FIGURAS EM AVEIRO LIGADAS AO DESPORTO

Violas

Quinta-feira, 15 de Outubro de 1998 – pág. 19 Rui Grave

O número 13 da rua Afonso de Albuquerque, na Gafanha da Nazaré, é uma casa comercial ligada ao ramo da electricidade. Na porta pode ler-se o nome do proprietário: João Martins. Curioso é o que aparece entre parênteses, logo a seguir ao nome: Violas. A alcunha, adquirida por confusão com o apelido dos irmãos (Viola), é sem dúvida a imagem de marca da Casa Violas, nome pelo qual é conhecido o antigo guarda-redes do Beira Mar. Com 63 anos cheios de fulgor e de vida, João Martins não esconde que o clube beira-marense lhe foi de extrema utilidade, quando pensou em estabelecer-se por conta própria. Hoje, o seu tempo é dividido entre o gosto pela pesca, a paixão da caça e o convívio com os amigos. Fez questão de citar a neta, a Rossana, digna herdeira das suas qualidades desportivas que, apesar dos seus parcos 12 anos, já demonstra uma queda para o futebol.

Nasceu a 1 de Fevereiro de 1935 no Monte de Murtosa, mas cedo veio habitar para a Gafanha da Nazaré, local de trabalho dos seus pais e irmãos, nos estaleiros navais, onde ele próprio laborou até aos 14 anos.

Com essa idade vai para Estarreja, para um estabelecimento comercial, onde começou a aprender um pouco de montagem de circuitos eléctricos.

Foi aos 16 anos que travou contacto com o Beira Mar, começando por integrar as camadas juniores. Dotado de qualidades incomuns, chegou a fazer alguns jogos particulares pelos seniores, enquanto ainda júnior, nomeadamente na célebre "Taça Amizade".

Violas: Campeão da II Divisão em 1960/61

Oficializado como  sénior, passa a titular da equipa principal do Beira Mar, onde permanece até à época de 1962/63, altura em que por motivos de saúde se vê obrigado a uma paragem de dois anos.

Foram anos decisivos para João Martins; anos de reflexão e de mudança, que o levam a tomar a resolução de abandonar o Beira Mar e de estabelecer-se como empresário.

Nunca se considerou um profissional do desporto, pois a sua vida privada deixava-lhe pouco tempo livre para se dedicar por inteiro à alta competição. No entanto, não pretendendo desligar-se completamente do meio desportivo, Violas reaparece no Valonguense de Arrancada do Vouga (I Divisão Distrital), para onde diz ter ido "brincar".

Na época de 1965/66, Anselmo Pisa, ex-treinador do Beira Mar e conhecedor das características do atleta que já havia sido seu pupilo, arrasta-o consigo para o Águeda, quando assume o comando técnico da equipa.

Depois disso, Violas fez quatro épocas pelo Ala Arriba e mais uma vez se sagra campeão distrital, quando o clube de Mira subiu à III Divisão Nacional em 1968/69.

A sua carreira mostra um rasto de vitórias que marcaram uma década de glória no Beira Mar: subida à II Divisão Nacional (1958/59), vitória na mesma divisão e subida à I Divisão, dois anos após, sendo ainda hoje o guarda-redes menos batido da II Divisão apenas oito golos sofridos na célebre época de 1960/61.

 

As árvores morrem de pé

Vaidoso por natureza, gostava de ser aplaudido e de "fazer coisas bonitas", mas o seu amadorismo nunca foi sinónimo de falta de empenho ou de desleixo e confessa ter chegado a chorar, ao sofrer golos por culpa própria.

O seu último "campeonato" que jogou com mais de 45 anos foi disputado entre amigos e colegas de profissão. «As árvores morrem de pé» nome dado a este torneio reuniu as velhas guardas que ainda tinham pernas para uma "peladinha", como era o caso de Azevedo, Brandão, Garcia, Aguinaldo, Lemos ou Evaristo.

Um olhar sobre o passado


Ora, bolas!

Violas conta:
 

QUANDO O GUARDA-REDES NÃO JOGA À DEFESA...

"Fui o primeiro jogador dos juniores do Beira Mar que era casado.

Quando fomos campeões, durante a entrega da Taça, recebi das mãos do treinador, Mendaña, um fatinho completo para bebé, oferecido por toda a equipa de juniores.

É que, quando casei, o garoto já vinha adiantado cinco meses"

 

FUTEBOL, A QUANTO OBRIGAS!

"Quando jogava na II Divisão nacional pelo Beira Mar, ia da Gafanha da Nazaré para Aveiro de bicicleta, mesmo debaixo de chuva.

Certo dia, depois de um jogo em Chaves, chegámos a Aveiro perto das 4h da madrugada e deparei com um furo na roda da minha bicicleta, estacionada à porta do estádio.

Nenhum dos dirigentes se dignou dar-me uma boleia de carro e eu tive que ir a pé para a Gafanha.

Era um bom treino mas, pelo menos, podiam ter-me pago estas horas extraordinárias de «endurance».

 

CUIDADO, VIOLAS. CHEGOU O MARTINS

"A minha maior exibição foi num jogo  contra o F. C. do Porto, no qual, curiosamente, alinhei com o meu verdadeiro nome: Martins.

O jogo foi nas Antas e quando cheguei a Aveiro já havia comentários de alguns ouvintes da rádio (os jogos ainda não eram transmitidos pela TV) que, impressionados pelo discurso dos comentadores, me chegaram a dizer: «Então, Violas; parece que finalmente o Beira Mar arranjou um guarda-redes capaz de te fazer frente».

Ainda ganhei umas apostas às custas disso."

 

CAÇA AO FOTÓGRAFO

Só «perdi as estribeiras» num jogo contra o Académico do Porto, no Estádio do Lima.

Durante um ataque do adversário, o jogador do Académico chocou contra mim, caímos os dois sem haver falta e a bola ficou a pairar perto da entrada da área.

Na confusão ficámos desorientados, cada qual à procura da bola, quando um fotógrafo, perto da linha lateral, resolveu indicar a posição do esférico ao avançado.

Acabei por sofrer um golo por culpa desse «paparazzi» e fiquei fora de mim. Corri atrás do indivíduo, pelas bancadas acima, e ai dele se o apanhava!»

 

O Jogador: Violas

Posição: Guarda-redes

Características: esquerdino, bons reflexos e grande flexibilidade

Especialidade: Defesa de penalties

Festa de homenagem

 

 

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