Durante a visita de estudo, aprendeu-se a observar uma salina: o modo de
a construir, a organização do espaço, as várias fases da faina, os
processos de produção do sal, o seu transporte para as eiras, a forma
antiga e actual de proteger do tempo o monte de cristais e a posterior
armazenagem.
Estas informações foram fornecidas pelo marnoto Regala que, com muita
clareza e paciência, explicou tudo, fazendo desenhos ou chamando a
atenção para os próprios locais.
Os Antigos é que construíram as salinas num sapal, em declive, com uma
parte alta, outra baixa.
Tiravam as medidas pelas marés – o nível de entrada da água da maré
morta definia o fundo; a maré alta dava a altura do viveiro, local de
armazenamento da água, renovada de quinze em quinze dias.
Uma salina é composta pelo viveiro, seguido pelo mudamento, que é um
conjunto de compartimentos de evaporação, assim designados – algibés,
cabeceiras, sobrecabeceiras e talhos.
De Abril a Maio, escoam-se as salinas para efectuar as limpezas de algas
e lamas surgidas no Inverno. Em princípios de Junho até meados de Julho,
são as curas da salina sob a acção do vento e do sol; o solo fica
rijíssimo, o que dá possibilidades à concentração de água salina.
Segue-se a produção propriamente dita – depois dos fundos compactados
com areia e da salinidade devida nos compartimentos, põem a salina a
fazer sal, isto é, dá-se a actividade tradicional da botadela, começam
as primeiras reduras, os moços passam a rer o sal, ou seja, puxam os
cristais formados com a rasoila, para os caminhos, a fim de os "acartar"
para as eiras.
Até meio de Setembro, prossegue diariamente, desde que as condições
atmosféricas o permitam.
Com a aproximação das chuvas novas do Outono, põe-se fim à safra do sal.
Procede-se, então, à cobertura do sal para o "agasalhar": até 1970, com
bajunça, colocada em forma de telhado, a de cima segurando a de baixo e,
depois de todo o monte fechado, tapava-se com a lama ou lodo dos canais;
actualmente, substitui-se por plásticos, processo limpo e resistente.
Mais tarde, o sal será carregado para armazéns de madeira, em mercantéis
ou saleiros e retirado do barco por dois processos: o manual, em
canastras, ou por mecanização, em sacos, com a ajuda do sem-fim.
Ficou demonstrado que, apesar das salinas já serem de tempo muito
anterior ao da nacionalidade, cada vez existem menos activadas. Este
facto ainda não se verificava em 1970, pois, nas Agras do Norte, podia
constatar-se que "estava tudo branco com sal".
No entanto, devido ao progresso, à falta de pessoas interessadas pelo
assunto, os marnotos vão desaparecendo e com eles a paisagem de ouro
branco.
Será de abandonar o fabrico dum sal tão rico?
O sal de Aveiro, ao contrário do sal-gema – que é apenas constituído por
cloreto de sódio e, portanto, só utilizado para aços e produtos de
limpeza – , é formado não só por NaCl, mas por uma percentagem grande de
sais de magnésio e iodo, bom para consumo culinário e saúde do
organismo.
Conclui-se, pois, que produzir este sal é benéfico. |