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Ha no concelho varias feiras, onde se
fazem numerosas transações, sendo todas elas muito abundantes em
gado suino e principalmente bovino. A de Nojões, em Real, realisa-se
nos dias 11 e 26 de todos os mezes; a de S. Lourenço, em Bairros, e
a de Santa Eufemia, em S. Pedro, respectivamente nas vesperas das
romarias dos mesmos nomes, e a de S. Miguel, no Castelo, em Fornos,
no dia 28 de Setembro.
As produções desta região, que é de uma
assombrosa fertilidade, são principalmente vinho, milho, frutas,
azeite, centeio, bois, porcos, galinhas, ovos, lenha e carvão
vegetal e mineral. Quasi não se cultiva o trigo. Os processos
culturais são, com raras exceções, á Pai Adão.
Existe um Sindicato Agricola, que tem
trabalhado bastante, num meio inerte, mas não levou ainda de vencida
a velha rotina.
Foi fundado em 1904, pelo autor destas
linhas, que a ele tem dedicado uma boa parte da sua atividade.
O vinho verde de Paiva é excelente,
muito procurado no mercado e podia ter uma fama mundial, se houvesse
uma cooperativa agrícola, que o exportasse com o pecado original,
porque está provado que o batismo nos vinhos não dá o resultado
preconisado por Cristo.
Ha tambem vinhos, que fazem transição
entre o verde e o maduro, como, por exemplo, o vinho da Torta,
propriedade do Dr. Manuel Salema, que é excelente para as pessoas,
que sofrem do estomago e que, se fosse mais conhecido, seria
largamente aconselhado pelos medicos, sempre com magnificos
resultados para os doentes e tambem para o produtor.
O milho é geralmente consumido no
concelho, que produziria muitissimo mais se empregasse larga e
racionalmente os adubos quimicos, que revolucionam a Agricultura, e
que só agora começam a ser aqui usadas em pequena escala.
As frutas são tudo quanto ha de mais
saboroso, não obstante a falta geral de conhecimento de
fruticultura. A proposito, lembro-me do que disse o sabio francês,
P. Viala, quando ha uns 10 anos visitou o paiz, em missão de estudo,
e comeu uns soberbos pecegos da quinta da Fisga – Pecegos tão
bonitos, tenho visto muitos, mas mais saborosos e perfumados ainda
não encontrei.
Isto dá-nos uma ideia da riqueza que
esta região e quasi todo o paiz podiam ter, se se tratasse a valer
da produção racional e não menos racional exportação dos nossos
saborosissimos frutos!
Mas disto ninguem se importa.
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Em compensação, os espertos tratam agora
de acabar de arruinar para todo o sempre a economia nacional com a
aquisição de um exercito á Kaiser e de uma invencivel
armada, constituindo isto, que ninguem mais do que eu desejava,
se tivessemos dinheiro, uma obra de fomento a realisar
primeiro que tudo, segundo afirmam muitos eximios patriotas, que lá
por Lisboa gastam ás vêses, numa ceia, quantia que chegava bem para
sustentar um regular lavrador mais dum mês. Segundo alguns dos
alvitres, que certa imprensa tem leviana e deshumanamente divulgado
e que me tem agravamento de impostos – é simplesmente assombroso! –
constituiria isso uma obra de fomento... para os outros.
Mas voltemos aos nossos produtos. O
azeite de Paiva tem fama de ser excelente e merece-a. Se ele fosse
fabricado pelos modernos processos, sem duvida que egualaria o
melhor do mundo.
Matéria prima não nos falta; o que
escasseia por cá é ... dinheiro e energias persistentes.
A iniciativa fabril tem-se desenvolvido
pouco nesta encantadora região. Existe a Frutuária, propriedade do
Conde de Castelo de Paiva, onde se fabrica magnifica manteiga, que
vai, na maior parte, regalar o paladar dos felizes alfacinhas e dos
laboriosos tripeiros. E' um bom edificio, situado ao lado da
estrada, junto da vila de Sobrado de Paiva.
Na freguesia de Raiva, aproveitando as
aguas do rio Arda, laboram 3 fabricas de papel, que se vende quasi
todo na Invicta.
Propriamente associação ha só o
Sindicato Agricola, cuja direção actual é: presidente – João
Salema, vice-presidente – P.e José Lourenço
Pereira de Matos, tesoureiro – Dr. Henrique Amorim,
secretario – Antonio Mendes da Costa e vice-secretario –
Antonio Moreira de Freitas.
Ha tambem quatro irmandades, que afinal
associações são: a do Senhor Nome de Jesus, da freguezia de Bairros;
a da Senhora dos Milagres, de Sobrado; a do Santissimo, da Raiva e a
da Santa Eufémia, da freguezia de S. Pedro. As duas ultimas fazem
todos os anos larga colheita de ofertas.
A beneficencia… está a nascer.
Instalou-se em Outubro passado a Comissão Municipal de Assistencia
Publica, assim constituida: presidente – João Salema;
vice-presidente – Dr. Joaquim Moreira da Fonseca, tesoureiro
– Dr. Henrique Amorim, secretario – Dr. Antonio da Silva
Gouveia, vice-secretario – Dr. Artur Gregorio da Silva Nobre,
vogais – Alfredo Augusto Ribeiro e Antonio Cardoso Moreira de
Vasconcelos.
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Ha bons anos que amargamente se faz
sentir a falta de um Hospital. A Comissão Municipal de Assistencia
está empregando os mais enérgicos esforços para preencher esta
grande lacuna. E é precisamente isto uma das causas de mais á pressa
serem estas linhas rabiscadas.
Indo este artigo especialmente
condimentado para o gosto dos touristes, è justo que eu
deixasse para o fim os hoteis, para fechar com chave... de chumbo.
Não se morre de fome aqui; venham os touristes ás duzias, aos centos
mesmo, que ha magnífica carne, excelente vinho e bom pão. Mas,
verdade, verdade, a este respeito – e de tantas outras coisas –
estamos bem longe do estrangeiro. A nossa deploravel falta de hoteis
é já uma interminavel scie, a que eu tambem não posso agora
furtar-me.
Mas tempo virá – quem sabe! – em que os
homens da tal fomento nos brindarão, com um Palace-Hotel,
igualou superior ao de Vidago, e que ficaria a matar no meio desta
pequena vila de Sobrado. Se isto se realisasse, teria eu um dos
maiores alegrões da minha vida!
Castelo de Paiva, 28−11−1912.
João Salema.
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