Acesso à hierarquia superior.

farol n.º 14 - mil novecentos e sessenta e quatro ♦ sessenta e cinco, pág. 14 e 15.

«Anticolonialismo Afro-Asiático


 e

duas consequências para Portugal»

Carlos Manuel Reis Mendonça
7.° ano - Letras
 

O bloco Afro-Asiático, do qual muitas parcelas têm vivido na condição de colónias, logo que conseguiu a autodeterminação, encetou uma política de ataque aos povos colonizadores. Esta posição anticolonialista é do tipo sentimental, pois é resultado dum sentimento colectivo «tendente a fomentar todos os movimentos condenatórios e de reacção». Mas, ao referir isto, não a torno exclusivamente sentimental, porque no meio deste choque de ideias e sentimentos, aparecem aqueles que pretendem satisfazer as suas ambições políticas, tornando-se «leaders» desses países. Eles têm como finalidade a independência dos povos ainda não auto-determinados, e que, segundo aqueles, estão numa situação que vai de encontro aos direitos naturais do homem.

Esta política, que procurei sintetizar em algumas linhas, foi fixada na Conferência de Bandungue, que teve a presença de 29 países representantes do bloco africano e asiático.

Desta Conferência, deduz-se, nas suas linhas gerais. o seguinte:
 

1.º) O bloco Afro-Asiático reafirma a posição atrás referida, insurgindo-se contra o não cumprimento dos estatutos dá Carta das Nações Unidas;
2.°) Declara o seu apoio a todos os povos dependentes que desejam a autodeterminação e desafia as potências interessadas para que concedam a liberdade àqueles.

Estes princípios foram reafirmados em novas Conferências, como a I e II Afro-Asiáticas, realizadas respectivamente no Cairo e em Conacry.

A Conferência de Bandungue teve tanta importância, que Krutschef afirmou que aquela tinha dado um grande golpe nas pretensões dos colonialistas. / 14/
Todo este movimento anti-colonialista terá trazido algumas consequências para Portugal? Claro que sim; o bloco atrás referido, tomando Portugal como um suposto país colonialista, tem procurado inocular nos autóctones das nossas Províncias Ultramarinas o «gérmen» da revolta em que as suas funções são as de simples «cobaias» ao serviço dos interesses dos afro-asiáticos. Eu apliquei este termo «cobaia», porque os portugueses autóctones das nossas províncias não actuam com a plena visão do problema, mas sim, obedecem por coacção aos seus chefes que, caso de admirar, não são das províncias. Ora a sua não naturalidade das nossas províncias mostra que foi necessária a intervenção de estranhos, para que, com elementos falsos que a ingenuidade do indígena não foi capaz de ponderar, levá-lo à revolta.

Após esta breve dissertação sobre a acção do anti-colonialismo afro-asiático sobre Portugal, vou-me referir a um «volte-face», na amizade interesseira dos afro-asiáticos.

A anexação de Goa pela União Indiana, a atitude desta em face da Caxemira e outros factos vieram justificar a desconfiança dos africanos. Mas aparece aqui um político que, através da sua suposta amizade, pretende trazer ao seio da tertúlia os «filhos pródigos». Esse político é Chu-En-Lai que, na sua visita a África, procurou dissipar a desconfiança dos Africanos e restabelecer a amizade Afro-Asiática, para a sua frente anti-colonialista continuar inabalável na sua acção.

Entretanto os Africanos reúnem-se em Addis-Abeba para reivindicarem a sua prioridade de acção neste movimento.

Esta estratégia corresponde a uma atitude de reforço das doutrinas do panafricanismo e da negritude que pretendem mostrar os valores da «civilização negro-africana».

O panafricanismo nasceu de um movimento dos negros da América contra a escravatura e a discriminação racial. Pretende realizar a tão sonhada «unidade africana».

A negritude, também chamada panafricanismo cultural, é uma afirmação de vitalidade dos elementos sócio-culturais dos africanos.

Julgo ter dado, embora dentro das minhas parcas possibilidades, uma panorâmica geral acerca do movimento anticolonialista dos afro-asiáticos.

Para terminar, repito mais uma vez que Portugal, embora inocente, está a sofrer más consequências da política dos afro-asiáticos. E, assim, esta frente conseguiu levar o ódio e a subversão aos nossos territórios ultramarinos.

 

página anterior início página seguinte

08-06-2018