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farol n.º 24 - mil novecentos e sessenta e seis ♦ sessenta e sete, págs. 20 e 21.

O PÁSSARO CANTOU

Michie
(5.º ano)
 

A tarde estava linda... Os campos floridos... Os pássaros a cantar... Tudo convidava ao ao sonho e à poesia.

Encostara-me à sombra daquela árvore frondosa e adormecera toda entregue a sonhos fantásticos e maravilhosos.

Piu!... piu!... piu!... Acordo bem disposta, ao ouvir o alegre trinado do passarinho.

Agora, e mais uma vez, observo a maravilhosa paisagem que me rodeia: o verde dos campos matizados de flores azuis, brancas, vermelhas, amarelas...

Ali ao lado, o regato entoa uma canção doce e melodiosa que acompanha o canto embalador dos passarinhos.

Ao longe, nas altas montanhas, as neves eternas esfumam-se, perdendo-se na imensidão do espaço celeste.

...E há um passarinho a cantar...

Canta, dança, saltita de folha em folha.

Nas belas flores do campo vêm poisar miríades de insectos buscando o seu alimento.

As lavadeiras fazem ouvir lindas cantigas, confessando seus amores por um certo vaqueiro da região.

...E o passarinho a cantar...

A guardadora de patos, olha-se languidamente nas águas límpidas, enquanto os patos se banham, e vai pensando: «Sim, um dia ele virá! O meu Príncipe Encantado, montado em seu Pégaso. Eu sei que virá. Sinto-o!».

... E o pássaro a cantar...

De azul claro e luminoso, o céu vai escurecendo a pouco e pouco.

As flores fecham. Os insectos recolhem-se. As lavadeiras cessam de cantar. A guardadora de patos vai-se embora, absorvida / 21 / nas mais belas fantasias românticas.

...E o pássaro a cantar...

O murmúrio das águas do ribeiro parece agora um lamento.

As montanhas, ao longe, acabam por desaparecer no céu azul escuro.

...E o pássaro a cantar...

...E agora tudo se calou como por encanto. O silêncio tornou-se profundo... profundo e total.

Ponho-me à escuta e reparo: ... O pássaro já não canta...

Morreu? Talvez! Deixou de cantar para sempre... sempre... eternamente...

No céu, fulguram milhões de estrelas e a lua mostra-se em todo o seu esplendor.

... O pássaro já não canta...

O sol acaba de se descobrir por detrás das montanhas brilhantes de neve.

A Natureza reanima-se. Tudo se movimenta. Mas algo é diferente...

...O pássaro já não canta...

As flores, já abertas, acolhem com prazer os insectos. Tudo é belo neste dia que começa. Apenas...

... O pássaro já não canta...

Mas... um pouco à minha direita, ouço outro trinado. É a Natureza que se renova continuamente.

...O pássaro já não canta...

Mas... há outro pássaro que sabe cantar.

 

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11-06-2013