Mensário do 7º D

  Sal de Aveiro  ▲

Março 93

Nº 2


FAINA DO SAL

Durante a visita de estudo, aprendeu-se a observar uma salina: o modo de a construir, a organização do espaço, as várias fases da faina, os processos de produção do sal, o seu transporte para as eiras, a forma antiga e actual de proteger do tempo o monte de cristais e a posterior armazenagem.

Estas informações foram fornecidas pelo marnoto Regala que, com muita clareza e paciência, explicou tudo, fazendo desenhos ou chamando a atenção para os próprios locais.
Os Antigos é que construíram as salinas num sapal, em declive, com uma parte alta, outra baixa.

Tiravam as medidas pelas marés – o nível de entrada da água da maré morta definia o fundo; a maré alta dava a altura do viveiro, local de armazenamento da água, renovada de quinze em quinze dias.

Uma salina é composta pelo viveiro, seguido pelo mudamento, que é um conjunto de compartimentos de evaporação, assim designados – algibés, cabeceiras, sobrecabeceiras e talhos.

De Abril a Maio, escoam-se as salinas para efectuar as limpezas de algas e lamas surgidas no Inverno. Em princípios de Junho até meados de Julho, são as curas da salina sob a acção do vento e do sol; o solo fica rijíssimo, o que dá possibilidades à concentração de água salina.

Segue-se a produção propriamente dita – depois dos fundos compactados com areia e da salinidade devida nos compartimentos, põem a salina a fazer sal, isto é, dá-se a actividade tradicional da botadela, começam as primeiras reduras, os moços passam a rer o sal, ou seja, puxam os cristais formados com a rasoila, para os caminhos, a fim de os "acartar" para as eiras.

Até meio de Setembro, prossegue diariamente, desde que as condições atmosféricas o permitam.

Com a aproximação das chuvas novas do Outono, põe-se fim à safra do sal.

Procede-se, então, à cobertura do sal para o "agasalhar": até 1970, com bajunça, colocada em forma de telhado, a de cima segurando a de baixo e, depois de todo o monte fechado, tapava-se com a lama ou lodo dos canais; actualmente, substitui-se por plásticos, processo limpo e resistente.

Clicar para ampliar.Mais tarde, o sal será carregado para armazéns de madeira, em mercantéis ou saleiros e retirado do barco por dois processos: o manual, em canastras, ou por mecanização, em sacos, com a ajuda do sem-fim.

Ficou demonstrado que, apesar das salinas já serem de tempo muito anterior ao da nacionalidade, cada vez existem menos activadas. Este facto ainda não se verificava em 1970, pois, nas Agras do Norte, podia constatar-se que "estava tudo branco com sal".

No entanto, devido ao progresso, à falta de pessoas interessadas pelo assunto, os marnotos vão desaparecendo e com eles a paisagem de ouro branco.

Será de abandonar o fabrico dum sal tão rico?

O sal de Aveiro, ao contrário do sal-gema – que é apenas constituído por cloreto de sódio e, portanto, só utilizado para aços e produtos de limpeza – , é formado não só por NaCl, mas por uma percentagem grande de sais de magnésio e iodo, bom para consumo culinário e saúde do organismo.

Conclui-se, pois, que produzir este sal é benéfico.

 

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14-12-2013