nas crónicas do «Record», na rubrica «o melhor em campo» era sempre eu quem aparecia. Os meus companheiros de equipa até já me chamavam «o Melhor». Eu não tinha culpa de o jornalista ser um grande amigo."

Equipa de juniores em 1948/49

Bons tempos, bons tempos

"Não me esqueço dos almoços saudáveis da equipa quando íamos jogar longe. O clube tratava de encomendar uma «tachada», normalmente de arroz com frango e parávamos no pinhal e fazíamos um «pic-nic».

E, até havia quem levasse vinho!"

 

O Jogador: Sarrazola

Posição: médio interior

Características: jogo de bola ao primeiro toque,

remate forte e colocado

Especialidade: passes longos

 

 

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