Henrique J. C. de Oliveira, Por terras de Arouca. Quatro antigas oficinas oleícolas, In: Separata da revista "Estudos Aveirenses", n.º 2, ISCIA, Aveiro, 1994.

 

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Aparentemente, tudo levaria a pensar que sim; todavia, embora a produção oleícola do distrito tenha decrescido nos últimos anos, como bem nos revela o gráfico da figura 2, a verdade é que os antigos lagares, hoje em ruínas e só muito raramente em perfeito estado de conservação, têm sido substituídos por modernas fábricas de azeite.


Figura 2: Gráfico mostrando a produção de azeite no distrito de Aveiro, entre 1962-1980.

 

Seria desejável que alguns dos velhos engenhos oleícolas, muitos deles com interessantes afinidades com os lagares de vinho e com os moinhos de pão, fossem conservados como documentos de outras épocas, tal como se faz já em países mais conscientes da importância do património cultural-tecnológico; e seria mesmo desejável que fossem estudados por equipas de jovens, empenhados em salvaguardar os mais variados aspectos do nosso património cultural. Não são apenas os monumentos e conjuntos arquitectónicos que importa preservar das garras aduncas do tempo; há que manter vivas as velhas tradições, há que manter vivos os velhos moinhos, onde outrora se fazia o pão; há que manter operacionais velhos teares onde, outrora, nossas avós faziam verdadeiras maravilhas de arte; há que manter intactos velhas azenhas e lagares; em suma, não deixar que se percam para as gerações vindouras aspectos que constituíram etapas no desenvolvimento cultural e tecnológico do mundo ocidental. E quando dizemos manter intactos, não nos referimos unicamente à simples conservação em estado operacional destes elementos; importa igualmente que se conserve o saber respectivo ou, pelo menos, que seja devidamente registado para conhecimento daqueles que nos continuarão.

Para todos aqueles que se interessam por estes aspectos do nosso património cultural, apresentaremos, no capítulo 7 deste trabalho, uma relação de todos os lagares existentes no distrito[2], dos quais, possivelmente, em 1980, apenas seis se encontravam em estado de laborar. Os restantes, ou foram já transformados em arrecadações, palheiros, garagens ou modernas unidades, ou estão em estado de total degradação. Nessa relação será fornecida, além da localização, toda uma série de elementos, tais como: antigos (ou actuais) proprietários na data acima indicada, tipos de tracção, tipos de prensa, estado de conservação no momento em que foram visitados, ano em que foram dados como cancelados, etc.

Após esta breve introdução e para uma mais metódica análise do assunto em questão, dividiremos o trabalho em diferentes partes:

            · 1 - Os lagares de Canelas;

            · 2 - O lagar de Vila Viçosa;

            · 3 - O lagar de Anterronde;

            · 4 - Os diversos utensílios dos lagares visitados;

            · 5 - Relação dos antigos lagares do distrito de Aveiro, de acordo com os elementos recolhidos em 1980 na J. N. A.;

            · 6 - Glossário dos vocábulos registados no concelho de Arouca (transcritos ao longo do trabalho em letra normal).

Em um ou outro caso, como já anteriormente dissemos, servir-nos-emos das palavras dos informadores, procurando reproduzi-las, na medida do possível, tal como foram registadas em fita magnética e evitando recorrer a uma transcrição fonética, o que tornaria difícil a leitura e compreensão do texto para a grande maioria dos leitores.

 


[2] - Será importante referir que os elementos aí transcritos se reportam ao ano de 1980. Seria interessante que se fizesse um levantamento actual daquilo que resta no distrito de Aveiro, muito especialmente no concelho aqui abordado.


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