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farol n.º 29 - mil novecentos e sessenta e oito ♦ sessenta e nove, pág. 4.

O Fugitivo

N. J.
(4.º ano)
 

ROUBEI... Roubei... Tenho que fugir!...

− Oiço passos atrás de mim!... Tenho que fugir!...

Preciso de correr muito!... Apanhar-me-ão!...

Não pode ser! Tenho que correr... fugir!...

Atormentado pela consciência que o fustigava, aquele jovem inexperiente, desgraçado, pretendia escapar. Mas de quem, se ninguém o seguia àquela hora da noite?... Continuava temeroso, assustado, ao entrar na rua estreita, sombria e misteriosa... Tinha medo da escuridão. Ou talvez não. Não sabia bem... Escuta passos novamente e, apavorado, em pânico, permanece imóvel atrás dum carro. Talvez fossem os dalgum ébrio que, mísero como ele, a cada passo tem medo de tropeçar e cair... Mas não eram. Não era ninguém. E, sempre fugindo da própria sombra, introduz-se na rua sem saída. Quando verifica, atónito, o seu descuido, o sangue gela-se-lhe, no corpo fraco. − Uma armadilha!... Estou perdido!... Apanhar-me-ão I Porque roubei?.. Contarei tudo.

Mas, novamente, o medo apodera-se dele e empreende uma corrida rápida, de louco... Nota, porém, exausto, que ninguém o encurralava... Ninguém, sim... Apenas a consciência lhe prendia a alma. Torturado, procurava libertar-se dos seus braços sem, contudo, o conseguir. − Sou um desgraçado... Porquê esses malditos passos?... Porque roubei? Sou um miserável, nunca mais terei paz! Contarei tudo. Não quero ser ladrão!... Não quero que ninguém me aponte a dedo!... Sim, estou resolvido!... Contarei tudo. Ou não. Não sei...

E, dominado por um mar de pensamentos, aquele jovem, desamparado pelo destino, sem saber o que fazer, irresoluto, continuava a fugir daqueles passos... Fugia de ninguém. Tinha roubado.

 

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11-06-2018