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farol n.º 4 - mil novecentos e cinquenta e nove ♦ sessenta, pág. 7.

Que estranha sinfonia

Virgílio M. da Silva
2.º prémio (2.º ciclo)

QUE estranha sinfonia
a velha azenha
sempre de noite e dia
entoa...


que estranha melodia!
Todavia
ela é tão boa
amiga e trabalhadora,
– coitadinha –
que custa vê-la chorar
zeladora
a transformar
o grão em farinha.


E esse grão
será pão
de quem anda a mourejar
pelo campo, ao sol ardente,
para que não falte à gente
que manjar.


Coberta de musgo e d'hera,
bendita sejas avó
da mecânica que espera
dominar-te.
Serás pó!...
Serás quimera...


E esquecida e triste e só
(Como eu era
e como eu sou)
ficarás em vão à espera
do moleiro que abalou.


Mas a sinfonia estranha
(estranha melancolia)
que o teu labor acompanha,
dar-te-á a primazia
perante nós – os amantes
daqueles reinos distantes da poesia.

 

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05-06-2018