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Numa especie de guichet de talha
dourada, estilo baroque, uma pinturinha interessante em cobre, S.
Pedro chorando o erro de haver negado a Cristo.
Em elegante ediculo, de talha, estilo
renascença, um quadro em tela de algum valor, a Virgem estreitando
ternamente nos braços o Filho, que lhe corresponde com egual afecto.
Numa moldura de talha dourada, um quadro
pintado dos dois lados, sobre haste que, antes de 1834, era levado
na procissão do Rosario que os frades dominicos aqui faziam.
São exemplares muito apreciaveis quanto ao modo de trajar nos meados
do seculo XVIII diferentes quadros, pintura em tela, molduras
achoroadas, representando a entrada da Princeza Santa Joana no
convento de Jesus, e uma entrevista que a mesma princeza teve no
claustro do mesmo convento com o irmão, o príncipe D. João; o
casamento mistico de Santa Catarina; Santo Antonio pregando;
diferentes pasagens biblicas e santos e santas do agiologio
católico, em que figuram coches de gala, cavalheiros, príncipes e
princesas trajando custosos vestidos de brocado e de sedas,
recamadas de bordaduras e pedras preciosas.
Guarnecendo uma grande ostante de coro
que pertenceu os frades capuchos do convento de Santo Antonio, e
espalhados por diferentes mesas, codices e livros de coro em
pergaminho com letras capitais, filigranadas e coloridas, e uma ou
outra iluminura, dos seculos XV a XVIl, com encadernações em
madeira, forradas de coiro com pregaria e fechos de bronze. Entre as
encadernações ocupa o primeiro logar um infolio Oficio do tempo
pascal, cerca de 1480. O sr. Joaquim de Vasconcelos referiu-se a
esta preciosidade por esta forma. «A encadernação é de primeira
ordem em carneira fina toda pintada em arabescos, preto e ouro,
estilo gotico florido: no centro Nossa Senhora da Conceição: no
verso repete-se o mesmo arabesco, tendo no meio a Virgem simbolisada
numa Pulchra luna, sobre nuvens, tambem pintadas a cores; a
orla em ambas as capas e as costas do volume está coberta de lavor
gauffré, em belos rendilhados. E' o especimen de encadernação
pintada mais belo que temos visto em Portugal e seria uma
raridade notavel mesmo là fora.»
Num pequeno gabinete contigua á sala C, incontram-se os retratos do 1.º bispo de Aveiro, D. Antonio de Sousa
Freire Gameiro e os do Pio VIl e Clemente XIV pintura em tela.
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Numa pequena estante envidraçada,
documentos em pergaminho e em papel; autografos da Princesa Santa
Joana, de D. Jorge, Mestre de S. Thiago e duque de Coimbra, dos
duques de Aveiro e o auto das aclamações em Aveiro de D. Antonio
Prior do Crato e Filipe II de Castela, como reis de Portugal, em
1580. Photografias de homens e cousas de Aveiro e seu distrito e, a
maquete da estatua de José Estevão, erecta na praça da Republica,
soberbo trabalho de Simões de Almeida (1886).
Sala D. – Pelas paredes. Estão
aqui dispostos. numa elegante misula de madeira entalhada, curiosos
especimens da iluminaria e grossaria conventual, de proveniencia
nacional, talvez mesmo concelhia, de Eixo, grande centro outrora
desta industria, em latão, cobre, e estanho. Chamam a atenção dois
candieiros para azeite de dimensões pouco vulgares e uma lâmpada de
suspensão, rematada pela cruz da Ordem de Cristo, de latão, seculo
XVII. Sobre uma balaustrada de pau santo os antigos padrões das
medidas peso e liquidos, do concelho.
Dos padrões em bronze, 2, existe apenas
a caixa e tampa, o jogo das seis peças, que continham, desapareceram
pouco depois da Exposição distrital de 1882.
A forma da argola da tampa e escudos das
armas reais faz-lhe fixa a epoca, mas numa das caixas ha uma
inscrição que diz: O muyto alto e excelentíssimo rey D. Manuel o
primeiro de Portugal me mandou fazer: Ano do nascimento de N. S. J.
C. 1499.
Numa vitrine, os selos em prata e talão
do 1.º e 3.º bispo de Aveiro, e o da vila e o concelho de Esgueira.
Este, representa as armas daquela antiga vila, um navio envergado
nadando sobre ondas azues, em torno a legenda: S. Concili
Isgariae.
Espalhada pelas paredes, uma incipiente
mas já interessante coleção de gravuras antigas, algumas assinadas,
em papeI pergaminho, nacionais e estrangeiras.
Ao fundo da sala uma encantadora
capelinha, com o retábulo tecto e paredes inteiramente revestidas de
pinturas em tela e madeira, amolduradas em talha dourada e
reproduzindo scenas da vida de S. Domingos e santos, santas e outras
personagens da ordem monástica, que o mesmo instituiu. Parte são
productos do pincel de Antonio André que deve ter vivido no meado do
seculo XVII.
No pequeno vestibulo, que dá acesso a
esta sala, alem dum enorme arcaz de castanho onde se guarda a maior
parte dos riquissimos paramentos que hão de ocupar as vitrines
parietaes e centrais da sala G, encontra-se uma apreciavel coleção
de ferrolhos e fechaduras, argolas e chaves de arcas, frentes de
aldravas e fechaduras de portas em ferro batido, e espelhos,
fechaduras e aplicações decorativas de mobiliario em metal.
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