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Sala E – Ha nesta sala tudo que em prata, oiro e pedras preciosas, contém o Museu, de aí o epiteto de tesouro por que é designada. Com pequenas exceções são alfaias do culto. Custodias imagens, cruzes, castiçais, relicarios, cálices, jarras, galhetas, salvas, resplendores e coroas de santos etc representam a prata trabalhada á lima, gravada a buril, cinzelada e abolhada ou rebatida.

Especialisam-se, pela delicadeza do trabalho, uma custodia, e a renda de prata dourada que reveste um elegante par de galhetes de cristal do rocha, um cofre relicario rematado pelos escudos das armas de Portugal e da ordem dominicana e que encerra o rosário, uma parte do habito e a corrêa de freira desta mesma ordem, que usara a Princeza Santa Joana, um relicario de prata e cristal, em que se guarda uma madeixa dos cabelos de oiro, parte, segundo é tradição, dos que cortaram a mesma princeza em 1475 por ocasião de lhe lançarem o habito de religiosa, no convento de Jesus.

Entre as joias, e pode bem dizer-se quasi todas de uso profano notabilisam-se um adreço de prata com ametistas e diamantes, formado de broche e brincos; um esplendido colar e brincos de prata, com diamantes seculo XVIII; um pequeno medalhão relicario de suspender ao pescoço, de filagrama de oiro, com duas faces e tendo em cada uma delas a cruz da Ordem de Cristo em esmalte vermelho e branco, seculo XVI; e um rosario tambem de filagrama de oiro, com cruz e pingentes da mesma filagrama e fios de perolas, seculo XVII, etc.

Além das peças de ourivesaria, encontram-se nesta sala algumas esculturas em marfim e madeira, crucifixos muito apreciaveis, e fragamentos de talha de forte relevo, de folhagens e outros ornatos de côr negra, prova a mais da perfeição que atingiu entre nós esse grande ramo de industria nacional nos seculos XVII e XVIII e de que é testemunho perene a sala B.

Sala F – Neste recinto, que não é pequeno, exibem-se os moveis que pertenceram aos conventos de freiras de Sá, das Carmelitas e de Jesus.

Dali provem, com rarissimas exceções, tudo o mais que se encontra no Muzeu. Mas caso identico dá-se com os demais muzeus do paiz. Descrevendo o Nacional de Belas Artes escreve Gabriel Pereira. «Se não fossem as freiras metade das coisas preciosas que enchem as Janelas Verdes ou muito mais de metade, tinha saido a barra ou passado a fronteira.»
 

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Mas todo aquele mobilario conventual não seria para despresar num salão nobre de casa rica. Compõe-se ele de mesas com pés e travessas torneadas, de contadores e comodas de pau santo, cantoneiras e escrevaninhas de xarão, credencias, gondola e capsulas de talha dourada, cadeiras com assento e costas de couro e de veludo, lustres, estante de couro com guarnições de bronze, taboleiros e quadros axaroados, um pequeno cravo e um grande orgão, e para nada faltar até ali ha duas peças de marqueterie (embutidos) e um pequenino catle de colunas, em pau santo, belissimo exemplar meniatura, tipico dos leitos monumentais de nossas avós, e em que dorme um Menino Jesus.

Sala J – Com esta sala ou antes vasto salão, de 30m x 6m destinado aos tecidos e bordados, se completa por assim dizer o Muzeu. Não está ainda aberta ao publico pois falta completar as grandes vitrines, que revestem as paredes conjuntamente com retabulos de colunas salomónicas, de talha dourada, convertidos em escaparates e construir as que se hão de agrupar em torno dum grande centro retangular de carvalho e que tem em cada uma das faces altos relevos representando S. João Batista, Santa Izabel, Santa Clara e João Evangelista e outras peças de escultura decorativa. Concluídos tais trabalhos, e colocadas que sejam as riquissimas peças de indumentaria eclesiastica, que já possue o Muzeu e as que conta poder alcançar ainda, o grandioso recinto deve ser dum aspecto verdadeiramente deslumbrante, pois coleção egual, a não serem as dos tesouros da Sé de Coimbra e Capela de S. João Batista de Lisboa, não existe ao presente em Portugal. Compõe-se aquela sumptuosa coleção de frontais, com fundos de brocado, lhama e seda e fachas de veludo carmezim, primorosos bordados a oiro, em alto relevo, seculo XVI; palio, pano de estante, véu de hombros, pano de pulpito, gremial, pavilhão do sacrário, capa de asperges, casula e dalmaticas com as respectivas estolas e manípulos, de lhama de prata, profusamente bordados a oiro, seculo XVIlI; casula de seda branca, moirée bordada a oiro; capa de asperges e casula de tissu encarnado, exceIentemente bordados a oiro, tendo aquela nas extremidades dos sebastos e esta, na racha central, um escudo de armas, com uma estrela de sete pontas, rematado por um chapeu episcopal bordado a prata e torçal, origem hespanhola e trofeu da guerra peninsular, pois…
 

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…foi apreendido nas bagagens do exercito francez pelos soldados de caçadores n.º 10 apóz a acção de Victoria; almofada de veludo carmezim, lavrado, com quatro borlas de seda; colcha de setim côr de laranja bordada a matiz; frontal, pano de pulpito, casula e dalmaticas com suas estolas e manipulos, de veludo vermelho bordados a retalho; frontal de brocado com fachas bordadas a seda frouxa e oiro representando aves e flores simbolicas, trabalho indo-portuguez, seculo XVI; véu de calisce e bolsa de corporais, de lhama de prata encanastrada com ramos bordados a fio de oiro, palheta, lantejoulas e perolas, seculo XVIII; pequenas colchas de setim branco bordadas a seda frouxa; casula, dalmaticas e véu de hombros de seda encarnada com ramagens de oiro; bandeira de damasco branco com as armas de Santa Joana Princeza bordadas a oiro; capa de asperges de lhama encarnada com alamares e franja dourada; bandeira de demasco encarnado, tendo dum lado as armas portuguêsas e do outro as da cidade de Aveiro, bordadas a oiro em grande relevo, seculo XVII; mitra de seda branca bordada a oiro, com pedras falsas; capa de asperges, casula, dalmaticas e véu de hombros de setim branco com bordados a matiz; par de cortinas de seda branca com ramagens, tecidas a seda de diferentes cores e fio de oiro; bandeira de damasco encarnado com os escudos de armas de Portugal e de Esgueira bordados a matiz; casulas de seda branca e encarnada com grandes ramos de cores brilhantes; véu de calisce de lhama encarnada bordada a oiro; vestidos e mantos de imagens, de setim, bordados profusamente a oiro; capa de asperges, casula e dalmaticas de seda branca, tecida em ramagens de oiro; tira de veludo com um escudo rematado por uma corôa com as armas de Portugal e de Aveiro conjuntas, bordada a seda frouxa; reposteiros brazonados de pano bordados a retalho; teliz de veludo azul com larga orla tendo ao centro as armas dos duques de Aveiro, tudo bordado a seda frouxa; quatro grandes reposteiros ou panos de armar, de seda, tecidos a prata e oiro. (meado do seculo XVI) o oiro é lavrado sobre um fundo amarelo, e a prata sobre um fundo vermelho, figurando albarradas de bello desenho etc., etc.

Marques Gomes