Manuel Vieira Nunes Azevedo nasceu em Aveiro, a 30 de
Maio de 1933. Adorou jogar futebol e continua a ser um amante desta
modalidade. Foi treinador de alguns clubes regionais, conseguindo obter
bons resultados. Tem o Beira Mar e Benfica no coração e costuma ir ver
os jogos da equipa aurinegra. Fez uma excelente trajectória
profissional. Jogou no Vitória de Guimarães, no Torreense, no Leixões e
no Famalicão. Guarda de todos estes clubes muitas e boas recordações.
Momentos que o marcaram e que lembra com muitas saudades.
Manuel Azevedo tem 65 anos. Iniciou-se no Beira Mar com
14. «O futebol era aquilo que podíamos e tínhamos para fazer. Era a nossa brincadeira. Quem tinha
habilidade, seguia». Por isso, quase toda a rapaziada da sua idade e do
Largo das Pombinhas, onde morava, calçou as botas e foi para os
iniciados do Beira Mar. Uma alegria!
Uma equipa muito jeitosa que fez alguns bons resultados. Mais tarde, com 17 anos, integrou o
plantel dos juniores. "Precisei de autorização para poder jogar.
Naquela altura, tive como treinador Artur Baeta, um grande homem do
futebol, com muita paciência para a miudagem». Juntamente com alguns dos
seus colegas de brincadeiras formou-se uma grande equipa. «Subimos
quase todos à I Divisão». E a equipa atingiu uma qualidade tal, que «a
equipa principal do Beira Mar tinha alguma dificuldade em nos ganhar. Isto porque, para além
de sermos muito habilidosos, fazíamos parte de um conjunto que já jogava há muito tempo.
Conhecíamo-nos, tínhamos método». Uma equipa que não esteve muito tempo
junta, porque os jogadores começaram a sair do Beira Mar.
"Eu fui para o Benfica, o "Ratinho" foi para o Vitória de
Guimarães, o Aguinaldo foi para o Belenenses e vários jogadores, que na altura eram estudantes, terminaram o
curso do liceu, e cada um foi para o seu lado. Assim, desmantelou-se uma equipa formidável».
Aos 20 anos saiu do Beira Mar e foi para o Benfica. No
clube das águias jogou até aos 25. Depois, integrou o plantel do Torreense e do Vitória de Guimarães, onde viveu momentos de glória.
«O
Guimarães nessa altura ficou, pela primeira vez, em quarto lugar. Uma
óptima classificação que nunca tinham alcançado.» Terminadas as
temporadas no Guimarães foi para o Leixões. No Famalicão não chegou a
cumprir uma época e regressou ao Beira Mar. Uma carreira desportiva que
terminou aos 36 anos. «Mas não terminei a minha carreira no Beira Mar.
Comecei a trabalhar e a jogar no Alba.» Juntamente com outros valores do
futebol aveirense levaram o Alba à II Divisão.
Como treinador arrecadou algumas vitórias, e recorda esta
fase da sua vida com carinho.
Gosta de futebol e jogou sempre por amor ao desporto.
Claro, também gostava de ganhar dinheiro. Mas não fez fortuna a Jogar.
«Antigamente era diferente. Mesmo assim, no Benfica tinha
um ordenado de 2.000$00. Era muito dinheiro!» Mudam-se os tempos, mudam-se as marés...
«Agora, o futebol é outra coisa... principalmente em
questões monetárias.» Depois, há uma série de factores que motivam as
diferenças do futebol nos nossos dias. Como explica Manuel Azevedo, «nós
não éramos da mesma equipa desde
pequeninos, mas fazíamos algumas épocas no mesmo clube. E
isso permitia que se criassem laços de amizade com as gentes das terras, com o próprio clube.» Actualmente, os jogadores de futebol andam sempre a saltitar de clube em clube, em função de verbas
arrecadadas, de negócios mais proveitosos. Assim, não se criam raízes. O
facto de estarem envolvidos milhões faz com que as equipas, «entrem no
campo instruídas de que é preciso anular fulano, marcar sicrano, por
isso, vêem-se menos golos. Há, naturalmente, menos espectáculo».
Durante os anos que jogou, nunca foi castigado, porque
«partia do princípio de que não valia a pena discutir com o árbitro
depois dele apitar. Reconheço que no meu tempo era mais fácil. Não havia
cartões. Hoje, por qualquer coisinha lá vai um cartão. Antigamente, era
diferente.» Também havia excepções, e é preciso não esquecer que o
futebol é um desporto duro. «Mas essa coisa de dizer que o jogador é de
arreganho, que não gosta de perder nem a feijões, não é atitude que se
possa defender.»
Tem muitas saudades e óptimas recordações dos momentos
vividos nos relvados. Época de emoções fortes, de luta por pontos e boas
jogadas. Deixar o futebol foi difícil, «mas pensei sempre que me ia
custar mais. A idade faz-nos aceitar as mudanças com alguma naturalidade.»
Contudo, não se importava de voltar a ter 20 anos...
Fica muito satisfeito quando o Beira Mar ganha, mas
mantém a calma sempre que os resultados não são favoráveis. Pior do que
ver a sua equipa perder é verificar a injustiça a que, «infelizmente se
assiste nos jogos. É difícil aceitar um período de descontos que só
termina quando a outra equipa empata... Foi o que aconteceu há umas semanas atrás...»
No campo todos falham: os jogadores falham golos, os
guarda-redes deixam entrar golos escandalosos, os árbitros percebem mal
uma jogada. Tudo isto é normal. Mas para tudo há limites.
Aos que se dedicam ao futebol e que anseiam vir a ser
profissionais, Manuel Azevedo deixa uma mensagem: «Trabalhem muito, porque
aquilo que ganham compensa. Mas é preciso ter gosto pela profissão que
escolheram.» Amor e trabalho, quanto baste, é o que aconselha Manuel
Azevedo aos mais jovens.
Para o próximo ano faz votos de que o futebol ganhe mais
verdade e que a equipa do Beira Mar se mantenha na I Divisão. E, se
possível, «o milagre do Benfica ser campeão!»
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Clicar na imagem para identificação dos jogadores, entre os quais se
encontra Manuel Azevedo e Aguinaldo. |
Ora, bolas!
ManueI Azevedo conta:
«Todos
os aveirenses se devem lembrar de um jogo contra o F. C. do Porto em Ovar, em que perdemos por
uma bola a zero. Foi uma pena, porque tínhamos uma equipa muito
superior.»
«O futebol, quando é bem jogado, é uma beleza.»
«Tive um equipamento muito jeitoso, mas porque a minha mãe mo ofereceu. As botas eram muito boas,
e o Aguinaldo quando as viu fez com que o director
−
o Vilarinho
−
lhe comprasse umas. Era para ele poder marcar melhor!»
«Quando jogava nos iniciados, tivemos um jogo contra o Oliveirense. Foi um dia cheio de emoção e
expectativa. Só que choveu tanto, que quase não podíamos com a bola!»
«No Beira Mar só comecei a ganhar dinheiro depois de ter
saído para os outros clubes. No Benfica cheguei a ganhar 2.000$00 por
mês, mas um funcionário público ganhava mil setecentos e tal.»
«Um homem que é mau dentro do campo, é mau fora dele.
Pode é disfarçar muito bem!»
«O campo de futebol não pode ser um campo de batalha.»
«As pessoas vão pouco ao futebol, porque os bilhetes são
muito caros.»
«Está-se a assistir a situações no futebol que estão a ultrapassar todos
os limites.»
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