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Aparentemente, tudo levaria a
pensar que sim; todavia, embora a produção oleícola do distrito
tenha decrescido nos últimos anos, como bem nos revela o gráfico da
figura 2, a verdade é que os antigos lagares, hoje em ruínas e só
muito raramente em perfeito estado de conservação, têm sido
substituídos por modernas
fábricas de azeite.
Figura 2: Gráfico mostrando
a produção de azeite no distrito de Aveiro, entre 1962-1980.
Seria desejável que alguns dos
velhos engenhos oleícolas, muitos deles com interessantes afinidades
com os lagares de vinho e com os moinhos de pão, fossem conservados
como documentos de outras épocas, tal como se faz já em países mais
conscientes da importância do património cultural-tecnológico; e
seria mesmo desejável que fossem estudados por equipas de jovens,
empenhados em salvaguardar os mais variados aspectos do nosso património
cultural. Não são apenas os monumentos e conjuntos arquitectónicos
que importa preservar das garras aduncas do tempo; há que manter
vivas as velhas tradições, há que manter vivos os velhos moinhos,
onde outrora se fazia o pão; há que manter operacionais velhos
teares onde, outrora, nossas avós faziam verdadeiras maravilhas de
arte; há que manter intactos velhas azenhas e lagares; em suma, não
deixar que se percam para as gerações vindouras aspectos que
constituíram etapas no desenvolvimento cultural e tecnológico do
mundo ocidental. E quando dizemos manter intactos, não nos referimos
unicamente à simples conservação em estado operacional destes
elementos; importa igualmente que se conserve o saber respectivo ou,
pelo menos, que seja devidamente registado para conhecimento daqueles
que nos continuarão.
Para todos aqueles que se
interessam por estes aspectos do nosso património cultural,
apresentaremos, no capítulo 7 deste trabalho, uma relação de todos
os lagares existentes no distrito[2],
dos quais, possivelmente, em 1980, apenas seis se encontravam em
estado de laborar. Os restantes, ou foram já transformados em
arrecadações, palheiros, garagens ou modernas unidades, ou estão em
estado de total degradação. Nessa relação será fornecida, além
da localização, toda uma série de elementos, tais como: antigos (ou
actuais) proprietários na data acima indicada, tipos de tracção,
tipos de prensa, estado de conservação no momento em que foram
visitados, ano em que foram dados como cancelados, etc.
Após esta breve introdução e
para uma mais metódica análise do assunto em questão, dividiremos o
trabalho em diferentes partes:
· 1 - Os lagares de Canelas;
· 2 - O lagar de Vila Viçosa;
· 3 - O lagar de Anterronde;
· 4 - Os diversos utensílios dos lagares visitados;
· 5 - Relação dos antigos lagares do distrito de Aveiro, de
acordo com os elementos recolhidos em 1980 na J. N. A.;
· 6 - Glossário dos vocábulos registados no concelho de
Arouca (transcritos ao longo do trabalho em letra normal).
Em um ou outro caso, como já anteriormente
dissemos, servir-nos-emos das palavras dos informadores, procurando
reproduzi-las, na medida do possível, tal como foram registadas em
fita magnética e evitando recorrer a uma transcrição fonética, o
que tornaria difícil a leitura e compreensão do texto para a grande
maioria dos leitores.
[2]
- Será importante referir que os elementos aí transcritos se
reportam ao ano de 1980. Seria interessante que se fizesse um
levantamento actual daquilo que resta no distrito de Aveiro, muito
especialmente no concelho aqui abordado.