DA REDACÇÃO
No
Farol de Outubro e Novembro de 1967 foi prestada homenagem ao tenente piloto-aviador Manuel Malaquias de Oliveira, Cruz
de Guerra de 1.ª classe a título póstumo, e antigo aluno do nosso
Liceu. Homenagem justa para quem
soube bem servir a Pátria, dando por ela a vida, e honrar o Liceu
que o instruíra e formara no amor aos grandes ideais.
Natural do Bonsucesso, não o esqueceram os seus conterrâneos que em
boa hora resolveram perpetuar-lhe a memória, deixando para os
vindouros o exemplo do seu heroísmo e do seu sacrifício, afixando,
no dia 12 de Outubro, numa das ruas da sua terra o nome heróico do
tenente Malaquias de Oliveira.
Houve cerimónias e a
presença das autoridades e dos familiares do
bravo aviador. Lá estavam a esposo extremosa e a filhinha
idolatrada. Ambiente de grande interioridade e emoção, a revelar o
elevado civismo do povo da freguesia de Arados. E, depois, a voz do
nosso Reitor que se elevou, para fazer o elogio do tenente Malaquias
de Oliveira. Calaram fundo no espírito dos presentes as palavras
sentidas do sr. Dr. Orlando de Oliveira que, a uma dada altura
afirmou: «assim
também se compreende que me convidassem para eu, como professor que
fui de um dos seus Maiores, estar agora aqui, com um turbilhão de
sentimentos, tristes e jubilosos, a prestar um depoimento sobre o
meu antigo aluno cujo nome, para glória da sua memória abençoada
por Deus, e para honra de seus familiares, ficará para sempre a lembrar o amor de um homem que soube amar
a sua Terra, o espírito de
devoção de um rapaz que soube ser valente, generoso e herói, a lição
de um jovem que teve a coragem de viver a sua juventude no âmbito da dignidade,
da alegria, do estudo e da coragem espiritual».
Mais adiante disse o orador: «Sentiu entretanto o primeiro grande
amor da sua vida e aí vai ele alistar-se na Força Aérea para a
servir com abnegação sem limites, com entrega de si mesmo à causa da
Pátria, em holocausto do qual sacrificou a própria vida.»
E, um pouco depois, o Reitor do Liceu continuou: «Poderia ele
deixar-se embriagar pelas seduções lisboetas, tanto mais cativantes quanto maiores as qualificações dos rapazes
a elas sujeitos; poderia
pensar em não assumir tão depressa as graves responsabilidades de
chefe de família e protelar a realização desse sonho que seria agora
o seu segundo grande amor.
Mas não: como jovem que desejava ser homem, bem consciente
e determinado, resolve cumprir, perante Deus e perante aquela a quem
escolhera para Esposa, as promessas de rapaz brioso, as intenções de
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militar com aprumo e garbo, e vem à sua terra, às paragens de
Verdemilho, Aradas e Bonsucesso... e vem à sua terra, dizíamos,
para levar
consigo outro força de juventude igual à sua, outra alma parecida
com a sua em bondade, em dedicação, em ternura, em amor.»
«Diz-nos o louvor concedido a título
póstumo por S. Ex.ª o Secretário de Estado da Aeronáutica – continua o Sr. Reitor
– que
ele executou mais de meio milhar de missões operacionais e nós, só
de
pensarmos neste número de actos fatigantes e de grande responsabilidade,
apercebemo-nos imediatamente do temperamento forte e indomável do tenente Malaquias de Oliveira, que sabia colocar,
acima do
cansaço e da comodidade pessoal, a resposta positiva ao apelo da
Pátria, que ele considerava como sagrado.
No mesmo louvor regista-se que foi disciplinado,
íntegro, leal,
correcto e possuidor em elevado grau de devoção pela Pátria e de
sólidos princípios morais.»
E o sr. Dr. Orlando de
Oliveira termina com estas palavras de
homenagem àqueles que moldaram o carácter do jovem herói, e de
orgulho pela altíssima obra de formação do liceu de Aveiro: «Nasceu
o tenente Malaquias de Oliveira numa Família bem formada, a quem
presto a minha melhor homenagem, frequentou a Catequese da sua
Freguesia, a cujo Pároco ficou a dever o mais prudente conselho e o
mais apropriado rumo, ouviu e aprendeu proveitosamente os bons ensinamentos dos seus professores de instrução
primária.
Estes, os primeiros caboucos que eram bons mas não estavam
cimentados e coesos, dado a pouca idade do nosso homenageado de
hoje.
Foi no liceu, e no liceu de Aveiro que represento, que o menino
imberbe deixou de ser criança, passou por adolescente e começou a
ser adulto, enquanto o seu carácter, a sua lealdade, o seu
espírito de
devoto da correcção faziam os necessários ajustamentos às estruturas
vindas mais de trás e adquiriam raízes e troncos capazes de suportar
flores e frutos como os mencionados.
Permitam-me portanto que o liceu Nacional de Aveiro se sinta
orgulhoso do seu antigo aluno e da sua acção formativa sobre os
jovens que lhe são confiados.
Foi este mesmo liceu de Aveiro que há dois anos aqui esteve em
pranto, a rogar a Deus pelo eterno descanso da alma do tenente Manuel Malaquias de
Oliveira.
É este mesmo liceu de Aveiro que hoje eu represento com
alegria na consagração do homenageado porque o tenente Manuel M. de Oliveira, morrendo em glória, não morreu. Viveu no passado perante os
seus contemporâneos; vive no presente, entre todos nós e nos nossos
corações; viverá no futuro, para exemplo dos homens e glória desta
Terra.»
Na verdade os heróis não morrem, vivem para sempre na memória dos vivos. |