Juliano Mendes Varela nasceu há 60 anos, na Guiné Bissau.
Alinhou em muitos clubes, como o Águeda, o Estarreja , ou o Oliveira do
Bairro. Mas foi no Beira Mar que mais gostou de jogar. E, ainda hoje,
defende as cores do clube, onde viveu os melhores momentos da sua
carreira. Com grande saudade falou nos dos seus tempos de desportista, porque «quem me dera
que o tempo voltasse para trás...»
|
As suas recordações de futebolista remontam aos 7 anos de
idade, quando na sua terra natal «jogava descalço, com bolas de trapos ou com os cocos envolvidos em meias. Até
fazíamos sangue, mas o gosto pelo jogo fazia esquecer a dor.» Aos 12 anos começou
a jogar no clube da terra e foi empregado de uma mercearia. Aos 25 anos, um
amigo, que também tinha jogado no Beira Mar, convidou-o para integrar o plantel do clube aurinegro.
Juliano Varela fez as
malas e cheio de coragem e de sonhos veio para Aveiro. Foram dois anos, os melhores anos de uma
carreira que terminou aos 29 anos. Tempos vividos com muita alegria e recordados com muitas saudades. «Ai se o tempo
voltasse para trás... ». |
Juliano Varela com 25
anos. |
Na região de Aveiro, jogou no
Águeda, no Oliveira do Bairro e no Estarreja. Entretanto, partiu uma perna
e a carreira acabou.
Caracteriza-se como um jogador muito duro e confessa que fez muitas faltas.
«Às vezes, é difícil controlarmo-nos e na luta pela bola acabamos por fazer faltas.
É mesmo assim, mas não quer dizer que se tenha intenção
de magoar o adversário. Acontece...»
Não ganhou muito dinheiro no futebol. «Quando somos
novos, queremos aproveitar a vida. Por isso, o que ganhei, gastei!.»
Criou laços com a cidade que o acolheu muito bem e que
escolheu para viver. Gosta muito de ver o Beira Mar jogar e sofre muito
ao assistir aos jogos. Quando o Beira Mar perde «fico doente... Fico
mesmo aborrecido!». No entanto, considera que o Beira Mar tem uma boa
equipa, que faz o melhor que pode. Aveiro é uma grande cidade com muitas
potencialidades. «O Beira Mar tem capacidade para estar nos primeiros
lugares, mesmo à frente do Boavista ou do Salgueiros. Esta é uma grande
equipa e uma grande cidade. A cidade está a aproveitar mal o clube que tem!» E não vale a pena discutir os resultados do Beira Mar, porque para Juliano Varela a equipa é muito boa. E ponto
final. «Uma equipa que tem grandes jogadores.»
Apesar de ter sido um jogador muito duro, não gosta de
ver as atitudes de alguns jogadores em campo. A falta por maldade ou por mau comportamento deixa-o bastante
aborrecido. «Fico chocado quando vejo um jogador a mandar um chapada
noutro. Isso não tem nada a ver com o futebol. No jogo e com bola é uma
coisa; assim por dá cá aquela palha é outra.»
Reconhece as diferenças entre o futebol que praticou e o
futebol que se pratica hoje, mas entende essas transformações como resultado das mudanças dos tempos. «Hoje não há
tantos golos, aposta-se numa defesa fechada e o objectivo deixou de ser marcar golos, mas defender. Não há tanto espectáculo, mas acredito que são os resultados
das mudanças... O futebol hoje é muito mais rápido. Todos atacam e todos
defendem. É diferente.»
Depois do futebol dedicou a sua vida à família e ao
trabalho. Tem três filhas e duas netas. Não teve ainda nenhum rapaz a
quem ensinar os truques do futebol. Mas se vier a ter um neto, não vai perder tempo e vai incutir-lhe o gosto pelo relvado.
|
Juliano: o terceiro da fila de cima. |
Juliano Varela já conheceu toda a Europa e continua a
fazer grandes viagens, porque é condutor de TIR. É um homem apaixonado pela vida e pelo futebol. Tem saudades da sua
terra, mas não quer visitar a cidade onde nasceu para encontrar tudo destruído. Tem muita pena da situação em que vive a
sua gente, mas lamenta, ainda mais, que o seu povo não tenha tinha juízo
e «tenham destruído um pais tão bonito. Conhece África? Aquilo era lindíssimo. Países cheios de riqueza e... É uma pena!»
Aos mais jovens que se dedicam ao futebol e que pretendem
fazer desta actividade a sua profissão, Juliano Varela deixa uma
mensagem: «O futebol não é uma actividade fácil e na carreira de jogador
existem muitos altos e baixos. É preciso coragem e nunca desanimar!»
Ora, bolas!
Juliano Varela conta:
|
«Gostei do Beira Mar e da cidade, por isso, fui ficando...»
«As brincadeiras dos balneários não são para contar...
Foi muita coisa...»
«A minha esposa apoiava-me e ia ver alguns jogos. Mas
sempre que ela ia aos jogos, eu jogava muito mal. Não sei o que me
acontecia!»
|
«Tenho muitas saudades daquele tampo.» |
«Quando ficava no banco, zangava-me!»
«No Beira Mar são todos bons. Caso contrário, não faziam parte do plantel principal.»
«O Eusébio foi o melhor jogador de todos os tempos».
«Agora é que eu devia estar a
jogar. Estaria a ganhar muito dinheiro!»
«A maior lesão que tive foi numa perna: parti-a! Ainda hoje
me dói.» |