Fátima Barrote
(5.º ano)
SOBRE
aquela linda paisagem a angústia tinha estendido o seu manto. Algo
acabava de se
passar.
Um drama? Talvez.
O rio tinha deixado de murmurar e suspirava mansinho, como se algo o entristecesse. O vento
parara. Os passaritos tinham-se calado. Tudo estava triste,
taciturno. Ali, algo nos dava vontade de chorar... E eu chorei...
Porém, eis que surge um petiz de uns 4 ou 5 anos. Vinha
saltitante, pela margem do riozito; e cantava. Nos seus olhitos
azuis havia alegria.
E o pequenito ria. Porque riria ele? Vinha feliz.
Numa das mãos segurava um ramito de flores silvestres. Eram lindas
margaridas selvagens. Ao passar por mim parou e, arregalando os
olhos, disse:
– Olá! Como te chamas?
– Eu? Fátima e tu?
– Tens o nome da Senhora de que eu mais gosto, sabes? Tu tens os olhos iguais aos da
Mamã, só o que é os dela são mais bonitos. Ah! eu chamo-me Miguel.
Eu agora tinha o pequenino entre os meus braços: E o nosso diálogo continuou.
– «São? E como se chama
a tua Mamã?» perguntei-lhe.
– Margarida. É lindo, não é?
É por isso que eu lhe levo estas
flores. Como ela gosta muito delas! Tu também tens Mamã não tens?
– Tenho, pois.
– É linda?
– É. Todas as Mamãs são
lindas.
– Pois são. E também são muito boas. A minha costuma dar-me muitos
beijos e fica muito triste quando eu tenho fome ou frio e ela não
tem pão para me dar ou roupa para me vestir. Às vezes até chora.
Aqui o menino calou-se um pouco e uma sombra de tristeza passou-lhe
pelos lindos olhos. Depois continuou:
– Mas ela agora está doente. O senhor Doutor diz que ela vai
morrer, eu bem ouvi.
Mas eu sei que ela não morre, porque eu peço muito ao Jesus para
não ma levar; e eu sei que o Jesus não vai levá-la, porque eu sou
pequenino.
Bem, agora tenho que ir. Adeus.
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18 /
E lá se foi direito a um casebre.
Aproximei-me.
O menino entrara.
– Mamã, sabes? Hoje trago-te daquelas flores que tu gostas.
De dentro não houve resposta.
O menino entrou para o
quarto e perguntou:
– Mamã, tu não falas porquê?
Tu não me dás um beijinho?
E então aquela cabecita compreendeu o que se passava e aqueles
olhitos azuis, antes tão alegres encheram-se de lágrimas, e o menino disse:
– Mãe!...
Neste monossílabo o petiz
expressou toda a angústia do seu coraçãozito, e continuou.
– Porque não me levaste contigo? Tu dizias que me levavas sempre
e
não levaste.
E então o menino chorou e eu chorei.
E a noite desceu com o seu manto negro para proteger aquela criança
que ficara só no Mundo, e que continuava a chorar baixinho, porque a
«Mamã» não o levara consigo.
As flores que ele levara tão carinhosamente foram as que duraram
mais, junto da «Mamã», que se chamava Margarida e era boa e linda e
tinha uns olhos mais bonitos que os meus.
Porquê? meu Deus, Porque
continuam a morrer as mamãs destas crianças amorosas e simples que
têm tanta fé em Ti, e que não têm mais nenhuma riqueza além delas,
nem a material.
Eu não consigo fazer chorar um pequenino, porque acho que o não devo fazer.
É um ente tão
inocente e querido!
Não deixes morrer tantas
Mamãs!... |