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Fazer passar as belezas naturais desta
linda terra deante dos olhos do turiste, chamar a atenção
dele para tudo o que de interessante aqui existe, é a tarefa que me
impoz a muita amabilidade ao ilustre director d'A Liberdade.
Eu podia muito facilmente desobrigar-me
dela, dizendo apenas isto: A minha encantadora região não precisa
que o seu mais modesto filho lhe faça reclame; ela é hoje
sobejamente conhecida de toda a gente, desde que as famosas termas
de Entre-os-Rios para aqui enviam todos os dias, em carros e
automoveis, os seus felizes hospedes que fartos de cheirar aquele
milagroso e desagradabilissimo gaz sulfuroso, veem retemperar o
aparelho respiratório neste ar puro e balsámico, ao mesmo tempo que
encantam os olhos por essas magníficas estradas, que coleando os
alcantilados terrenos desta invejada Suissa portuguesa,
apresentam um cinematografico desenrolar de surpreendentes
paisagens, cuja beleza dificilmente é excedida pelas mais belas do
mundo!
Mas eu sinto um prazer indizivel sempre
que tenho ocasião de falar deste torrão bemdito e assim, deixarei no
Almanaque da Liberdade algumas impressões escritas de fugida,
porque, bem a meu pezar, o tempo me falta por completo neste
momento, em que quasi desempenho o papel de musico de sete
instrumentos.
Das estradas, que se curvam como serpentes por essas encostas fora,
já lhes disse alguma coisa e apenas acrescentarei isto – toda a
gente se admira do seu estado, da sua beleza e dos seus variados
encantos. Golpes de vista, ha-os soberbos por toda a parte. Citarei
em todo caso dois. Um, no alto de Gração, na estrada de Sobrado de
Paiva a Carreiros, donde os olhos se espraiam sobre diversos
concelhos e distritos, indo repousar, cansados, sobre os telhados
dos esplendidos hoteis de Entre-os-Rios, de uma cor destacante, que
nos dá logo a ideia da magnifica saude respiratoria que por
baixo deles se abriga! O outro sitio, que eu de bôa vontade
escolheria para habitação, se não tivesse já esta velha casa que
habito, é o alto de Belomonte, na divisão da freguesia de Sobrado
com a de S. Martinho.
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Se esta Suissa portuguesa tivesse
à felicidade de ser uma Suissa autentica, já ali existiria pelo
menos um sumptuoso Hotel, com soberbos terraços, servido por um
elevador, que tomaria os fidalgos dos Hoteis – como por aqui
chamao aos termistas de Entre-os-Rios – saídos dos automoveis em
Greire, na estrada de Entre-os-Rios a Sobrado de Paiva, e os iria
colocar, descançados e maravilhados no patamar do monte. Assim quem
quizer admirar aquele soberbo sitio, donde se veem terras dos
distritos de Aveiro, Porto, Vizeu, Braga e Vila Real, e dos
concelhos de Paiva, Arouca, Penafiel, Paredes, Amarante, Felgueiras.
Marco, Gondomar, Baião, Sinfães, Mesão-Frio e Terras de Bouro,
precisa de deixar a comodidade dos autos em Greire e subir uns 400 e
tantos metros a pé, ou então, preferindo um caminho um pouco mais
longo, mas menos inclinado, pode apear-se no Frutuário e dar um
higienico passeio até ao alto, onde encontrará tristes pinheiros, em
logar das chaminés dos confortaveis hoteis, e alegres gaios em vez
dos felizes touristes, que tantos milhares de contos podiam
semear por este país fóra, se nós tivessemos menos egoismo e mais
senso comum…
E já que falo em locais de longa
vista tambem posso, entre muitos, citar um de vista curta
– O Pego Negro – de que já falei em 1905, no Portugal Artistico,
magnifica revista que foi dirigida pelo meu caro Eduardo Salgueiro e
que, como todas as coisas bôas, pouco tempo durou. O Pego negro
é um profundo poço, no rio Paiva, num sitio em que as margens
abruptas, de alinhadas piçarras, quasi se encostam uma á outra, para
se poderem amparar mutumente sobre o escuro abismo. Tem uma lenda,
da Moira da grade de oiro, que me contavam em pequenito, mas
que não vem para aqui, porque o tempo foge-me e o papel
desaparece-me rapidamente sob os bicos da pena. Alem disso o
turiste não tem facilidade de chegar áquele local, a não ser em
. . . aeroplano.
Esta bela terra não è das mais
abundantes em monumentos, todavia tem alguns, de construção moderna,
a que devo fazer referencia. Assim o recente edificio da Camara
Municipal, é de primeira ordem e não envergonharia qualquer cidade,
que o possuisse. Nele estão tambem instalados. o Tribunal, a
Conservatoria, a Secretaria e a Tesouraria de Finanças. Ao lado fica
o edificio expressamente construido para a estação, de 2.ª classe,
do correio e telegrafo. E' elegante e está bem á altura da sua
situação. Veem-se repartições congeneres muito inferiores em
diversas cidades…
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Passemos agora em revista as pontes. A
metalica de Entre-os-Rios, por onde se faz a ligação da estação
ferro-viaria de Cete com a vila de Sobrado de Paiva, em percurso de
22 kilometros. Tem 24 metros de altura e é por ela que passará,
muito brevemente, a linha ferrea de Penafiel a Sobrado de Paiva, de
23 kilometros, a qual já no proximo verão funcionará até
Entre-os-Rios.
A ponte de Caninhas, de pedra, que liga
este concelho com Sinfães e tem a bonita altura de 32 metros. Uma
outra ponte, igualmente de pedra, no Loureiral ou Bateira, que tem
só 14 metros de altura, mas que merece ser mencionada, por causa do
seu arco muito abatido. Liga tambem Paiva com Sinfães. Estas são as
mais conhecidas e mais visitadas pelos forasteiros, mas existe ainda
uma outra, na freguezia de Pedorido, que tem 17 metros e meio de
altura e é metalica, sobre pegões, como a de Entre-os-Rios.
Quintas dignas de uma turistica
visita, apenas ha duas. A da Boa-Vista, que fica na vila de Sobrado
de Paiva e é solar do Conde de Castelo de Paiva. Está cuidadosamente
tratada pelo seu proprietario e possue um magnifico chafariz de
pedra, que veio em 1897 do convento de Pombeiro, em Felgueiras. Tem
10 metros e meio de altura, caindo dele abundante agua, que dá ao
jardim um soberbo aspecto de beleza e frescura.
A outra, é a quinta da Fisga, na
freguezia de Bairros, solar do dr. Manuel Salema. Dista tres quartos
de hora da vila de Sobrado de Paiva. A casa tem o aspecto
carateristico dos velhos solares portuguêses. A entrada da quinta,
com as suas numerosas estatuas de pedra, forma um soberbo e raro
conjunto, cuja original beleza é vivamente admirada por todos os
visitantes. Infelizmente, algumas das estatuas foram mutiladas a
tiro e á pedrada durante o tempo em que o seu proprietario fazia o
Cerco do Porto e não teem sido restauradas pelo atual
proprietario.
Nesta quinta ha ainda de notavel um
antiquissimo e monumental tanque com tres abundantes bicas de agua,
e um magestoso frontispicio com 18 metros de largura e 14 e meio de
altura, tendo ao centro tres belas estatuas, duas laterais, em
baixo, e quatro em cima, terminando por uma grande cruz de granito.
Os visitantes da quinta da Fisga podem
ainda admirar os modernos e magnificos galinheiros, faisandarias e
coelheiras, assim. como a colecção de aves e coelhos das raças puras
mais praticas, que o autor destas linhas tem importado e
cuidadosamente selecionado, assim como algumas raças por ele obtidas
á custa de criterioso e persistente trabalho.
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Pelo que respeita aos costumes
paivenses, eles eram uma transição entre os minhotos, sem aqueles
caracteristicos penduricalhos de oiro, e os durienses, sem aquelas
casaquinhas regionais. Mas a civilisação tirou-se dos seus cuidados
e, subindo o Douro acima, na armada rebela da laboriosa praia
do Castelo, deu-se ao prazer de transformar as robustas cachopas
e os vigorosos môços. Os nossos olhos observadores já não
conseguem pousar-se sobre o curto casebeque duma linda rapariga, nem
sobre a redonda jaqueta de um espadando rapaz, trajes
caracteristicos, que deixavam á vista toda a elegancia da cintura… A
moda, que veio a ares da aldeia, transformou tudo isso, afidalgou
tudo; e agora só vemos mocidade anémica, apertada em fatiotas
incaracteristicas, que nem são da cidade, nem são da aldeia. As
longas capas escuras, com que as lindas mulheres outrora se cobriam,
para ir à missa, e as engraçadas jaquetas de alamares, rarissimas
vezes se veem e só em alguma velha encarquilhada, ou a agasalhar o
alquebrado dorso de algum velho tropego.
Este povo, que é alegre e pacifico,
gosta muito de arraiais, de procissões e de ir á missa. Poucos são
os maçonicos que deixam de a ir ouvir aos domingos e
dias-santos. As principais romarias são a da Senhora dos Milagres,
na vila de Sobrado, no terceiro domingo de julho; a de S. Lourenço,
em Bairros, no segundo domingo de agosto; a da Senhora das Amoras,
na Raiva, em 7 e 8 de setembro, e a da Santa Eufemia, em S. Pedro do
Paraíso, em 15 e 16 do mesmo mez. Esta ultima é a mais importante e
extraordinariamente concorrida, vindo gente de muito longe, Arouca,
Azemeis, etc. A noitada, sobretudo, é encantadora, com os
numerosissimos descantes populares, que dão uma assombrosa
vivacidade ao arraial, pondo no vastíssimo recinto uma intensa nota
de comunicativa alegria.
O comercio tem-se desenvolvido muito nos
ultimos tempos, havendo na vila de Sobrado estabelecimentos modernos
importantes, que fazem negocio. A eles veem fazer as suas mercas
os habitantes de todo o concelho e ainda dos concelhos visinhos.
E' engraçado ver, aos domingos, os
ranchos de lindas raparigas, com as suas coloridas sacas cheias de
luxos comprados aos barateiros da vila, porque todos são barateiros,
mesmo os que vendem mais caro…
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