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farol n.º 29 - mil novecentos e sessenta e oito ♦ sessenta e nove, págs. 17 e 18.

AUTOMOBILISMO

e

SUPERSTIÇÃO

NÃO é raro um condutor ser advertido, pela sua consciência, de que o seu fim será em determinada prova. A ideia de que a próxima corrida será a da morte foi fatal para muitos. Que estará por detrás de acontecimentos tão estranhos? Bruxaria? Não! É uma resposta demasiado fácil e infantil para explicar tão intrincado problema.

Supõe-te condutor de um «Fórmula I» e imagina-te no decurso de um «Grande Prémio». Um dos teus colegas de equipa segue à tua frente. De repente, salta-lhe uma roda e o «bólide» capota. Lembrar-te-ias, então, que corrias num veiculo precisamente igual ao do teu colega e que poderias vir a ser vítima do mesmo erro cometido pelo homem que desenhara aquele modelo, ou do que o tinha montado. Necessitarias de uma coragem enorme para prosseguires a prova e terias de afastar esse pensamento funesto, ou não conseguirias ter a confiança necessária a todos os pilotos. E sem auto-confiança nenhum condutor se deve sentar ao votante. Se ele cogitar demasiado na morte, ela acabará por vir ao seu encontro.

O comendador Enzo Ferrari afirmou que a maioria dos acidentes são ocasionados mais pelo estado de espírito do protagonista, do que por qualquer deficiência técnica ou mecânica das viaturas.

Os pilotos são muito supersticiosos!

António Ascari teve um acidente quatro dias antes da corrida onde pereceu vitima de um outro desastre. O filho, Alberto Ascari, recusou competir em todos os dias 26, já que o pai tinha morrido num dia 26 de Maio de 1925, salvo erro. Foi convidado pela Ferrari para experimentar um novo modelo, exactamente em Maio de I955 e no dia 26. Tinha então 36 anos, a mesma idade com que o pai morrera. Mais ainda, tinha tido um acidente 4 dias antes, do qual saiu incólume. Mas além destas coincidências todas, Alberto, ao chegar a Monza, verificou que se havia esquecido da sua blusa azul e do capacete de protecção, acessórios que considerava portadores de boa sorte. E foi muito contrariado que pediu emprestado o capacete de Castellotti e saiu para o ensaio. Morreu! Causas? − Não se sabe!

Lembras-te de Donald Campbell, detentor de vários recordes de velocidade sobre a água? / 18 /

Com ele sucedeu um caso que tem tanto de curioso como de trágico!

Estava-se na véspera do dia em que se iria efectuar mais uma tentativa de recorde e Campbell fazia paciências com cartas. Ao voltar uma delas deparou-se-lhe o ás de espadas (símbolo da morte) e ele estremeceu. A carta seguinte foi a dama do mesmo naipe. Segundo a história, foi este par que saiu à Rainha Maria Stuart e que ela interpretou como sendo o aproximar da morte. Esta coincidência acentuou desmesuradamente a sua tensão mental e no dia seguinte morreu no lago Caunistou.

No meio automobilístico também há qualquer coisa acerca dos gatos: se durante uma competição um destes animais, de cor preta, atravessar a pista à frente do carro, da direita para a esquerda, deve-se esperar uma partida desagradável do destino; porém, se ao contrário, o gato preto a atravessar da esquerda para a direita os augúrios devem ser benéficos. Que culpa ou, melhor, que influência terão uns bichinhos tão simpáticos na ocorrência de um desastre de automóvel?

Tudo isto se deve resumir a uma questão de crenças. É absolutamente necessário que tenhamos confiança em nós próprios. Se surgir alguma coisa que abale a nossa auto-confiança, devemos abandonar o campo em que lutamos, pois o contrário poderá resultar trágico.

 

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11-06-2018