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farol n.º 32 - mil novecentos e sessenta e nove ♦ setenta, págs. 10 e 11.

Intervalo Poético

PALAVRAS

Ana Maria Barata Salgueiro Dionísio
 

As palavras que tinha p'ra dizer-te
Eram maiores
Tinham um som mais alto;
Eram palavras que falavam d'esperança
Que fugiam do meu castelo roqueiro
E se escapavam entre as ameias
Das muralhas do meu sonho prisioneiro.


Eram palavras que tinham sido só minhas
E que eu queria partilhar contigo.
Eram tesouros que queria abrir ante os teus olhos
Silenciosamente... sem um ruído...
              E tu caminhavas a meu lado
Mas havia também areias, nuvens, pó
Que não eram dignos de ouvir os meus segredos
              E caminhámos, os dois...
Eu não ousava falar-te, pois não queria
Que as minhas palavras se confundissem
Com o ruído que o mundo faz
Elas, que eram os recortes da minha ambição doirada.
              ...Caminhamos lado a lado, estrada fora...
Tinha tanto para te dizer...
E não consigo mais que olhar-te
E... ficar calada...!

QUADRAS

Orlando Santos Almeida

Amor é sonho que mata
Diz um ditado traidor
Se é sonho, o sonho não mata;
Se mata... não é amor.


Amor não mata, dá vida,
Morrer de amor é viver
Nossa alma na alma querida
Que nos sabe compreender.


Amor – um sonho que mata?
Mentira! Não pode ser!
Deixem falar o ditado!
Amar... amar é viver!

SORRIR

Nilton Pinheiro

Sorrir!... Como é bom!...
É a alegria de amar a vida
Com lábios bonitos, que escondem dentes alvos,
E o prazer de beijar a Natureza!...
Sorrir é saudade ao pôr-do-sol,
É desejar a noite e a lua
E adorar as estrelas!...
Sorrir é ver em cada semelhante um irmão
E em cada pedra uma amiga!...
É agradecer o canto aos passarinhos,
Cumprimentar o cão sujo cujos olhos tristes sorriem também...
Sorrir é gostar também de rosas negras,
Saborear sorvetes,
Acordar cada manhã!...
Como é bom sorrir às árvores, às nuvens, ao céu tão azul!...
Que maravilha é sorrir...
A minha Mãe,
Ao Criador!

À noite, quando o sol se põe

Pompeu

À noite, quando o sol
Se põe e já não sorri,
Eu penso. E sonho.
E lembro-me de ti.
E, à noite, na areia deserta,
Quando o sol se põe,
Eu ouço um lamento,
Trazido pelo vento, que me fala de ti.
Agora, sem ti, à noite,
Quando o sol se põe,
Eu choro, eu grito
Eu corro a praia, chamando por ti.
Chamando por ti, ó céus.
À noite, eu canto e choro,
Lembrando o tempo
Que junto de ti vivi.

 

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11-06-2018