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farol n.º 31 - mil novecentos e sessenta e nove ♦ setenta, págs. 14 e 15.

Os heróis não morrem, vivem para sempre na memória dos vivos

DA REDACÇÃO

No Farol de Outubro e Novembro de 1967 foi prestada homenagem ao tenente piloto-aviador Manuel Malaquias de Oliveira, Cruz de Guerra de 1.ª classe a título póstumo, e antigo aluno do nosso Liceu. Homenagem justa para quem soube bem servir a Pátria, dando por ela a vida, e honrar o Liceu que o instruíra e formara no amor aos grandes ideais.

Natural do Bonsucesso, não o esqueceram os seus conterrâneos que em boa hora resolveram perpetuar-lhe a memória, deixando para os vindouros o exemplo do seu heroísmo e do seu sacrifício, afixando, no dia 12 de Outubro, numa das ruas da sua terra o nome heróico do tenente Malaquias de Oliveira.

Houve cerimónias e a presença das autoridades e dos familiares do bravo aviador. Lá estavam a esposo extremosa e a filhinha idolatrada. Ambiente de grande interioridade e emoção, a revelar o elevado civismo do povo da freguesia de Arados. E, depois, a voz do nosso Reitor que se elevou, para fazer o elogio do tenente Malaquias de Oliveira. Calaram fundo no espírito dos presentes as palavras sentidas do sr. Dr. Orlando de Oliveira que, a uma dada altura afirmou: «assim também se compreende que me convidassem para eu, como professor que fui de um dos seus Maiores, estar agora aqui, com um turbilhão de sentimentos, tristes e jubilosos, a prestar um depoimento sobre o meu antigo aluno cujo nome, para glória da sua memória abençoada por Deus, e para honra de seus familiares, ficará para sempre a lembrar o amor de um homem que soube amar a sua Terra, o espírito de devoção de um rapaz que soube ser valente, generoso e herói, a lição de um jovem que teve a coragem de viver a sua juventude no âmbito da dignidade, da alegria, do estudo e da coragem espiritual».

Mais adiante disse o orador: «Sentiu entretanto o primeiro grande amor da sua vida e aí vai ele alistar-se na Força Aérea para a servir com abnegação sem limites, com entrega de si mesmo à causa da Pátria, em holocausto do qual sacrificou a própria vida.»

E, um pouco depois, o Reitor do Liceu continuou: «Poderia ele deixar-se embriagar pelas seduções lisboetas, tanto mais cativantes quanto maiores as qualificações dos rapazes a elas sujeitos; poderia pensar em não assumir tão depressa as graves responsabilidades de chefe de família e protelar a realização desse sonho que seria agora o seu segundo grande amor.

Mas não: como jovem que desejava ser homem, bem consciente e determinado, resolve cumprir, perante Deus e perante aquela a quem escolhera para Esposa, as promessas de rapaz brioso, as intenções de / 15 / militar com aprumo e garbo, e vem à sua terra, às paragens de Verdemilho, Aradas e Bonsucesso... e vem à sua terra, dizíamos, para levar consigo outro força de juventude igual à sua, outra alma parecida com a sua em bondade, em dedicação, em ternura, em amor.»

«Diz-nos o louvor concedido a título póstumo por S. Ex.ª o Secretário de Estado da Aeronáutica – continua o Sr. Reitor – que ele executou mais de meio milhar de missões operacionais e nós, só de pensarmos neste número de actos fatigantes e de grande responsabilidade, apercebemo-nos imediatamente do temperamento forte e indomável do tenente Malaquias de Oliveira, que sabia colocar, acima do cansaço e da comodidade pessoal, a resposta positiva ao apelo da Pátria, que ele considerava como sagrado.

No mesmo louvor regista-se que foi disciplinado, íntegro, leal, correcto e possuidor em elevado grau de devoção pela Pátria e de sólidos princípios morais.»

E o sr. Dr. Orlando de Oliveira termina com estas palavras de homenagem àqueles que moldaram o carácter do jovem herói, e de orgulho pela altíssima obra de formação do liceu de Aveiro: «Nasceu o tenente Malaquias de Oliveira numa Família bem formada, a quem presto a minha melhor homenagem, frequentou a Catequese da sua Freguesia, a cujo Pároco ficou a dever o mais prudente conselho e o mais apropriado rumo, ouviu e aprendeu proveitosamente os bons ensinamentos dos seus professores de instrução primária.

Estes, os primeiros caboucos que eram bons mas não estavam cimentados e coesos, dado a pouca idade do nosso homenageado de hoje.

Foi no liceu, e no liceu de Aveiro que represento, que o menino imberbe deixou de ser criança, passou por adolescente e começou a ser adulto, enquanto o seu carácter, a sua lealdade, o seu espírito de devoto da correcção faziam os necessários ajustamentos às estruturas vindas mais de trás e adquiriam raízes e troncos capazes de suportar flores e frutos como os mencionados.

Permitam-me portanto que o liceu Nacional de Aveiro se sinta orgulhoso do seu antigo aluno e da sua acção formativa sobre os jovens que lhe são confiados.

Foi este mesmo liceu de Aveiro que há dois anos aqui esteve em pranto, a rogar a Deus pelo eterno descanso da alma do tenente Manuel Malaquias de Oliveira.

É este mesmo liceu de Aveiro que hoje eu represento com alegria na consagração do homenageado porque o tenente Manuel M. de Oliveira, morrendo em glória, não morreu. Viveu no passado perante os seus contemporâneos; vive no presente, entre todos nós e nos nossos corações; viverá no futuro, para exemplo dos homens e glória desta Terra.»

Na verdade os heróis não morrem, vivem para sempre na memória dos vivos.

 

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11-06-2018